terça-feira, 29 de julho de 2008

O Poeta de Chagall

O poeta bebe com os olhos e vê com a boca.
Ela está virada para o silêncio do céu
E os olhos voltados para a terra.
Este é o poeta! As palavras estão em cima
No céu do seu pensamento
Os olhos são aves de voo rasante
Às coisas que a sua boca prova.
O poeta não tem porquê
E os bichos comem com ele à mesa
O Poeta tem um coração branco
E veste o azul do céu como se fosse
Marinheiro da saudade do que trinca
O poeta tem a cabeça da cor das árvores
E morde o fruto dos céus.
Assim como é, o poeta não tem alto nem baixo
É uma pluralidade de sentidos.

Vê coisas em todo o lado
E às vezes parece bêbado
Mas está sentado no céu sem se desiquibrar
Só porque encontra a cada passo
Uma palavra para os olhos
O poeta parece perdido, mas apenas
segue o seu olhar
Enquanto a sementeira dos céus
semeia astros na sua boca.

4 comentários:

  1. Ah... este poema nasceu vivo! Parabéns à Mãe. ;)

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  2. Tenho um astro na boca e com ele irradio luz para quem mo ofereceu. Mais não consigo. A beleza emudece, mas alivia as almas cansadas.

    Ressoou bem forte...
    É a pintura mais linda do mundo...sorrisos

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  3. É Saudades!
    E que todos os Poetas encontrem quem lhes dê o afago que não mata a Poesia!
    Hoje, neste dia de plenitude, afundo-me e elevo-me em tudo aquilo que aqui nos deixas.
    E deixo-te um poema (singelo, singelo...):

    a minha vida não tem porquê nem para quê
    sei-me velado por uma doçura que me embala
    lá do longe de onde vêm as bençãos
    que não são pedidas
    e agora sussurro
    e procuro a serenidade das sombras
    das árvores centenárias
    é que não quero sobressaltar
    o tesouro que se acoita no meu peito
    tão belo e tão meu o meu tesouro!
    e do seu repouso
    que refaz os mundos
    invade-me uma força
    branda
    total
    invencível
    um dia andava perdido do mundo e de mim
    e ouvi falar dos deuses que habitam as mãos dos Poetas
    vi como elas são necessárias a este mundo
    tão precário
    e tão aparentemente vazio
    mas demorei a compreender
    que a hora das Graças tinha chegado à minha vida
    chegou então o tempo da sementeira

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  4. Anita,

    ...E que a mãe natureza guarde no seu seio os que nunca chegaram a nascer.

    Isabel,

    Para si, que encontre sempre alívio e repouso nas minhas pobres palavras e que elas repercutam no mais fundo de ambas as vozes e as imagens que nos tocam a alma.

    Paulo,

    É verdade,Paulo,a Poesia não pode morrer à míngua... O poema que me ofereces ecoa fundo em mim. Amo o que escreves e o que és. Guarda o teu tesouro no peito... Deixa-me descansar também na sombra da árvore... Deve estar-se lá tão bem...

    Um abraço... Vou-me perder no mar...

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