A Saudade está inscrita na minha forma de viver. Posso querer amputar esse modo de ser, mas não sei por onde começar. Não encontro o lugar dessa saudade em nenhuma parte do meu corpo. Não sei a que lugar da alma posso dirigir o bico da tesoura ou a faca afiada. Mas ela está lá. Sei que algures na origem de tudo, nessa fenda, nessa separação primeira ou última, ela foi criada para viver eternamente. Há no mundo muitas pessoas. Essas pessoas que vejo no mundo, porque as vejo com os olhos que a Saudade implantou nos meus, agitam-se, sofrem, afligem-se, morrem, matam. No mundo que a saudade gerou há divisão. Há gente pobre e rica; há guerreiros, poetas, místicos, religiosos, seres de excepção e de regras. Por todos a minha saudade se derrama em dor. Não sei se a dor é só minha, mas encontro a cada volta da vida, motivos de dor que não lamento. Vejo-os como filhos da saudade e na sua presença ausente eu encontro uma lição para a minha vida saudosa, mas nenhuma me expurga o sentimento mesmo da Saudade. Conheci muitos seres fracos, cobardes, vazios, mas nenhum deles era a sua fraqueza, o seu vazio a sua cobardia. Conheci também heróis na sua circunstância e no seu destino; conheci bravos e corajosos seres, na vida e na morte. Nenhum desses seres era a Bravura e a Coragem. Há no mundo, também conheci alguns, seres que irradiavam luz e bondade e, os seus gestos, o seu olhar, as suas palavras, trazem alívio, bálsamo e pacificação. Eles não eram a Luz, a Bondade e a Paz. Eram a Saudade de tudo isso, a mimar gestos antiquíssimos para a parcela de saudade com que os olhava. Da morte, esses seres trazem para a vida a sombra que se formou nos meus olhos. E se a saudade é para alguns a alma do mundo, como amputá-la do meu peito sem que antes morra? Olhar com saudade é ver acompanhado. É olhar todos os seres e ver neles o mundo da sua própria saudade e da nossa; é sua alma saudosa a derramar-se na vida, a marcar no chão e nos astros a sua sombra chorosa. Se os vejo, assim, como me vejo, órfãos do exílio da terra, a procurar alçar-se acima da sua altura, a lutar e a sonhar em pensamento a dor original do mundo, como não amá-los na sua espessura, no seu corpo degradado, na sua trágica e inútil caminhada? Na sua fuga ao inexorável destino que os trouxe à terra, para que se cumpra o mundo, e a saudade dele seja a nossa mesma dor. Ardo em saudade, esta tarde, por todos os fogos de todas as sombras, por todos nós.
E a Saudade, Saudades... A Saudade!
ResponderEliminarE não consido deixar de pensar que o tempo nos vem do futuro. É uma maluqueira minha. Enfim... E esse teu fogo... Aliás, o fogo aqui deste blogue ainda nos vai arranjar problemas. Ainda mandam para aqui uma trupe de bombeiros desses que não custam dinheiro ao estado, porque não saem do papel...
E como ardo nesse teu fogo!
:)
Olá, Paulo
ResponderEliminarSó agora vi o teu comentário.... mas como tempo nos vem do futuro, quando cá cheguei ainda não estava nada escrito...:)
Quanto aos problemas que o fogo nos possa trazer... «deixa arder». O fogo ainda não chega para chamuscar a pele, quanto mais a alma... Ardamos, então, que o fogo da Saudade não se apague nunca!
E pelos vistos, o calor começa a fazer-se sentir. As férias dos políticos(e as nossas) vão dar-nos tempo para congeminar novos fogos, vestir novas peles e recuperar energias. Assim espero!
PS. Anda no ar a ideia dum «novo estado da nação»... Promete!
Saudades:))
Pois promete. Mas eu acho que deveríamos escrever aqui sobre esse tema só em Inglês Técnico. É a língua mais erudita do mundo. Qual Pátria Língua Portuguesa, qual quê! A Inglaterra Técnica é que é um país a sério que até nem vem no mapa (eu acho que há um burro que não sabe disso, mas é deixá-lo com as suas ilusões).
ResponderEliminarE é mesmo para deixar arder.
Saudades!
é claro que toda a gente percebe que me refiro ao burro do Shreck. Não estou a falar do Gato das Botas (bolas, tinha prometido que nunca mais falava em gatos!). Eu sempre achei o Popeye (acho que se escreve assim, mas posso escrever como quiser porque tenho mais de 23 anos e parece que tenho direito a qualquer licenciatura). Eu nunca consegui ver o que é que ele vê na Olívia Palito.
ResponderEliminarE este país é cada vez mais um cartoon. Mas é claro que estou a falar mesmo dos cartoons.
Não confundamos.
Bem, vou parar que daqui a pouco tenho que ir à bomba da gasolina para ver como o pitróil está a subir. A gente tem que se entreter com alguma coisa.
E venham as férias, sim.
Saudades!
"A Inglaterra Técnica é que é um país a sério que até nem vem no mapa (eu acho que há um burro que não sabe disso, mas é deixá-lo com as suas ilusões)."
ResponderEliminarEu vivi em Inglaterra dois anos. Acho um país tristíssimo e doueu-me ver que o que os Algarvios tanto idolatram não passa de uma miragem.
Deveria ser obrigatório para qualquer Português masoquista passar dois anos na Inglaterra "técnica" ou na América "empreendedora" para verem que não têm nada a invejar a estes povos.
Ana Margarida,
ResponderEliminarEu também castigava de boa vontade, esses que vêm na Inglaterra alguma coisa que nos aproveite, a passarem lá uns tempinhos... até podiam ser bastantes. Já estou como o Paulo, o Feitais, que disse acima que, não fora a mania de «asnear» de alguns, até que Portugal poderia ser mais país... (Não foi bem assim, mas não posso agora "subir" para o transcrever).
Havemos de pensar que volta daremos a este triste espectáculo que nos é oferecido como país. Não creio que seja de lição retirada da Inglaterra, como os nossos governantes fazem e mal...
PS.Trouxeste a política para aqui e com ela as minhas memórias e o meu sangue revolucionário acordou. O que fazer com ele, para além da denúncia? Tenho umas ideias, se outros tiverem outras, sempre será melhor juntá-las que nem sequer chegar a desembrulhar a serapilheira ou devo dizer outros nomes... com que este país esconde o rosto.
Às vezes, dói-me a pátria, bem fundo!
Errata: «vêem», é claro!
ResponderEliminarQuerido Saudades do Futuro,
ResponderEliminarJá expus aqui e na Nova Águia algumas das minhas ideias - Educação popular de cariz a estimular o sentido crítico, baseada no trabalho de Paulo Freire e outros grandes educadores Lusófonos e Europeus (Peter Mayo, Hilary Wainwright, etc. Que antes de serem ingleses são cidadãod do mundo).
Que peças tens a contribuir para a manta de retalhos?
Um forte abraço,
A
PS - Gosto mais da tua companhia agora do que quando eras o Obscuro. Embora achasse os teus poemas lindíssimos, o modo como eles me tocavam profundamente magoava-me.
Querida Ana Margarida,
ResponderEliminarEstava a ver que continuavas ignorar-me(?)...só porque tenho saudade(zinhas)...
Nunca construiremos o Paraíso na Terra nem o Mundo ideal, pois o homem é um ser complexo e reage melhor a estímulos exteriores vindos do "grupo" do que a chamamentos e mudança interiores que o marginalizam ou desajustam face ao grupo. Sabes isso melhor do que eu. São fenómenos e comportamentos sociais colectivos, incitados, é claro, pela desinformação, a mentira, a ignorância, o medo e o instinto apuradíssimo de salvar o que julgam que lhes pertençe, ou tão só para matar a fome e sobreviver. Esse comportamento social e político é instigado ainda por maus exemplos que lhes vêm dos próprios líderes e da má autoridade que se abate sobre eles e que os esmaga e deixa indefesos. Todos sabemos da injustiça, venha ela de onde vier, morde sempre...
(Mas que sabemos nós da justiça?)
De qualquer modo, aqui vai a minha "roseta" para a manta: Nunca incitar a acções que visem a vingança, o ódio e a violência que possam prejudicar qualquer ser. Combater sempre o ódio, a tirania e o fanatismo.
Como é que isto se combate?
1. Em nós mesmos, pela busca do conhecimento de nós;
2. Pela educação e pelo amor;
3. Ensinar e aprender para a livre escolha;
4. Respeitar as diferenças.Que nenhum ser se julgue dono de outro ou da verdade;
5. Procurar a essência, não a aparência;
6.Consciência de cidadania planetária;
7. Educar para vencer o Medo, esse inimigo do ousar...
Conheces algum país no mundo em que isto seja praticado a nível da sociedade dita organizada?
Como vês, temos muito que caminhar e andamos nisto há milhões de anos...
PS. Desculpa, mas não creio que gostes menos do Obscuro que da Saudades...se assim é, tenho ciúmes dele, pela tua atenção.
Não escrevia mal, o Obscuro "malandreco"!
Um abraço. Nele me vai o braço para o centro desse vulcão: