publicado no número 19 de 2005 da Revista Utopia cuja numero 25 sai nesta 4ªfeira
“Nunca se trabalhou tanto como hoje. Por todo o mundo, dia a dia, hora a hora, minuto a minuto, milhões de individuos gastam todo o seu tempo a trabalhar ou a procurar trabalho. Mas a maioria dos individuos não são senhores do tempo e daquilo em que se ocupam; as necessidades a que estão condenados são criadas e fomentadas exclusivamente pelos lucros que as mercadorias oferecem àqueles que são donos do trabalho.
A sociedade da ordem e da norma está na iminência de realizar outro milagre: que o cidadão esteja simultaneamente no cume do entusiasmo e no cume da passividade!
Enquanto a actividade humana, escravizada ao trabalho, fôr um instrumento de tortura, ele há-de realizar-se segundo as regras da compulsão, da desigualdade e da hierarquia. E os governos, seja qual fôr o sua forma, reproduzirão o modelo autoritário e simbolizarão as relações de subordinação.
Para os moralistas, especialistas e donos do trabalho, este significa honra e alegria porque significa bons lucros; para os outros, é um exercício monótono, repulsivo e que nunca será bem pago. Não é o sal da vida, nem “uma acção inteligente do homem sobre a matéria que distinguiria o ser humano dos animais”. O trabalho revela-se uma manipulação robótica, uniforme, elementar, sem génio, sem vida; uma relação que provoca sofrimento, suplício e miséria!
Os trabalhadores que trabalham de modo consciente para perpetuar o mundo tal como ele é. Convencidos que o mundo não pode ser outra coisa senão luta e fadiga, não têm tempo para mais nada senão trabalhar, o que os leva a imporem as mesmas condições aos outros. Vivem em permanente competição e concorrência.
Para os trabalhadores que conseguiram coincidir a sua paixão com o seu trabalho o tempo não conta porque encontram prazer na fadiga, enquadrando-se com a maioria quando a situação o exige ou a moral o impõe.
Os trabalhadores contrariados, os mais numerosos, que acompanham sem interesse nem paixão uma tarefa repetitiva, aborrecida e desesperante, muitas vezes totalmente inutil e nociva, pertencem à categoria dos excluídos, individuos sem qualificações, desempregados ou precários.
Não é possível que a atitude de respeito pelo trabalho difundida no séc. XIX, continue a existir, uma vez que a relação com o trabalho foi radicalmente alterada, já não se trata de subsistência directa, as pessoas foram transformadas em seres dominados pelas suas próprias obrigações e tentações.
Os sindicatos que se dizem defender os direitos dos trabalhadores são parte integrante do processo de reprodução do capitalismo e dos sistema hierárquico, mesmo afirmando oposição como o cidadão comum de ideias “progressistas”, põem de lado a crítica radical pela necessidade de produzir. Estão limitados à luta pelo aumento de salários que se esvai mal aumenta o custo de vida. Convertidos em intermediários, os sindicatos passam o tempo em negociação de multiplos acordos com o Estado.
O trabalho, terreno falseado e pantanoso da actividade humana, é um fomentador de patologias.
Os bens comuns como a terra, a água, o ar, convertem-se em mercadorias onde impera a lei da escassez. Escandalosa monetarização da vida presente.
Nesta sociedade que tudo consome e tudo destrói o salário é droga dura por excelência!"
http://en.wikipedia.org/wiki/John_Zerzan
Muitos, muitos parabéns por teres partilhado conosco este texto, úm dos melhores que já li nos últimos tempos.
ResponderEliminarUm forte Abraço:-)!
Estou com a Ana! Vou copiar o texto e vou apetrechá-lo para o comentar nas minhas aulas com os meus alunos! E mais comentários não são precisos! Abraço!
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