Flor da idade
(Chico Buarque)
A gente faz hora, faz fila na vida do meio-dia
Pra ver Maria a gente almoça e só se coça e
só se roça e só se vicia
A porta dela não tem tramela
A janela é sem gelosia
Nem desconfia
Ai, a primeira festa, a primeira fresta, o primeiro amor
Na hora certa a casa aberta, o pijama aberto a família, armadilha
A mesa posta de peixe deixa um cheirinho da sua filha
Ela vive grudada no sucesso do rádio de pilha, que maravilha
Ai, o primeiro copo, o primeiro corpo o primeiro amor
Vê passar ela como dança balança avança e recua
A gente sua a roupa da cuja se lava no meio da rua
Despudorada, dada, a danada agrada andar semi-nua e continua
Ai, a primeira dama, o primeiro drama o primeiro amor
Carlos amava Dora, que amava Lia, que amava Léa,
que amava Dora, que amava Rita, que amava Dito,
que amava Rita, que amava Dito, que amava Rita, que amava
Carlos amava Dora, que amava Pedro, que amava tanto,
que amava a filha, que amava Carlos, que amava Dora, que
amava toda quadrilha,
Que amava toda quadrilha
Que amava toda quadrilha
Que amava toda quadrilha
Apesar de Você
ResponderEliminarChico B.
"Hoje você é quem manda
Falou, tá falado
Não tem discussão
A minha gente hoje anda
Falando de lado
E olhando pro chão, viu
Você que inventou esse estado
E inventou de inventar
Toda a escuridão
Você que inventou o pecado
Esqueceu-se de inventar
O perdão
Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Eu pergunto a você
Onde vai se esconder
Da enorme euforia
Como vai proibir
Quando o galo insistir
Em cantar
Água nova brotando
E a gente se amando
Sem parar
Quando chegar o momento
Esse meu sofrimento
Vou cobrar com juros, juro
Todo esse amor reprimido
Esse grito contido
Este samba no escuro
Você que inventou a tristeza
Ora, tenha a fineza
De desinventar
Você vai pagar e é dobrado
Cada lágrima rolada
Nesse meu penar
Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Inda pago pra ver
O jardim florescer
Qual você não queria
Você vai se amargar
Vendo o dia raiar
Sem lhe pedir licença
E eu vou morrer de rir
Que esse dia há de vir
Antes do que você pensa
Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Você vai ter que ver
A manhã renascer
E esbanjar poesia
Como vai se explicar
Vendo o céu clarear
De repente, impunemente
Como vai abafar
Nosso coro a cantar
Na sua frente..."