A leitora, chegada a hora tardia da luz, ergue-se para retornar à orla, à clareira por onde entrou. No chão, coberto de folhas húmidas, perscruta o rio por onde entrou, tenta recuar na corrente, voltar a andar, cessar de divagar para, devagar, chegar com o remo amarelo à margem do rio a que se entregou. Na atmosfera, cruzada por pequenas borboletas brancas e transcorrida por negros morcegos delirantes, persegue, ou tenta deslindar, uma linha branca inexistente, um nevoeiro reorientador do porto solitário de onde embarcou. Nas árvores, interrompida a relação com a luz, procura um raio obsidiante de sol retido nos ramos, uma estrela intrusiva perpassando a trama cerrada das folhagens. Afastada da clareira, e de súbito fechada nas ogivas da floresta-mosteiro, a leitora sente que em todas as árvores anoitecidas, contornadas de silêncio e sombra, está prometida e sustida a figura desejada e recordada de um farol. Sorri, distraída do medo, das formas metafóricas com que a ideia de luz apazigua o desnorte, a assombração e o estado de incompreensão em que cai depois do texto ter sido o pretexto para a paragem e não mera passagem pelas estações.
Caída, perdida da razão, sem o raio, a estrela e o foco, a leitora, encostando o corpo ao tronco-raíz da árvore, mas com o espírito a uma majestática altura – o que escreveu o poema teve que subir, escreveu a Gabriela, ao cimo da árvore para recolher luz para o poema; a luz, no cimo da árvore, é a sua clorofila; a árvore o lugar da direcção do poeta – procura o Plátano. A leitora sente os pés humedecidos pela via do rio mas procura o desvio para o olhar ruborescido pela luz do poema. Afinal, a leitora, chegada a hora tardia da luz, queda-se porque não deseja partir e prefere ouvir. No poema a luz é uma voz. E ela vem do alto e não cessa, nem à noite a luz do poema deixa de orientar a que olha para o cimo. O imo é o cimo. No cimo do Plátano, os versos são como ramos que rumorejam e as sílabas aves que reluzem. A árvore do poeta é uma pauta e o poema uma orquestra de flautas. A leitora, tocada e tocadora do poema, tem agora um rosto feito de texto e na sua pele estão, sem que o saiba, as folhas que fundam Parasceve. Parasceve, a cidade humana que se funda, depois de descer do Plátano, não é como as outras cidades que se opõem ao campo. Parasceve é a cidade-canto. Agora a leitora abandona a corrente, escuta a voz que a chama da luminosidade em torrente. E o ramo do irreparável, o ramo dourado ou incendiado do Plátano, não sabe e não distingue, traça no vento ou na música, um ritmo, uma rima com a qual ela enfeitiçadamente confraterniza e se internaliza. O ramo tem no corpo o verbo em modulação. A leitora rendida, ainda que não entretida, não entrega o corpo ao Plátano: não sobe; mas entrega-se de vez na voz e delira.
O poema desce para subir, na voz; nasce para se modular, no canto; expõe-se para reparar a ausência do símbolo perdido, no sentido. É no cimo do Plátano que está o fulgor, é no ramo que tem braços que está o par; é no sentido que está a síntese da semente e da folha. Tocada e tocadora do texto, a leitora iluminada e musicada, troca o rumo pelo rumor e não é o som do rio o que a trespassa, é o ritmo que a perpassa; a leitora em estado de síntese, ou fotossíntese, abandona o passo e a passagem e, na paragem pelo bosque, da raiz até ao cimo que é imo do Plátano dourado ou incendiado, transforma a quietude da árvore, contornada de silêncio e sombras, em devir. Lembra-se de ter lido-ouvido na Gabriela qualquer coisa como o que escreve não tem percurso, vai num decurso libidinal e tem que repor a continuidade. Extasiada, a leitora não encontra a frase nem o ramo, escuta as aves, pontos de luz, e o texto renasce na sua voz como uma pequena fonte, e a voz liberta um gérmen reprodutivo que fecunda o texto. A voz feminina reproduz um sentido masculino que se oferece amorosamente à leitora do poema. Um fio de água insinua-se no interior da leitora, um fio de luz tomba da cabeça esbranquiçada de Hölderlin do cimo do Plátano e um fio de frio, um calafrio, anuncia a sombra da Gabriela que sai do Carvalho em frente para escrever, dar continuidade ao dito. De súbito sabe que veio pela corrente do Reno e sabe que o poema está espalhado como um desejo incontido pelo corpo que ela prende no fechamento dos lábios e dos dedos das mãos. Um espasmo silencioso petrifica-a. A leitora é uma estátua nua de espanto e pranto. A leitora não se move, comove-se.
O que escreve, e o que escreve tem no corpo um manto e na voz um mantra, mais não faz do que cobrir e difundir. O que escreve difunde, quer dizer, permanece à espera de quem escreva com ele, em desejo libidinal, esperando a criação, isto é, cobre a leitora de prazer e formas. Cantar é outra forma de difundir e expandir desejo e prazer. Rejubilar. A Gabriela repete estas palavras quando passa perto, por dentro da leitora nua para a cobrir e revestir com os outros textos. A leitora tem uns na alma e outros no corpo: camadas de húmus desejante e fertilizante revestem-na. Nela o húmus não vem do solo, mas do sol, não se forma pela decomposição, mas pela composição. Por isso, dentro dela, como dentro de quem lê, não há senão o avanço da luminosidade livre em torrente e da memória em estado ardente.
Na leitora, o estado de compreensão do texto a que se eleva, do texto para além do contexto, condu-la a um contacto unificante. Na leitura compreensiva há uma unidade indiferenciada da leitora com o texto. O texto é um outro que não se procura como território para possuir, mas para se fruir e fluir. A unidade da leitora com o texto é a continuidade prometida do poema como criação e a continuidade do poema com o mundo. O poema é igualmente o rio a que uma alma pertence. Ipseidade e alteridade não são conceitos ou outras fixações, são evasões, libertações, modulações, propagações. A leitura não é um acto, é um pacto. Um pacto apaixonante e contagiante. A leitora abala as raízes do corpo sentido mas abala, depois do corpo lido, florida e rejuvenescida. A leitura é um toque de amor perpetuante. Por isso a visão do amor despertada pelo texto é um abalo originante e fecundante. Ler não é senão um canto operante e transformante. Em breve, como os filhos do ancião na Cantata Profana, a leitora se tornará em corça que não abandonará as profundezas do bosque. E, como as corças, responderá aos meramente humanos que Parasceve é uma cidade bosque, uma cidade canto e uma cidade pranto que se espalha por todas as criaturas. A cidade dos que, lendo o poema, procuraram o Ensaio para prolongar a voz do poema mais do que a do seu autor. A Gabriela afastou-se, mas decerto só a esta comunidade retornaria. Ela escreveu, todas as forças da natureza que o poema suscitava, comentava e ensinava a ser, se coligavam para estrangular a voz. Entre a voz e o poema, escolheria a voz. Parasceve não é uma comum cidade humana, é uma incomum cidade de cantores, leitores cantores, uma comunidade para os que, amando o espírito do poema, lhe emprestam a voz e a voz é o seu corpo vivo, a sua matéria inflamável, como no enlace do poema com o olhar da leitora. Do poema e de tudo que, viva e ardentemente, toca o olhar do cantor-legente, também a natureza em estado de poema. A leitora torna-se em tudo aquilo que é tocado pela palavra que sai do poema, é uma estátua meta e polimórfica que se deixa tocar pelo que se aproxima do alto e de dentro. Esta noite a leitora vai com as corças porque ela não pode voltar a ser humana nem doar o poema aos que apenas o são. Com as corças, os veados, as gazelas, o que for, ela aprendeu a responder: quem bebe a água que brota da Fonte Pura não bebe nem pela boca nem pelo copo em que bebem os humanos. O poema bebe-o e brinda-o o espírito em estado puro. Parasceve não é um estado político, é um estado de alma. E a alma é uma folha com asas e é por isso que as estátuas parecem cantar e encantar. Quem as olha torna-se no que olhar, porque ler não é só cantar e religar, é também profanar. As corças de Bartók sabiam-no e por isso não regressaram. Como elas, a leitora olha-nos de uma forma não mais somente humana.
Agradeço a imagem que foi incitante à Ana Moreira. Porque a Ana olha-nos como a leitora, mas agradeço, após um ano, a todos os que se constituíram, de forma velada ou desvelada, una e múltipla, ortónima e heterónima, como comunidade de leitores. A "Serpente" fundou uma comunidade de leitores que, umas vezes mais do que outras, nos direcciona para o deserto, o lugar onde o espírito ultrapassa todos os limites. Bom ano e obrigada pelas vozes a que chamei, há muito, cantografia. Ao Paulo, e porque esta é a sua casa, entrego o texto. E a todos oiço com a folha deixada em branco pelos Anjos de Rilke.
S U B L I M E!!!
ResponderEliminarnada + direi, até pk sei q há quem o faça com veemência, citações, num diálogo certamente maieutico...
eu apenas me rendo à sublime luz destas palavras, metáforas plenas de sabedoria!
Isabel, saudavelmente invejo...
Grata pela divina partilha :)
Um abraço
Que lindo!
ResponderEliminareu não tenho, não tive, nunca terei as palavras certas...
ResponderEliminarIsabel F.A.N. o mesmo é dizer, Feliz Ano Novo!
Isabel !!
ResponderEliminarEu não direi como Goethe:"Mais luz! Mais luz!".
Direi como ... eu: "Tanta luz! Tanta Luz!"
(...quanto mais me cega, mais se me mostra...
... quanto mais me mostre, mais me assombro...
... quanto mais me assombra, mais me deslumbro...!)
Não já direi como eu.
Direi, Isabel:
"A leitora olha[-me] de uma forma não mais somente humana".
Não mais somente humano doravante sou ...
P.S. A Parasceve irei, Elisheba, a Parasceve:
"esse imo [que] é o cimo"... de onde o "poema desce para subir, na voz..."
Abençoado o canto das palavras e das coisas quando assim nos conduz ao deserto de todos os encantos!
ResponderEliminarGrato, Isabel.
Chegada a hora tardia da luz...ai Isabel, assim não posso, não posso!
ResponderEliminarmas fui, fui até onde tudo começou, recuei até um pouco antes de tudo começar
tão antes, tão antes que avancei afinal. Ah, as ogivas da floresta-mosteiro... Não posso mais Isabel.
Mas espera! falaste em deserto? Olha que eu não aguento tanta sombra fecunda.
Sorrio-te... mas não estou a brincar.
Isabel,
ResponderEliminarO que é, cose-me a boca. E preparo em mim, como para boda, como para e celebração profunda, o silêncio que sempre me há-de companhar, ou as poucas palavras que não invento. Para sentir Parasceve, uma voz oiço. Mas sei que o silêncio sempre me cobrirá.
Nada mais posso dizer... Preparo a minha alma.
heidegger,ó Isabel velados somos todos, des-velados alguns. e agora disse.
ResponderEliminarbomano.
Belíssimo. Comovente.
ResponderEliminarTão familiar, tão próximo, tão íntimo… É “aquele” bosque, daqueles seres… Entro nele, silenciosa, atravessando a ponte imperfeita, perigosamente húmida e escura, a horas tardias. Sempre. Sou abraçada e engolida pela vegetação selvagem, mas não há medo … Nunca!
Sabes do que falo, Isabel, não sabes? Amo esta floresta/bosque.
Recebe um beijinho
“Se eu me concentrar num fragmento do tempo, agora, esse fragmento revelará todo o tempo” (Maria Gabriela Llansol).
ResponderEliminar- Gabriela por certo profetizava aqui da leitora que, a cada passo (e não caminha ela: voa!), se ergue para “retornar à orla” do mais fúlgido espanto. -
Revisito, Isabel, as ogivas oclusas, rasto da alvura de Holderlin nestas silentes e arbóreas preces sem memória. (O que é eterno, em verdade, dela não carece.)
Cumprindo o eco da voz de Gabriela, consente-se-me ser aqui “pedra-pássaro que voa”, a cada passo ousado mas cuidadoso em que, pela mão da leitora deslumbradora, sou levado por onde as mãos não alcançam e os pés mal ousam roçar.
As nervuras do chão denunciam as sagradas presenças que aqui habitam, soltando ao longo das artérias vegetais do húmus, em perene murmúrio, um ténue perpassar de asas que se planta, naturalmente infindo, ao longo do caminho que aqui desconhece encruzilhadas.
Quisera eu permanecer aqui para sempre.
Aqui, os fios de luz, intocáveis num beijo de boca selada pela verdade sempre jovem, adejam de matinal frescor as águas que, caindo como pétalas eternas em fino gotejar, tão amavelmente amiúde assomam ao olhar (maior que o próprio rosto) da leitora que me descreve o que um dia, ah, quisera, hei eu de ser.
De uma outra viagem seria ela Virgílio, se eu fora Alighieri.
Dela, nauta de si, é a viagem sem mapa, da “restante vida” - ela, que é irmã das corças que a ninguém (ou quase) é dado ver, filha dos luares de Agosto que atravessam todas as febres, irmã dos cantores sem par.
Sem par porque jamais ela está só: porque sempre nela está, insólita, a soledade de cada coisa saudosa.
Por isso aqui, não mais, não mais é somente humana aquela cuja “alma é uma folha com asas”: de se ler.
Abraço sem nome…
Quando a palavra é Dezembro,
ResponderEliminarHá morte de cheiros no ar.
Há limpidez , há assombro...
E no dia em que a noite vence,
A claridade nasce dentro das bocas
Mais luzente que a luz solar
Deve ser por isso que os doidos não páram de cantar...
ResponderEliminarTalvez, talvez...!
ResponderEliminarE talvez, por isso também, os ocos não parem de vozear.
Um bom ano para si: se possível, bem oco, não é? Claro!
Se fosses o eco em vez de oco, ela cantaria muito mais... E para esta festa venham todos! É final de ano, é Folia de Ano Final!
ResponderEliminarÓ Oco, transforma-te lá em eco e vem connosco!
Ohh que eco há qui!
ResponderEliminarQue eco é?
É o eco que há aqui!
O quê, há eco aqui?
Há eco há!
Hoje regresso aos teus bosques, Isabel, que são também os meus. Nos nossos bosques há sons encantados que nos chamam. Como são estes sons, Leitora?
ResponderEliminarQuerida Isabel,
ResponderEliminardeslumbrante como a Isabel sempre (me) é.
Um abraço forte e terno.
FrAgMenTUS,
ResponderEliminarnão lhe ofereço fragmentos de gratidão pelo excesso do que disse, ofereço-lhe a minha alegria inteira por ter lido um texto tão grande. O sublime não é para mim, é para a Natureza naturante e transformante. É para as Asas e para o Sonho. Bom ano de 2009!
Rapariga que roubava livros,
"Que lindo!" É um eco de onde? Já sei, já sei...dos Jardins, ou da Ninfa que amava e não era amada? Eco em mim de gratidão que vem já de cima, do que senti pelo que escreveu FrAgMenTUS. Bom ano de 2009!
Vergílio,
pois eu sinto que disseste, dizes e dirás sempre bem, de uma forma que me faz sempre baixar os olhos e perder a capacidade de realizar a fotossíntese, fico vermelha! Que bom que tenhas gostado...e tenhas a bondade de falar com o que escrevo e sou. Feliz Ano Novo para ti.
Lapdrey,
Eu direi como Dante:
"eu tinha os meus pés naquela parte da vida onde não se pode ir com a intenção de regressar."
Mas sei bem quem lá encontrar. Todas as suas palavras são excessos vertidos para o que escrevi, mas deve ser do Inverno, de Dezembro, sinto-lhes o quente com que a alma sente as brasas dos que com ela falam a mesma linguagem. Ai o Virgílio...e a Morte de Virgílio...! E peço-lhe, pois então, que seja atento e cuidador leitor-cantor. Pois poeta já é...e nisso tenho o grato privilégio de ser eu sua leitora cantora. O abraço sem nome abre o baile dos espíritos que se reconhecem pelo olhar. Que 2009 lhe seja muito favorável!
Paulo,
...que silêncio que me vem do medo! Que o ano seja auspicioso para si!
Luiza,
chegada a hora decaída da luz, declino-me na cadeira. E escuto o fundo fundante de tudo o que em ti é súbito, aclarante e declarante. Declaro que te trago para certos nichos do bosque. Há murmúrios que são só para ti. O resto já to disse...os votos são velas acesas para te abençoarem de bem e mel.
Saudades,
Parasceve está em si! A saudades funda Parasceve. Que seja um ano prodigioso e mágico.
Baal
obrigada por ter vindo de tão remotamente de onde sou, até aqui, passando por Heidegger. Leve os meus votos de Bom ano; muito grata por tão belo nome de legente ter e tão breve ser no dizer que me paralisa nos caminhos do ser. Que 2009 seja bom!
Brunhild,
a das tranças que se fazem e desfazem, as tuas tranças são a hera que trepa pelo Plátano! Não haverias tu de te sentir achada por aqui?! Vá lá vai...alguém que se não perde no bosque! É já uma raridade, e que para ti o ano seja raro de bom, belo e grande!
Ana,
Ana, Ana as tuas palavras sulcam nervuras na folha com asas! E ando a desenhar a folha daquela árvore que te ampara...e que ainda foi mais incitante.A mais bela árvore sem bosque, espero eu conseguir falar com ela algum dia. Um ano cheio de bons augúrios, tu que tanto gostas da palavra, recebe-a aberta em seu bem-dizer na tua vida em 2009.
Oco,
Oco eu sou louca! E cantar e cantar é mesmo o meu ofício. Se fosse o de encantar, encantar...seria fada. Assim sou só madrinha! Obrigada por se ter metido comigo e connosco e traga o Eco ou aceite o convite do Eco, talvez consigamos formar um coro semi-trágico.
Bom ano ao Oco e ao Eco.
Som Encantado
depois pode ser...? Mas o som diz-lhe "muito bom ano novo!"
Anita,
que saudades! Também te abraço deslumbrada com a tua presença neste bosque difícil, nesta impossibilidade que sou! OLha sabes o que te desejo? O melhor dos anos para a tua vida!
Um sorriso muito grato a todos e sejam feliiiizes...
O eco é de um mundo em que os pós perlimpimpim ainda voam por ai!
ResponderEliminarUm 2009 repleto de tudo o que mais desejar!
Para todos feliz ano!
Dedico-te, Isabel, um toque de que falas com o pouco Amor (nunca será o suficiente para Amar) que trago no meu coração.
ResponderEliminarÀs Sereias* é-lhe vedada a possibilidade de Amar, segundo dizem... porque os velhos textos e as demais descrições antigas (supostamente as mais reais e verdadeiras) dizem que as Sereias tentavam seduzir os homens e depois os matavam com o seu canto.
Não nasci Sereia* tornei-me Sereia* por opção minha e decisão do Universo que me deu vida, mas sempre carrego comigo este peso do Amor. por isso, sempre que canto, canto baixinho para ninguém me ouvir...
Ora, não podendo (nem querendo) ser mais do que sou, dou por mim a ler o texto e a ser uma espécie de leitora. Aos poucos, vou começando a Amar as palavras e consigo chegar a uma qualquer margem para me sentar e ler o texto que partilhaste.
Depois de ler tudo, fiquei calada. Tu não sabes, mas eu digo: fiquei em silêncio.
E a água a correr numa corrente cega até ao Mar. Cega como todas as correntes.
Não consigo dizer mais do que isto e nem queria dizer nada depois de te ler. mas também não consegui.
OBRIGADA é pouco e, no fundo, eu sei que foi de boa vontade, Isabel*
Recebo esse toque Sereia e hoje aclaras tudo. Hoje não te convido para passear junto ao Mar, hoje entraria contigo adentro pela escrita. E cobrir-te-ia de folhas de hera e com musgo. É só porque tnho medo de te magoar que o não faço, mas hoje percebi tudo e o teu toque fez-se luz em mim.
ResponderEliminarSereia
Recebo-te com o melhor que me peças desde que compreendas como sou capaz de te abraçar, neste momento, mais do que contigo falar. A maior dádiva é ler. O silêncio a que te referes é para um dia te contar. Mas as gaivotas sabem o que é. Elas são as "guardiãs do silêncio". Elas chamam-te para a sua morada e para a sua tarefa ontológica. Vai com elas, mas volta, tenho ainda muito para te entregar.
Sim, esse abraço eu recebo, Isabel.
ResponderEliminarHoje, junto o meu peito ao teu.
E podes sempre cubrir-me de musgo e de heras.
O musgo é o abrigo das rochas, das pedras que nas serra habitam. cobre-lhes as costas nos dias e nas noites em que a humidade das lágrimas do Universo se faz sentir na Terra.
As heras, são corações verdes. Às vezes, perdidas sobem os muros à procura dos seus peitos. Outras vezes, crescem em grupos de corações selvagens e quem os encontrar pode ter, para sempre, em sua vida um coração.
Como poderás tu magoar-me, Isabel, se me cobrires de musgo e de heras?
Vou fazer o que me dizes.
Vou seguir o voo das gaivotas.
Sim, elas sabem.
Ouço muitas vezes elas conversarem numa língua que não consigo decifrar e que não me atrevo a aprender, só para poder continuar a ouvi-las, só para poder continuar a sonhar à beira-mar*
Voltarei, então, Isabel*
"O melhor dos anos para a tua vida!"
ResponderEliminarÉ com todo o meu apreço que o recebo (ao seu desejo), mas só será o melhor quando não for o melhor dos anos para a minha, mas para a Nossa... Vida.
Um sorriso.
Acolho suas palavras, Isabel, como quem recolhe, sederento, água no deserto.
ResponderEliminarCom a mesma sede e a mesma gratidão.
Não sabe, não pode saber, amiga de tão alto verbo, o quanto essas palavras do imenso Dante são espelho de percursos que, por decisão e alguma cisão de mim vou caminhando no viver com olhos, coração e elmo do corpo focados na melodia que desde sempre em surdina em mim se escuta, clamando também por mim: alhures sempre, como se fora no mais próximo.
"Atento e cuidador leitor-cantor", serei, sim, amiga.
Em seu ler-me, me leio.
Lendo-a, mais me lê.
Que a novação dos dias, que se aproxima, seja em si renovo de tudo aquilo que tanto mais espelha o dia, quanto nisso se veja de luz os melhores luares.
Belo texto, de uma luz sublime, sim, rara e não muito visível...
ResponderEliminarTambém eu um dia terei cabelos brancos de Hölderlin que me nascerão do Plátano.
ResponderEliminarAté lá vou escutando Aqueles murmúrios ... Abraço o Plátano, a Ana [Moreira] e a ti com a mesma força. A da seiva que faz até renascer os mortos.
Bom Ano a todos os Emplumados!
Tocante!
ResponderEliminarToca-me o que sobrou de "ante" para si. Espero que tenha sido do estado cantante. Também canto, com o coração puro, para si "Bom ano".
ResponderEliminarObrigada por ter lido.
Querida Isabel,
ResponderEliminarvoltei hoje aqui, ao seu (en)canto... e fiquei com muita curiosidade sobre o livro de Gabriela ao qual pertencem as citações que no texto colocou.
A que a guarda bem no coração,
Anita.