Um espaço para expressar, conhecer e reflectir as mais altas, fundas e amplas experiências e possibilidades humanas, onde os limites se convertem em limiares. Sofrimento, mal e morte, iniciação, poesia e revolução, sexo, erotismo e amor, transe, êxtase e loucura, espiritualidade, mística e transcendência. Tudo o que altera, transmuta e liberta. Tudo o que desencobre um Esplendor nas cinzas opacas da vida falsa.
sábado, 26 de julho de 2008
Sacratíssima
O coração da Cidade é uma aldeia. Eis o sentimento mais profundo de Lisboa, uma menina senhora, uma criança madura, uma frescura cálida, um rebento filosofal. O sino da torre daquela Igreja faz vibrar as colinas e todas as calçadas são santuários, e todas as janelas são miradouros, e todas as almas, santas. E a Serpente recurva-se.
Que brisa
ResponderEliminaré essa que me acarinha
a face,
que raio quente
de sol é esse
que me aquece
o corpo inteiro...
como o era
em pequena.
Pois recurva, caríssima!
ResponderEliminarEu em Lisboa sinto-me em casa, embora me recuse a possuí-la, porque o meu coração está em Sintra (isto é só para te picar). Mas, de facto, a Lisboa eterna é uma aldeia, onde se ouvem os sinos, as vozes das mães, até os ruídos mais repletos de vida quotidiana, como o zumbido, quase trinado, da passagem dos eléctricos, com aqueles silvos de máquina atrasada no tempo, quase já a animalizar-se, pronta a fazer-nos vibrar... E os perfumes, os aromas dessa cidade por onde as memórias de quase todos os povos que já se viram civilizadores se derramam de cada porta aberta, de cada canto com cheiro a urina, à mistura com o perfume do alecrim e do manjerico, picante do ar que sai das tabernas, com untuosidades de frituras e aromas vínicos.
Por isso em Lisboa ando a pé. É quase uma religião. Lembro-me da manifestação pelo Tibete frente à embaixada da tão impopular República Popular da China, como foi bom sair da estação do Rossio e subir aquela escadaria quase babilónica, com livros usados e discos de vinil nas suas margens, e passar pelo Príncipe Real e namorar a Lisboa-aguarela, até Chegar ao Rato e sentir ao longe a atracção do Jardim da Estrela, a minha quarta praia, e passar por ali ao cair da noite até sentir a frescura pesada da Basílica da Estrela, de onde vi sair o funeral do Joaquim Agostinho, na minha adolescência. É, de cada vez que vou a Lisboa perco-me por ela fora. Até já deixei de cumprir algumas obrigações por me ter deixado deambular sem rumo.
E um beijo! Espero que o texto te percuta no peito e te encha de luz!
:)