domingo, 1 de junho de 2008

"é preciso muito caos interior para parir uma estrela que dance"


O tempo vai minguando no seu infinito abstracto,

esmagado por aglomerações flutuantes mas determinadas

no percurso promíscuo de sons e satélites únicos

que irão diminuir em compassos de ampulheta mutilada –

quando o germe adoecer e fôr engolido pela criação –

constelações irão desfalecer em fontes e regorgitar este

jogo multifacetado sob a forma dum camarão marinho

que suspirou e fez bolhinhas no fundo dos oceanos,

perdido entre brumas de aguda aglutinação primordial,

como a essência da força da gravidade num abismo.


Ouço sinos da tal voz indolente em tom revolucionário

com respostas de beleza utópica e acordes usados

ante o ramo duma oliveira, caroço maçã mosquito ou rosa

que explique todos os trauteares, basta agir ao olhar e ler

pureza sentida a fazer efeito, expandir-se austera

para lá dos horizontes do conhecimento dos morangos,

entre as inevitabilidades extremistas da memória

a razão imagina-se nas trocas intrínsecas respirando

mas, nada tudo foi porque do nascimento não nos lembramos,

são questões apenas segredadas diariamente sem cor.


À medida que letras se unem, conjuram e sucedem-se

criam raciocínios inerentes ao anterior último

e pintam, com a língua, seu próprio caminho invísivel

em comunhão com o escorregar de folha caída na relva sintética

como avalanche ansiolítica, atropelamento mútuo

de genético esquecimento, bisturi obsessivo por

lutar, existir em simultâneo com o acontecer de todos

os acasos que propagam e sorriem e encontram-se e

em magia transformam-se, seguindo o frémito necessário

e original, somente vislumbrável na unicidade anatómica.


No mundo em que fui cuspido muita teoria já cá vive e

verdadeiras pequenas descobertas perdem-se às recentes,

sob autoriedade empedrada do pós-bacharelato que nos cega,

prende a castração em coro às demagogias dum bem-comum de

entretenimento que não ajuda ninguém e, impede de esvoaçar

até ao ilimitado harmónico onde reflectirás atempadamente,

na companhia de borboletas parecidas, sobre os mistérios

da Natureza que admiramos e com quem queremos passear a

morte de criar nova pele doutro deus trabalhador, buracos negros

rodeados de palmeiras, cascatas e impossibilidades inexistentes.


Um é o número triangular que adormece vacas e vegetais

ao vogarem com códigos de barras instintivos no coração,

pretendem violentar visões na doçura territorial da sede

apreciando, sem dúvidas, o prazer fulcral do momento presente,

enquanto inspiram subjugamos, dispersando ebriedade constante

no corpo-cobaia, através dos devaneios da invenção das raças

trocam corridas homicidas na livre pradaria sub-sariana

por assentos, carros confortáveis e pastiches no centro comercial,

invejosos por não terem esperneado essa consciência ociosa

dirigida pela parabólica bolorenta do mesmo remoto fabricante.


Qualquer putrefacção procriada provém do sentimento imediato

cuja beleza intragável, é de tão onírica expressão que, só não será

fútil para a calmia do sismo emocional contido na insegurança

interior das contradições amargurantes que todos perseguem

com tormentos cinzento-gelado, relances de calor e mal-entendidos,

nesse ritmo das ancas erectas devemos aproveitar cada fímbria de verde ou

a predisposição sonhada nunca se construirá em narrativa, enquanto a

juventude ingrata propaga reverente e segrega regra contra o virus da velhice,

graças a ocasionais hábitos de revelações banais de sujas sagitárias,

desde o egoísmo do adeus até à plenitude permanente do remorso.


O barulho, toque do movimento é semelhante ao sabor

duma cereja a desabrochar como flôr amarela, felina no tojo

à deriva por entre a turbulência de vingativas ondas gigantes

na adrenalina de atingir uma ilha pacífica sem chá elitista,

onde nada se paga, ninguém corrompe sacro suor e trai

seus companheiros por miseráveis assoares bubónicos, são

mentes já obscurecidas por iates e bijutarias reconhecíveis, mais

todas suas divinais e dolorosamente omnipresentes expressões

fictícias de vida, lá longe o chocar dum ovo soa ao gemido duma orca

abandonando, comovida, as raízes sugadoras na solidão das árvores.


Minha família veio dum cometa televisivo, tal como quando

o baço exclama ao aspirar tocar no céu astral banalizado

e, nos lembramos da alforreca que a custo sobreviveu,

comendo-se a si mesma, pelo plâncton pré-fotossintético

que a engasgou, perto do centro, antes da primeira maçonaria

evaporar, contentou-se sendo lenda e originar missas modernas

que publicitam ser mais reais que signos luzídios, detêm

no cerne do seu seio de desejo mais antiquado e mal gasto,

este fumo de especiaria excedentária que hipnotiza a prescrever

insanamente, brincadeiras fugazes de quereres e consequências.


Observo os melros, bancos de jardim com cartas e copos de bagaço

comodistas, displicentes, arrogantes sãos afogados em mágoas

e doenças antigas que já só sentiram, desaparece o dia noctívago

sem calma, sem entusiasmo, sem esforço, no riso criticamos clones

desinteressados pelo sentido conhecido e sem atenção pela entidade,

deixa-se passar mais esta almofada como não se devia ter feito antes

e morre-se a acordar noutra geração sem reencarnação, quem afirma

peca obrigando o receio a recompôr rápido tanto defeito de fantasmas

falaciosos, atafulhos rasgados em lúxuria e poder d’intervenção impune

cravando a estaca na destinada estrela que sempre irá suspirar chão.


Ou então, fechemos as asas e olhos à informação masterizada

e vamos deixá-los tropeçar em ilusões de sorrisos simples

que atingem altas velocidades longe do asfalto conspurcado,

de mãos dadas com a chuva libertadora do fogo que assusta

e pariu o tempo, tal qual O zero vazio que contêm a luz ciclíca,

atordoante dádiva de vozes expectantes neste vórtice animalesco

incapaz de se rebaixar à condição de estar quieta na bicicleta,

aceita precisar mais querer perder-se no que abençoa, como

a trajectória inevitável dum beijo humano destinado a alado local

sem palavras, influenciado por todas as poeiras ocasionais

deste polivalente erro premeditado, a triunfante charada atómica
confluí na imagem de duas plantas numa, fodendo N0 pedestal.


in Trepidação/Trepanação (ou a ausência de evolução) 2004

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