Senhora do mar, Senhora da esperança!
Nas tuas mãos deposito a minha vida
E nada é ela para o esplendor do teu manto
E tudo em ti me chama e inflama
Senhora do templo do alto da falésia!
Tu que olhas com olhar branco o branco das gaivotas
E a luz que há no mar, quando a lua se deita em tuas águas
Para recordar o sereno espelho do mar renascido
O teu cabelo liso debaixo do velho manto de terra
Abre a flor do jasmim e fecha no meu quarto a saudade florida.
Nas tuas mãos deposito a minha vida
E nada é ela para o esplendor do teu manto
E tudo em ti me chama e inflama
Senhora do templo do alto da falésia!
Tu que olhas com olhar branco o branco das gaivotas
E a luz que há no mar, quando a lua se deita em tuas águas
Para recordar o sereno espelho do mar renascido
O teu cabelo liso debaixo do velho manto de terra
Abre a flor do jasmim e fecha no meu quarto a saudade florida.
Canto o perfume, o ar que há nos vales do mundo,
O verde do pasto que apascentas cedo, Pastora do silêncio!
Antes da aurora! Criadora do mundo e dos fios de luz
Que nos montes se estendem e tecem filigranas e sílabas
Vento cantante nas fontes que te cantam e louvam
Antes da aurora, o teu silêncio eleva, e o chão é um caminho
Fundo para lembrar a origem e o fim
Nesse ponto brilhante em que tudo brota de si mesmo,
Oiço a tua voz correr pelos campos, como um sopro de mel
Para as abelhas de luz beberem do teu canto.
Tu que atiras para a montanha as palavras gastas
E fazes do torrão de terra a magia do trevo e do tear
Ensina-me a bordar o teu nome nas águas moventes
Em que me perco e me estranho de tudo o que me lembro
Para te chamar sem som, para te olhar na distância;
Para te ver caminhar em mim sobre as pedras que piso
Sobre os grãos desta fala semente de paz e de consolo
Senhora do mar, eu não existo senão para contemplar
O milagre dos peixes que salgam no mar a incorrupta voz
Das sementes que se abrem no teu canto infinito
Senhora da Esperança, eu espero! E na espera hás-de chegar
Senhora do mar que havia! Ensina-me a cantar!
Abre o meu coração nessa gruta de corais e pérolas e peixes
E pára os cavalos do meu peito, para que não caiam do alto
Da falésia, no ventre fervente desse mar mercuriano e de vertigem viajante;
Dessa prata dos ventos e movimentos brancos e rugidos fortes
Dentro do meu coração. Pacifica, Senhora da luz ausente,
O mar que ruge e o pescador que o bebe na morte, a cada instante.
Tu, que na visão das rosas, és mátria do mundo, dissolve a concha
Dura do pensamento enquistado na dor absoluta das minhas lágrimas.
Senhora do Mar! Rainha da Esperança, mãe de todos os que se demoram
Na terra e no mar, enche o meu peito da tua doce voz!
Dá ao vento o eco do teu silêncio e permanece nele até ao fim dos tempos.
Até ao fim do fim, para que o lembre no sono e na vigília;
Para que viva em mim o sussurro das tuas águas
E eu possa ouvir o mar, neste deserto. O mar sem cores e sem bandeiras;
O mar, Mar do teu nome, de todos os nomes de atlânticos e pacíficos oceanos
O nome do cálice que provámos e de onde bebemos a finitude do fim
A aurora mais pura da tua grande perda, ó mãe de todos os famintos de ti;
Ó Sol de toda a esperança! Enche-nos o peito do teu cantado choro
Derrama o teu sentido e sereno olhar sobre a terra e sobre o mar
Senhora da Luz dos dezembros da alma,
Pacificadora dos tempos e das suas mudanças;
Mãe do Universo, arca dos segredos do mundo,
Mãe de Portugal e do Mundo, livrai-nos de nós!
Pacificadora dos tempos e das suas mudanças;
Mãe do Universo, arca dos segredos do mundo,
Mãe de Portugal e do Mundo, livrai-nos de nós!
Isso, livrai-nos de nós! Amen
ResponderEliminarBelo poema, como sempre! Permita que nele leia, com gratidão, a invocação da eterna matriz de todo o Despertar.
ResponderEliminarPara lá da belíssima louvação daquela que nomeia (e eu, mais desconfessionadamente, venero) “Senhora do mar, Senhora da esperança”, “Senhora do templo do alto da falésia”, “Senhora da Luz dos dezembros da alma”, “Mãe do Universo, arca dos segredos do mundo”, “Mãe de Portugal e do Mundo” que fita “com olhar branco o branco das gaivotas e a luz que há no mar”, permita-me, cara alma irmanada na saudade de ser futuro, salientar aqui o nobilíssimo chão que poeticamente pisa e, porventura, outrossim alguns de nós aqui.
ResponderEliminarEm suas tão precisas e preciosas palavras, “de chama perfumada”: “caminho fundo para lembrar a origem e o fim nesse ponto brilhante em que tudo brota de si mesmo”.
Restituamo-nos a nós, pois … no que em nós jamais estará, por certo: não é de nós, não, mas para nós é…
Se eu soubesse rezar, se eu soubesse orar como este poema...teria uma visão assim: enlevada, redentora, pacificadora.
ResponderEliminarSe eu soubesse ver para além de olhar, se eu soubesse invocar o que está para além do que sinto, no que pressinto, seria uma voz perdida no canto, no vento de prata, no manto de luz, nos versos enlaçados na Beleza suprema do que se vê com e dentro dessa alma que os escreve: a sua, a sua alma de filigrana, de uma origem originante. Mal aprendi ainda a ser amadora do pastoreio do silêncio, mas é com alegria e contentamento que sou guiada até esses lugares antes do inicio, como diria o Quignard, para ver através do que aqui leio, aqui sinto soprado. E mais, queria ser uma "abelha de luz" e não dizer, e depois de passar por esta oração, por esta prece de saudade infinita, queria melar as feridas dos que padecem no mundo, e não falar, apenas cantar estes versos. Só assim Saudades, poderia não existir...
Mas l~e-la é quase consegui-lo.
Caros Anónimo, Isabel e lapdrey
ResponderEliminarÉ hora de agradecer,elogiando, não só as vossas palavras, mas mais para das vossas almas me aproximar. A do Anónimo, que dos nós vai desatando suas pontas, e sabe o final das orações sem fim que nos ensinaram a aprender em garotos, e sabe que o sabe; a do Paulo Borges, um ser de uma enorme rectidão, de excelente trato e cortesia e possuídor de uma força interior surpreendente e rara; a de lapdrey, a alma nova que entrou neste espaço e usa as palavras como um verdadeiro e nobre "guerreiro" usa a arma que tão bem conhece: sem falhas e certeira, sem ferir, ou ferindo sem quase tocar, sem "derramar sangue"; amparado pela maturidade e pela razão sem porquê nem para quê; e, finalmente (os últimos, os primeiros, a doce Isabel, a cantora da luz, a que escreve com aparo de oiro e pó de estrelas. - Não me canso de dizer que a Isabel não existe... acho que ela começa a acreditar...- E tantas outras almas que da minha se têm aproximado, nesta viagem meio louca na barca que nos transporta por aqui e por ali, para cá e para lá. Num mar tantas vezes calmo, como o que me trouxe até aqui, noutros mais alevantado que parece que daqui nos transborda borda fora. Assim é o ventre da Serpente: uma nau singular que a todos carrega. Mérito do timoneiro, sim, e dos que por aqui navegam, pois claro!
Bem-hajam.
Nunca vi tantos loucos felizes juntos!... Fazem a festa, deitam os foguetes, agradecem e felicitam-se por cada um ser mais doido que o outro!... É deveras comovente. Infelizmente a realidade não se compadece com esta loucura mansa e festiva.
ResponderEliminarHum, cá me parece que o meu amigo anda a precisar é duns "miminhos", sei lá, não será?
ResponderEliminar(Hei-de lembrar-me de fazer uma "daquelas" sessões para perguntar ao Avô Freud como tratar disso…)
Sente-se só, Long, é? Olhe, tenho uma ideia!
Crie um blog seu, deixe que a "realidade" (a que o meu amigo tem exclusivo acesso, não é?) de si se compadeça e depois… bem, depois o mínimo que pode fazer é convidar todos estes “loucos mansos e festivos” daqui, que tanto o “acarinham”, e sem quem o meu bom amigo não consegue pelos vistos passar, não é mesmo? Valeu? Bora!
Mãos à obra, que esta é longa e a vida breve porque… o tempo “não” existe, e nós podemos já cá não estar para o aplaudir de joelhos e de costas.
Ah, mas antes, faça-me um favor, veja se a realidade, que de si tão abundantemente se compadece, lhe ensina a dizer alguma coisa assim (como direi?) de "novo", sim? Agradecido.
Aproveite o conselho amigo!
Olhe, quem sabe não é esta a última vez que nos "falamos"…
A indiferença pode ser muito dolorosa de suportar, meu velho! Evite a coisa, sim? ...
Aqui os “mansos e festivos” enviam-lhe, loucamente, derradeiras saudades:
Até nunca, Long!
Long life to Mr. Long!
Yip Yip Hurrah!
(Agora vou deixar a realidade compadecer-se de mim um bocadicho, e ver se faço alguma coisa de compadecidamente real...)
Rio e sorrio. Desculpem. Não é por mal é só por causa dos "miminhos" e da criação do blog... é que eu acho que o Long já não precisa destas coisinhas a que nós damos tanto valor...
ResponderEliminarRio às gargalhadas! Temer a indiferença, eu que não sou alguém!? Enganam-se, amigos, se pensam que tenho as vossas fraquezas e careço das vossas atenções para alguma coisa!... Pelo contrário, talvez sejam vocês que de mim carecem, para se não auto-embasbacarem de todo nos vossos autismos individuais e colectivos e arrogante auto-complacência...
ResponderEliminarIsto está como eu gosto! As raízes roem-se a si mesmas: quase que posso tirar umas férias.
ResponderEliminarNão, Loki. Não vás... eu gosto de ti assim: trocista. E ao contrário de Long tu ainda precisas de nós...
ResponderEliminarDivirtam-se, "meninos"!
ResponderEliminarVá! Hora do recreio!
Mas só os quatro,sim?
..............
Hum... isso, pelos vistos, está bem pior do que eu pensava, ó Long & (agora) Cª.
(É preciso saber o carro da Câmara, para o "abate"?) Aproveitem enquanto eu não me canso, meus "lindos", porque depois ficam a falar "sózinhos", como tão bem sabem... e gostam. Cada um "aLonga-se" conforme pode e sabe...
Taditos!