Um espaço para expressar, conhecer e reflectir as mais altas, fundas e amplas experiências e possibilidades humanas, onde os limites se convertem em limiares. Sofrimento, mal e morte, iniciação, poesia e revolução, sexo, erotismo e amor, transe, êxtase e loucura, espiritualidade, mística e transcendência. Tudo o que altera, transmuta e liberta. Tudo o que desencobre um Esplendor nas cinzas opacas da vida falsa.
segunda-feira, 29 de dezembro de 2008
Salto sem rede
"Não seria Deus o estado de eu do nada?"
- E. M. Cioran, "Le Crépuscule des Pensées", in Oeuvres, Paris, Gallimard, 1995, p.439.
Desse Nada que também não é o Nada, por ser pura Fecundidade, Primordialidade de todas as potencialidades? O EU, a ser Deus, participará da impetuosidade criativa desse Nada - que é Deus(a) - e, a ser assim, inscreve-se no lugar do tempo, ou ficará fora deste universo?
isso é uma ideia estranha mas interessante. a questão q me surge é o valor... porque a tendência é valorizar imediatamente a existência. eu n sei nada sobre deus, mas entendo a ideia de deus. se calhar a ideia de nada é q é mais difícil :-) mas penso q o nada n pode ser 'localizável' definido por oposição a alguma coisa. eu acho q o nada, esse nada q está junto a deus, dissolve tudo o q quisermos dizer dele. na verdade com deus acontece algo semelhante: tudo o que tentamos dizer d'Ele parece mentira qd o pronunciamos, desajustado.
Não será o ego humano, divino ou humano-divino o véu que encobre o rosto sem feições do incondicionado?
O que é curioso é que "nada", em português e castelhano, vem de "(res) nata", da coisa nascida, como o "rien" francês, que não tem o sentido negativo de "néant", "niente", "nothing" ou "Nichts". Damos o sentido de "nada" à "coisa", des-reificando-a e dessubstancializando-a sem a negar. Não pequena virtualidade filo-sófica, a meu ver... E que, como já apontou Raimon Pannikar, lança uma não pequena ponte para "shunyata", a vacuidade, oriental e sobretudo budista.
Para criar céu e terra e todas as coisas para nosso deleite; e todas as coisas que vergam e todas as coisas que brotam de suas águas; e todas as palavras que se atiram de seus voos abaixo;e todos os abismos que nos despem; e todos os pensamentos que nos alçam. Para criar, enfim, o Homem para que os visse e amasse e criasse ele mesmo os céus e as terras que não existindo, existem, e todos os pensamentos que criam deuses e anjos de luz e filhos e amor. Sim, deus e os homens, não encontram aí a sua diferença. No criar-se e ao criar, cada homem é deus, sim. Para ser nada, o homem tem que abrir as mãos e a mente e deixar que estas se entreguem ao lugar sem tempo e ao tempo sem lugar de que se banha no imo do seu mais proundo não ser. Aí o deus inominado, talvez nos reconheça, e pela memória e em saudade, também nós o reconheçamos a ele, como o nada sem nome e onde todos os nomes também caibam, sem que isso tenha importância alguma ou a tenha toda, indistinta e total.
Cara Saudades, compreendo o que diz e é belo, mas por ser belo temo que não possa ser verdadeiro. Pelo menos não é essa a minha experiência nem a minha linguagem. Só compreendo uma criação sem criador, divino, humano ou outro. Na verdade só compreendo uma criação sem criação. Mal da poesia que se acompanha de poetas.
A minha explosão, chamemos-lhe assim, de beleza, foi, como deve saber, o caminho escolhido para lhe responder, não com a feiura ou a beleza da verdade. Conceitos que, como muito melhor do que eu o Paulo sabe, deixaram de ser entendidos como inseparáveis. Parece-me também que, não sendo a beleza atributo da verdade (vá-me desculpando sempre o manejar canhestro dos conceitos), aquela seja condição de exclusão desta. Compreendo perfeitamente o que pretende dizer. Não nego que no dizer, assim, belo (se o é), houve “manha” no pensar e no dizer, enquanto de um jacto discorria – em criação poética, já se vê-. Por vezes são essas “provocações” que nos levam a clarificações. Há em algum ponto do nosso pensar, já o senti várias vezes, muita convergência e nesta, apesar de não o parecer, alguma havemos de encontrar. Meu caro Paulo, pois se o poeta ele mesmo tem de si se libertar para criar, para onde vai o poeta? Talvez para esse lugar sem lugar do inominado, e só aí a poesia nasce. Não sei se concordará comigo. Havemos de falar mais sobre isto. É sempre um estímulo e um desafio.
Muita cara Saudades, no absoluto não creio que haja ir nem vir, quem venha ou vá, de onde se parta e aonde se chegue, caminho ou caminhante, enquanto no relativo há tudo o que se imaginar ou criar. E absoluto e relativo são tão inseparáveis quanto inconfundíveis. Tal como convergir e divergir. Por isso não é melhor um ou outro. O que é melhor é transcender tudo isto.
Mas se foi mesmo o Paulo que falou em convergir... E tal como o Paulo, entendo que no e para o absoluto não há distinção, nem caminho, nem caminhante, nem mesmo poeta ou poesia. Parece-me que o melhor será ficarmo-nos mesmo pela interrogação que aqui é colocada na citação de Cioran. Nestas questões tão sensíveis - e foi o que não fiz, admito, pondo-me a discorrer sobre a interrrogação mesma, dando razão a Cioran e não expondo o meu ponto de vista. Desenvolvendo apenas uma ideia para provar o seu contrário - contento-me com a interrogação. Não conterá ela em si uma resposta?
Se não, teremos que a encontrar, se formos capazes, de em linguagem racional dela nos aproximarmos, ou de nos transcendermos nisso.
eu do nada...para o revestirmos de tudo, pelos trilhos da crença, e também da razão?
ResponderEliminarfragmentus
"Eu sou o que é" ("Êxodo"): o ego primordial?
ResponderEliminarOra, portanto, o estado do "Eu" do Nada...!
ResponderEliminarDesse Nada que também não é o Nada, por ser pura Fecundidade, Primordialidade de todas as potencialidades?
O EU, a ser Deus, participará da impetuosidade criativa desse Nada - que é Deus(a) - e, a ser assim, inscreve-se no lugar do tempo,
ou
ficará fora deste universo?
isso é uma ideia estranha mas interessante. a questão q me surge é o valor... porque a tendência é valorizar imediatamente a existência. eu n sei nada sobre deus, mas entendo a ideia de deus. se calhar a ideia de nada é q é mais difícil :-) mas penso q o nada n pode ser 'localizável' definido por oposição a alguma coisa. eu acho q o nada, esse nada q está junto a deus, dissolve tudo o q quisermos dizer dele. na verdade com deus acontece algo semelhante: tudo o que tentamos dizer d'Ele parece mentira qd o pronunciamos, desajustado.
ResponderEliminarNão será o ego humano, divino ou humano-divino o véu que encobre o rosto sem feições do incondicionado?
ResponderEliminarO que é curioso é que "nada", em português e castelhano, vem de "(res) nata", da coisa nascida, como o "rien" francês, que não tem o sentido negativo de "néant", "niente", "nothing" ou "Nichts". Damos o sentido de "nada" à "coisa", des-reificando-a e dessubstancializando-a sem a negar. Não pequena virtualidade filo-sófica, a meu ver... E que, como já apontou Raimon Pannikar, lança uma não pequena ponte para "shunyata", a vacuidade, oriental e sobretudo budista.
Caro Paulo,
ResponderEliminarPara criar céu e terra e todas as coisas para nosso deleite; e todas as coisas que vergam e todas as coisas que brotam de suas águas; e todas as palavras que se atiram de seus voos abaixo;e todos os abismos que nos despem; e todos os pensamentos que nos alçam. Para criar, enfim, o Homem para que os visse e amasse e criasse ele mesmo os céus e as terras que não existindo, existem, e todos os pensamentos que criam deuses e anjos de luz e filhos e amor. Sim, deus e os homens, não encontram aí a sua diferença. No criar-se e ao criar, cada homem é deus, sim. Para ser nada, o homem tem que abrir as mãos e a mente e deixar que estas se entreguem ao lugar sem tempo e ao tempo sem lugar de que se banha no imo do seu mais proundo não ser. Aí o deus inominado, talvez nos reconheça, e pela memória e em saudade, também nós o reconheçamos a ele, como o nada sem nome e onde todos os nomes também caibam, sem que isso tenha importância alguma ou a tenha toda, indistinta e total.
NB. Valha-me Nossa Senhora da Conceição!:)
Cara Saudades, compreendo o que diz e é belo, mas por ser belo temo que não possa ser verdadeiro. Pelo menos não é essa a minha experiência nem a minha linguagem. Só compreendo uma criação sem criador, divino, humano ou outro. Na verdade só compreendo uma criação sem criação. Mal da poesia que se acompanha de poetas.
ResponderEliminarGrato pela divergência.
Meu muito caro Paulo,
ResponderEliminarA minha explosão, chamemos-lhe assim, de beleza, foi, como deve saber, o caminho escolhido para lhe responder, não com a feiura ou a beleza da verdade. Conceitos que, como muito melhor do que eu o Paulo sabe, deixaram de ser entendidos como inseparáveis. Parece-me também que, não sendo a beleza atributo da verdade (vá-me desculpando sempre o manejar canhestro dos conceitos), aquela seja condição de exclusão desta. Compreendo perfeitamente o que pretende dizer. Não nego que no dizer, assim, belo (se o é), houve “manha” no pensar e no dizer, enquanto de um jacto discorria – em criação poética, já se vê-. Por vezes são essas “provocações” que nos levam a clarificações. Há em algum ponto do nosso pensar, já o senti várias vezes, muita convergência e nesta, apesar de não o parecer, alguma havemos de encontrar.
Meu caro Paulo, pois se o poeta ele mesmo tem de si se libertar para criar, para onde vai o poeta? Talvez para esse lugar sem lugar do inominado, e só aí a poesia nasce. Não sei se concordará comigo. Havemos de falar mais sobre isto. É sempre um estímulo e um desafio.
Sempre grata, Saudades.
Bom ano para si.
Muita cara Saudades, no absoluto não creio que haja ir nem vir, quem venha ou vá, de onde se parta e aonde se chegue, caminho ou caminhante, enquanto no relativo há tudo o que se imaginar ou criar. E absoluto e relativo são tão inseparáveis quanto inconfundíveis. Tal como convergir e divergir. Por isso não é melhor um ou outro. O que é melhor é transcender tudo isto.
ResponderEliminarUm Ano muito feliz, se o houver.
Paulo,
ResponderEliminarMas se foi mesmo o Paulo que falou em convergir...
E tal como o Paulo, entendo que no e para o absoluto não há distinção, nem caminho, nem caminhante, nem mesmo poeta ou poesia. Parece-me que o melhor será ficarmo-nos mesmo pela interrogação que aqui é colocada na citação de Cioran. Nestas questões tão sensíveis - e foi o que não fiz, admito, pondo-me a discorrer sobre a interrrogação mesma, dando razão a Cioran e não expondo o meu ponto de vista. Desenvolvendo apenas uma ideia para provar o seu contrário - contento-me com a interrogação. Não conterá ela em si uma resposta?
Se não, teremos que a encontrar, se formos capazes, de em linguagem racional dela nos aproximarmos, ou de nos transcendermos nisso.
Um abraço
«coisa nascida». sim.
ResponderEliminarcomme un fou se croit Dieu nous nous croyons mortels.
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