quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

ângelo monteiro, feridos pelo acaso

Feridos pelo acaso nossos olhos
À luz e à profecia estão vendados,
Para Emaús nós caminhamos órfãos
E o coração é cinza nesse ocaso.

Mais do que órfãos, estamos todos mortos.
E eis que irreconhecida luz abrasa
A voz do Companheiro que nos volta
Trazido pelo sonho à nossa casa.

De súbito a presença de uma vela
Acende a sua face. E, em torno, à mesa,
Quando em sua inteireza se revela,

Como um clarão se esvai. De novo sós,
Para manter sua memória acesa,
Elevamos em canto a nossa voz.

(Ângelo Monteiro é um poeta nordestino, nascido em Alagoas em 1942 e residente no Recife há várias décadas. Este poema faz parte do livro O exílio de Babel (1983 a 1989) e foi incluído na antologia pessoal Todas as coisas têm língua)

2 comentários:

  1. A tua voz, aqui por outra voz se escuta...
    Abraço-te de olhar.
    Que os dias te sejam cálices leves, meu amigo, no peso de querermos ser todos essa leveza de asa, pétala do corpo que por certo um dia teremos...

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  2. Grande poema, Francisco! Grande poema! Grande abraço neste novo ano que rompe e rompa a nossa treva!

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