quinta-feira, 3 de julho de 2008

Labirintos

Esta é a história de Ariadne, filha de Minos, a história de uma mulher apaixonada. Teseu, bravo herói, ouviu falar a pitonisa e partiu em direcção ao labirinto. Na manhã anterior, aurora antiga, de um passado de tributos , Teseu olhou o céu e viu, em futuras visões que só aos heróis é dado ver, a coroa de estrelas que no futuro firmamento lá brilhava. Não conhecia ainda a bela princesa.
No braço armado da coragem, a lança brilha no escuro e no peito o Amor de Ariadne indica-lhe o caminho. O homem segura o fio de lã da idade do cordeiro e entrega a mulher nos braços de Dionísio. Deixada na ilha, Ariadne vem a esposar Dionisos, seu consolador desses dias de tristeza e abandono. Foi aí, e só aí, que a coroa antevista por Teseu foi lançada em pedras de brilhar para a escritura do céu, onde ainda hoje permanece, encostada a Hércules e ao Homem que segura a Serpente. Mas, paras isso, Ariadne tivera que morrer. A Senhora dos Labirintos é a guardadora da janela dos tempos. A pastora do tempo dos cordeiros. Mulher dançante e extasiada, conhecedora do caminho dos chakras. Conheceu Sileno e as figuras do s mundos vedados, nos seus rituais de iniciação. Sempre deixando as vestes em cada descida e renascendo numa nova pele. Finalmente, recebe o cesto com a oferenda da viril virtude masculina. Depois, uma deusa alada sobre ela abate o chicote que Ariadne aceita humildemente. Por fim, a mãe recebe no seu colo de consolação a lágrima da mulher.
Agora, enfeitada e adornada, a mulher olha-se no espelho de Eros. É a esposa de Dionísio outra rainha, antes princesa de Teseu amada. Foi o Amor/iniciação que transformou Ariadne na mulher liberta em si da figura do herói, mas integrando nela a força criadora resultante dessa união. Estamos sempre a tempo de nunca entrar no labirinto. Mas só entrando nele, dele nos libertamos.

27 comentários:

  1. Devolvo-lhe a pergunta, Anita.Que labirinto será esse?

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  2. :)
    Do desencontro com a vida, consigo... que nos leva a conviver entre opostos, os quais imaginatoria-mente o homem separa sem dar conta...
    O labirinto mental, de complicar o óbvio... para mim é o que se me apresenta mais.

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  3. Muitas vezes o óbvio também é o que ob-via, o que, estando aí, presente diante de nós, nos detém e se converte num ob-stáculo na via, no caminho... impedindo-nos de seguir em frente ou de ir mais fundo... impedindo-nos de encontrar o fio de Ariadne e de sair do labirinto...

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  4. O óbvio, real, ou o que se pensa como óbvio?

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  5. O labirinto...os labirintos só na aprência são obstáculos que se apresentam fora de nós. Os labirintos somos nós esquecidos que somos caminho. Se não entrarmos neles, nunca saberemos olhar o espelho e reconhecermos nele o Outro em nós.
    Sem Teseu, Ariadne não saberia entregar-se a essa descoberta em si. Sem Ariadne, o minotauro teria vencido... Se Ariadne não ficasse na ilha, não teria amado o deus nem aprendido a dançar...
    O labirinto tem inúmeras possibilidades, apresenta-se como o contrário do espelho,sendo um espelho. Assim falou o oráculo de Delfos da necessidade do Amor ou do coração puro...

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  6. Qual a diferença entre o que é real e o que se pensa como tal, qual a diferença entre ser e pensar ? Estabelecê-la é a dualidade. "O mesmo há para ser e ser pensado", diz Parménides. Ser e pensar são dois modos, um só na comum ilusão, de experimentar o "mesmo", que não é ser nem pensar - assim o vejo/experimento eu.

    O labirinto é pensar que há caminho e caminhante, origem, destino e sentido. Mas, enquanto o pensarmos, nele se jogam todos os possíveis. Incluindo o de abrir mão de tudo isso e (n)o(s) desvanecermos.

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  7. A diferença é que um se vê, e o outro não, um é real, o outro não...
    Que temos um livro nas mãos a que chamamos vida: pensá-lo é lê-lo, senti-lo é vivê-lo.
    O homem adulto coloca à frente de viver a vida, lê-la, por isso, fica num estado dormente, sério. Prefere ser leitor a personagem, escritor a actor, dormido a acordado, morto a vivo. Esqueceu-se que vive, porque se inicia lendo, sonhando; esqueceu-se que está a viver uma história já escrita, dentro da qual só outra, por ele criada, se pode ler.
    (E logo vai o sermão sonhado...) ;)

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  8. (longo)
    O adulto vive a brincar à vida, pois pensa-a - imagina-a. A criança vive a sério, sente-a.

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  9. Nunca vi adulto algum
    Nunca vi nenhuma criança
    Apenas mentes em metamorfose
    nos passos de eterna dança

    Pois a criança já foi adulto
    e mais velha que ele se torna
    tal como o adulto criança será
    quando de túmulo em berço se orna

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  10. Pensando a vida, consigo entender... sentindo, não. É esse o eterno defeito da minha criança: só me sou sentindo.

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  11. (só me faz sentido sentir - a ponte que deixa de ser de tédio entre mim e o Outro)

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  12. Nunca pensei
    Nunca senti
    Cisão entre ambos
    Jamais vi

    Como pensar sem sentir ?
    Como sentir sem pensar ?
    Fazer de um dois
    é esculpir estátuas no ar

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  13. De acordo. Mas um deles contém o outro; um é princípio e fim, outro é apenas meio.
    Jamais viu cisão porque Viu, sentiu a união. ;)

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  14. (a união da luz, do Dia da sensação).

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  15. o sentir é, ele próprio, a síntese do tudo e do nada, do pensar e do sentir, do ser e do estar; une os antagónicos, superando-os.

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  16. (ou como o amor em relação a si mesmo)

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  17. Mãe e pai são opostos, mas é a mãe que contém, em si, o filho - como sentir e pensar são opostos.

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  18. Nada que seja algo
    uma coisa e outra supera
    Nada que se pense e diga
    o sabor dá da infinita esfera

    Nada a unir e superar há
    os contrários são bola de sabão
    Conceitos e palavras conversa fiada
    Dançar no abismo com os pés no chão

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  19. A mulher supera-se a si mesma quando mãe, o sentimento supera-se a si mesmo quando amor.

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  20. É isso meso, Paulo, o labirinto, «dançar no abismo».

    Anita:

    Agarrar uma certeza
    seja de sentir ou ser
    é ilusão
    ser
    homem ou mulher
    sentir ou ver
    infante ou adulto
    tudo é transformar
    Nada fica
    Tudo se dissolve
    Até a afirmação
    e a negação.

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  21. Querer agarrar uma certeza através do pensamento é ilusão, sim - já agarrar com a mão uma pedra não.
    É isso que quero agarrar, o "agarrável". :) O sentir.

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  22. Anita, Anita,
    medito em Pali teu nome:
    "Anicca", impermanente; "Anatta", não Si -
    Como vês tudo se some !

    Silva em Latim é "selva"
    e também "multidão":
    que queres tu haver
    que não seja turbilhão ?

    Desgarra-te de agarrar
    solta o pé, abre a mão
    Deixa lá o Caeiro
    a sentir com a razão

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  23. eheh tudo é assim, deveras...
    inconstante e diluída na multidão...
    mas nunca senti tanto, como agora,
    com o coração. Mesmo que seja escrevendo, escrevo-o inteiramente, eu.

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  24. a criança que era espreita-me por detrás destas letras... :)

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  25. O sentir engloba tanto a sensação física quanto o sentimento que une essa sensação ao pensamento: o sentimento é tanto a mãe quanto o filho, é a Aliança.

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  26. A sensação supera-se a si mesma quando sentimento - pelo amor.

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