Um espaço para expressar, conhecer e reflectir as mais altas, fundas e amplas experiências e possibilidades humanas, onde os limites se convertem em limiares. Sofrimento, mal e morte, iniciação, poesia e revolução, sexo, erotismo e amor, transe, êxtase e loucura, espiritualidade, mística e transcendência. Tudo o que altera, transmuta e liberta. Tudo o que desencobre um Esplendor nas cinzas opacas da vida falsa.
segunda-feira, 22 de dezembro de 2008
Natal
Desnudas-te em fogo e nasces Deusa no berço das minhas mãos. Ajoelho-me ouro, mirra e incenso. É Natal.
Bom Anónimo, o ajoelhar não tem que ver directamente com o ajoelhar, meu caro, coisa que é sobretudo ocidental e mais sobretudo catolico-romanamente cristã. A maioria dos povos, ou ora de pé, ou prostrado. Coisas bem diferentes. O ajoelhar é coisa que decorre antes da honra, preito, obediência ou vassalagem que a algo ou alguém se preste ou queira vir a prestar. Não confundamos, porém, o calo no joelho com o ardor no coração: assim também não confundiremos certas práticas, que apenas comprometem quem as queira manter, com o uso que se dê à prática de amiúde ser nobre no sentir, pensar, falar e agir, e jamais ser submisso a algo que não a nossa própria honra de ser. Tal como alguém escreveu: importa-nos sempre estar "de pé, sobre os joelhos".
De novo: ..."ajoelho-me (em) ouro, mirra e incenso"...
Perante o Sem Nome, mas não anónimo, estou de pé, ainda que prostrado, tal como me prostro perante uma flor, que a Esse mesmo glorifica... no simples ser, de estar sendo... ela mesma, natal de si...
maravilhoso, Laprey, arrependi-me da brincadeira com este excerto:
"Perante o Sem Nome, mas não anónimo, estou de pé, ainda que prostrado, tal como me prostro perante uma flor, que a Esse mesmo glorifica... no simples ser, de estar sendo... ela mesma, natal de si..."
(só fiquei na dúvida do "estar sendo,...ela mesma, natal de si...")
Caro Anónimo, necessidade alguma de “arrependimento”, aqui. Ao menos de tal jaez. Baste-nos o “arrepio”, para o arrepiarmos caminho… Por vezes, até o excesso e a brincadeira leva as coisas a um limite que lhes estilhaça a casca com que as atamancamos habitualmente da "patine" de inutilidade. Sendo o caso, aqui faço o mea culpa.
Quanto à sua perplexidade em relação à flor "estar sendo, ...ela mesma, natal de si...", direi talvez o seguinte.
O "estar-sendo" do ser da flor “passeia-a” no tempo, qual seu perdurar no a-parecer do que nela jamais se mostra ou mostrará: propriamente, o Ser, o insondável de si. No fio do tempo por que ela passa, repassa-a o incessante "fractal" de mutação vital a que ela está intrinsecamente sujeita, no contexto do Todo do "organismo" da Vida. Na contemplação da natureza, como ela se nos dá, espelha-se em nós algo de nós mesmos, enquanto dadores de sentido às próprias coisas. Assim, a flor, enquanto tal, isto é, enquanto imagem sensível de algo que nós identificamos coma palavra flor, “nasce” em mim a partir do sentido que eu lhe dou, sentido esse que lhe é conferido a partir do que ela me mostra e de como se me mostra. No seu processo de existência vital nas sucessivas fases do germinar, brotar, crescer, florir, dar fruto, definhar e fenecer, a flor em todas elas está no seu intacto "tal-qual-ismo" pleno: está tal qual é. Nisto é que dela é dito que nem Salomão se vestiu como qualquer uma delas, visto que o sábio rei se revestiu de algo que lhe era extrínseco, ao passo que a flor está nua de tudo, revestida apenas de si. Ela não tem interioridade como nós. Ela é apenas o que se mostra e como se mostra, o que apresenta e como se apresenta, como se mostra e apresenta: o que poderá ser aqui ou ali "deficitário" é tão-só a nossa balança de "cognição", que sempre pende entre saber e ignorar, saber no ignorar, ignorar no mesmo saber, e as mais variantes desse "jogo" de reciprocidade. A flor,essa, não se esconde, não se oculta: ela revela, se bem que, como tudo na natureza, nisso mesmo se re-vela.
(Talvez “filosofada” a mais, e elucidação a menos… Que lhe parece?)
Sabe, caro Anónimo (vale para todos eles, menos para um), eu adoro ser dicotómico, e unitómico também.
Tem dias... (e noites também...)
Para tricotómico (não tem nada a ver com tricot, ok?) estou a treinar afanosamente: isto, se aqui a "sociedade anónima" me der uma bela ajuda... como é costume.)
Não se percam em discussões fúteis. Sigam a pista: as três gotas de sangue sobre a neve alva e pura, a poesia que em chamas crepita no coração do gelo, a vida que vem no galope da morte.
Não esqueçam: as três gotas de sangue na mais pura e alva neve!...
Seja a neve de que cor for, sempre o sangue será da mesma tintura: humana.
Seja a alvura a da neve ou da alma, sempre o sangue será da mesma tintura: desumana.
Seja três as gotas, ou mais ou menos do que tantas, sempre o sangue será da mesma tintura: inumana.
Seja quem tal vê tinto ou alvo na alma, no tom alvorado da alba ou no tinturado esbranquecer do lusco-fusco, sempre a tintura será pista para o que não deixa rasto algum.
Sigamos, pois, os indícios do trilho, mas não deixemos que eles nos detenham nem prendam.
“Discutir”, cara Miledh, é apenas não adormecer no caminho, para se poder detectar as três gotas.
Muito bonito!Dourado e sedutor. Eleva à Contemplação
ResponderEliminarMaravilhoso!
ResponderEliminarEste, sim! É Natal e Quinto Império.
apaixonado...adorei!
ResponderEliminarPoeta!!
ResponderEliminar..."ajoelho-me (em) ouro, mirra e incenso"...
É com grande e intenso júbilo que te recebo... Feliz Natal, Casto Severo.
ResponderEliminarse ajoelhou tem de rezar - gabriel o pensador
ResponderEliminarBom Anónimo, o ajoelhar não tem que ver directamente com o ajoelhar, meu caro, coisa que é sobretudo ocidental e mais sobretudo catolico-romanamente cristã.
ResponderEliminarA maioria dos povos, ou ora de pé, ou prostrado. Coisas bem diferentes.
O ajoelhar é coisa que decorre antes da honra, preito, obediência ou vassalagem que a algo ou alguém se preste ou queira vir a prestar.
Não confundamos, porém, o calo no joelho com o ardor no coração: assim também não confundiremos certas práticas, que apenas comprometem quem as queira manter, com o uso que se dê à prática de amiúde ser nobre no sentir, pensar, falar e agir, e jamais ser submisso a algo que não a nossa própria honra de ser.
Tal como alguém escreveu: importa-nos sempre estar "de pé, sobre os joelhos".
De novo: ..."ajoelho-me (em) ouro, mirra e incenso"...
Perante o Sem Nome, mas não anónimo, estou de pé, ainda que prostrado, tal como me prostro perante uma flor, que a Esse mesmo glorifica... no simples ser, de estar sendo... ela mesma, natal de si...
maravilhoso, Laprey, arrependi-me da brincadeira com este excerto:
ResponderEliminar"Perante o Sem Nome, mas não anónimo, estou de pé, ainda que prostrado, tal como me prostro perante uma flor, que a Esse mesmo glorifica... no simples ser, de estar sendo... ela mesma, natal de si..."
(só fiquei na dúvida do "estar sendo,...ela mesma, natal de si...")
que o Bem o proteja sempre em Sabedoria e Amor!
Vocês não se curam!?
ResponderEliminarNão, Dr, o que cura não carece de cura.
ResponderEliminarBesides, we feelgood, Dock!
Caro Anónimo, necessidade alguma de “arrependimento”, aqui. Ao menos de tal jaez.
ResponderEliminarBaste-nos o “arrepio”, para o arrepiarmos caminho…
Por vezes, até o excesso e a brincadeira leva as coisas a um limite que lhes estilhaça a casca com que as atamancamos habitualmente da "patine" de inutilidade.
Sendo o caso, aqui faço o mea culpa.
Quanto à sua perplexidade em relação à flor "estar sendo, ...ela mesma, natal de si...", direi talvez o seguinte.
O "estar-sendo" do ser da flor “passeia-a” no tempo, qual seu perdurar no a-parecer do que nela jamais se mostra ou mostrará: propriamente, o Ser, o insondável de si.
No fio do tempo por que ela passa, repassa-a o incessante "fractal" de mutação vital a que ela está intrinsecamente sujeita, no contexto do Todo do "organismo" da Vida.
Na contemplação da natureza, como ela se nos dá, espelha-se em nós algo de nós mesmos, enquanto dadores de sentido às próprias coisas.
Assim, a flor, enquanto tal, isto é, enquanto imagem sensível de algo que nós identificamos coma palavra flor, “nasce” em mim a partir do sentido que eu lhe dou, sentido esse que lhe é conferido a partir do que ela me mostra e de como se me mostra.
No seu processo de existência vital nas sucessivas fases do germinar, brotar, crescer, florir, dar fruto, definhar e fenecer, a flor em todas elas está no seu intacto "tal-qual-ismo" pleno: está tal qual é.
Nisto é que dela é dito que nem Salomão se vestiu como qualquer uma delas, visto que o sábio rei se revestiu de algo que lhe era extrínseco, ao passo que a flor está nua de tudo, revestida apenas de si.
Ela não tem interioridade como nós. Ela é apenas o que se mostra e como se mostra, o que apresenta e como se apresenta, como se mostra e apresenta: o que poderá ser aqui ou ali "deficitário" é tão-só a nossa balança de "cognição", que sempre pende entre saber e ignorar, saber no ignorar, ignorar no mesmo saber, e as mais variantes desse "jogo" de reciprocidade.
A flor,essa, não se esconde, não se oculta: ela revela, se bem que, como tudo na natureza, nisso mesmo se re-vela.
(Talvez “filosofada” a mais, e elucidação a menos… Que lhe parece?)
Parece muito bem, mas a flor parece melhor.
ResponderEliminarcaro Lapdrey tem 1 visão dicotómica da realidade, você não vale mais que a flor, só porque pensa!
ResponderEliminarSabe, caro Anónimo (vale para todos eles, menos para um), eu adoro ser dicotómico, e unitómico também.
ResponderEliminarTem dias... (e noites também...)
Para tricotómico (não tem nada a ver com tricot, ok?) estou a treinar afanosamente: isto, se aqui a "sociedade anónima" me der uma bela ajuda... como é costume.)
Não se percam em discussões fúteis. Sigam a pista: as três gotas de sangue sobre a neve alva e pura, a poesia que em chamas crepita no coração do gelo, a vida que vem no galope da morte.
ResponderEliminarNão esqueçam: as três gotas de sangue na mais pura e alva neve!...
Cara Miledh,
ResponderEliminarSeja a neve de que cor for, sempre o sangue será da mesma tintura: humana.
Seja a alvura a da neve ou da alma, sempre o sangue será da mesma tintura: desumana.
Seja três as gotas, ou mais ou menos do que tantas, sempre o sangue será da mesma tintura: inumana.
Seja quem tal vê tinto ou alvo na alma, no tom alvorado da alba ou no tinturado esbranquecer do lusco-fusco, sempre a tintura será pista para o que não deixa rasto algum.
Sigamos, pois, os indícios do trilho, mas não deixemos que eles nos detenham nem prendam.
“Discutir”, cara Miledh, é apenas não adormecer no caminho, para se poder detectar as três gotas.
(Demais, tudo é poético, mas nem tudo é poesia!)
Obrigado.
Tudo é poesia, em espírito pacificado!
ResponderEliminarnão responde Lapdrey?
ResponderEliminar2-1
anonimo-Lapdrey