"Eu também não sei não-pensar. Acontece sem esforço. Só é difícil quando procuro obter essa escuridão silenciosa. Quando estou distraído, caio na sombra e no oco e no doce e no macio nada-de-mim. [...] Concentro-me sem visar nenhum objecto - e sinto-me tomado por uma luz. É um milagre gratuito, sem forma e sem sentido - como o ar que profundamente respiro a ponto de ficar tonto por uns instantes. Milagre é o ponto vivo do viver"
- Clarice Lispector, Um Sopro de Vida (Pulsações), Rio de Janeiro, Francisco Alves Editora, 1991, p.41.
"
ResponderEliminarDo meu quarto andar sobre o infinito, no plausível íntimo da tarde que acontece, à janela para o começo das estrelas, meus sonhos vão por acordo de ritmo com a distância exposta para as viagens aos países incógnitos, ou supostos, ou somente impossíveis."
Bernardino Soares,
Livro do Desassossego
(edicção de Richard Zenith)
Lembrei-me desta passagem... porque gosto de pensar à janela
:)
Sereia será por isto que gostas de pensar à janela?... ;)
ResponderEliminar"Alma e Realidade, Duas Paisagens Sobrepostas
1 - Em todo o momento de actividade mental acontece em nós um duplo fenómeno de percepção: ao mesmo tempo que tempos consciência de um estado de alma, temos diante de nós, impressionando-nos os sentidos que estão virados para o exterior, uma paisagem qualquer, entendendo por paisagem, para conveniência de frases, tudo o que forma o mundo exterior num determinado momento da nossa percepção.
2 - Todo o estado de alma é uma passagem. Isto é, todo o estado de alma é não só representável por uma paisagem, mas verdadeiramente uma paisagem. Há em nós um espaço interior onde a matéria da nossa vida física se agita. Assim uma tristeza é um lago morto dentro de nós, uma alegria um dia de sol no nosso espírito. E - mesmo que se não queira admitir que todo o estado de alma é uma paisagem - pode ao menos admitir-se que todo o estado de alma se pode representar por uma paisagem. Se eu disser "Há sol nos meus pensamentos", ninguém compreenderá que os meus pensamentos são tristes.
3 - Assim, tendo nós, ao mesmo tempo, consciência do exterior e do nosso espírito, e sendo o nosso espírito uma paisagem, tempos ao mesmo tempo consciência de duas paisagens. Ora, essas paisagens fundem-se, interpenetram-se, de modo que o nosso estado de alma, seja ele qual for, sofre um pouco da paisagem que estamos vendo - num dia de sol uma alma triste não pode estar tão triste como num dia de chuva - e, também, a paisagem exterior sofre do nosso estado de alma - é de todos os tempos dizer-se, sobretudo em verso, coisas como que «na ausência da amada o sol não brilha», e outras coisas assim. De maneira que a arte que queira representar bem a realidade terá de a dar através duma representação simultânea da paisagem interior e da paisagem exterior. Resulta que terá de tentar dar uma intersecção de duas paisagens. Têm de ser duas paisagens, mas pode ser - não se querendo admitir que um estado de alma é uma paisagem - que se queira simplesmente interseccionar um estado de alma (puro e simples sentimento) com a paisagem exterior. [...]"
Fernando Pessoa, "Cancioneiro"
Acho mesmo que sim
ResponderEliminar;)
Obrigada Anita*
Então meu Amigo!!! Foi difícil encontrar-te!No caminho encontrei alguns dos teus amigos e amigas com muita inspiração, mas agora não há quem te veja! …Oh meu Amigo, independente de isto ser real ou irreal, nem real nem irreal, dá cá uma abraço! Grande! Daqueles, olhos nos olhos, corpo a corpo! PARABÉNS! Conta muitos e bons! Hoje não estou para poesia, só para abraços!
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