Um espaço para expressar, conhecer e reflectir as mais altas, fundas e amplas experiências e possibilidades humanas, onde os limites se convertem em limiares. Sofrimento, mal e morte, iniciação, poesia e revolução, sexo, erotismo e amor, transe, êxtase e loucura, espiritualidade, mística e transcendência. Tudo o que altera, transmuta e liberta. Tudo o que desencobre um Esplendor nas cinzas opacas da vida falsa.
domingo, 8 de junho de 2008
O regresso à infância
Tem-se falado, aqui no blogue, acerca do regresso à infância, não sei se em posts se em comentários. O Paulo Borges disse que o regresso à infância é, normalmente, um símbolo de um regresso ao indeterminado, ao antes do nascimento, tendo até considerado que as crianças são, muitas vezes, maliciosas. Concordo em que o são (somos, fomos), mas penso, ao contrário, que o regresso à infância não é apenas símbolo de regresso ao indeterminado, anterior ao nascimento, mas mesmo como vontade de regresso à infância propriamente dita. Porque embora muitas pessoas recordem infâncias más, com pais alcoólicos, violência doméstica, fome, etc., muitas recordam infâncias boas, um tempo em que não tinham problemas, ou não tinham os que têm, em que o mundo era um lugar mágico, onde, mesmo, o mundo se fundia com a imaginação, não havendo perfeita distinção entre o imaginado e o real. É possível que haja, por isso, na infância, mais noção, provavelmente ilusória, de controlo sobre o mundo. Mas isso não é o que interessa, até porque, sendo adultos, não podemos pensar como crianças, voltar a ser o que éramos. Como adultos, penso, recordamos ou, melhor, vemos, a infância como um espaço de liberdade, mas, mais do que todas essas tretas, olhamos para as crianças como mais verdadeiras, sinceras, do que os adultos. Os adultos vivem cheios de medos e preconceitos. Medo de ser (como se é), medo de ser criticado, medo de parecer mal, etc. As crianças, em certa medida não pejorativa, são mais como os animais, que são, penso e a avaliar pelo meu cão, incapazes de esconder o que sentem, de fingir. Ou pelo menos fingem menos. Para além disso, as crianças não estão minimamente interessadas em defender os seus egos feridos perante os que se lhes opõem, até porque ainda não têm egos feridos nem opositores, no sentido em que os adultos os têm. Mostram-se por gosto, nos seus delírios, imaginações, vontades, porque querem e gostam, enquanto os adultos fazem-no, muitas e muitas vezes, para que lhes limpem as feridas, que as crianças não têm. Ou se calhar estou errado e apenas a idealizar o que é ser criança. É difícil generalizar para todas as pessoas.
"sendo adultos, não podemos pensar como crianças, voltar a ser o que éramos." Ser adulto não é deixar de ser criança, é renová-la...
ResponderEliminarnão é voltar a ser o que se era, é voltar a ser o que se É.
A criança representa o nosso ser original, Deus. Não é imitar o que éramos, é imitar o Ser que somos. Ela simboliza o renascer, e só renascendo de nós próprios vivemos, como cada dia renasce da noite - caso contrário, andamos como "mortos-vivos"...
Estive a pensar melhor e talvez o regresso à infância seja mesmo simbólico. Porque não desejaríamos ser de novo crianças, se não no sentido em que viveríamos mais tempo, etc., bla bla bla, mas sim aquilo que as crianças simbolizam: pureza, felicidade, "liberdade"/respirar, etc. Inocência, ingenuidade, genuinidade, esperança... talvez por sabermos que nada disso existe?
ResponderEliminarCumprimentos, Anita Silva, grande impulsionadora do blogue.
E como será isso de renascer? Sabe-se que é unindo opostos que a vida nasce... por isso enquanto -nos- pensarmos não unindo o que vi-vemos, não nos "damos à luz"...
ResponderEliminarNão sei se a criança representa tanto o nosso ser original, como aquilo como gostaríamos de ser. O que o nosso ser original se não um ser que imaginámos, que desconhecemos?
ResponderEliminarEu não sei se é unindo opostos que a vida nasce... o que é isso de opostos, se não uma maneira "mental" de ver o mundo? O branco oposto do preto, o homem oposto da mulher, protões e electrões, esquerda e direita... serão realmente opostos ou apenas diferentes? E, se são apenas diferentes, será que podemos dizer que a vida nasce da diferença? Afinal, não veio tudo do mesmo?
ResponderEliminar"... nada disso existe?" Segundo a criação, nada existe sem isso... ou sem isso ligado.
ResponderEliminarSegundo a criação nada existe sem o quê? Sem felicidade ou esperança? Não creio. Sem genuinidade? Uma propriedade mental. Na verdade, não sabemos o que é o que não é necessário. Sabemos apenas o que é e, ainda quanto a isso, temos dúvidas.
ResponderEliminarA ideia de oposto é só nossa, humana, no âmago, é tudo Um...
ResponderEliminarDesde que começámos a definir o que vemos... por isso ao definir é preciso não esquecer a ligação inerente aos aparentes contrastes.
Segundo a criação nada existe separado, a união de tudo é o que baseia a vida.
ResponderEliminarA felicidade, a infelicidade, a esperança, o desespero... tudo isso se desfaz no fogo do amor...
ResponderEliminarPor isso lutar contra a infelicidade, o mal,... é lutar contra a possibilidade de união, do amor. É inútil julgar a nossa mão direita... só em conjunto com a esquerda ela tem sentido... o sorriso acontece com os dois lados da boca... querer sorrir só com um lado é... triste.
ResponderEliminar(e já me estou a extravasar...) :P
ResponderEliminarNão sei se no âmago é tudo Um... o que é o âmago? A questão do unido e do separado não tem a ver com definirmos o que vemos, mas com o que vemos: separação, multiplicidade. Talvez no início fosse tudo Um, separou-se e, agora, o nosso maior desejo é a união, voltar a ser um, ser completo, etc.? Talvez, quem sabe? Tudo se desfaz no fogo do amor? Talvez, mais do que ser cego, o amor cega.
ResponderEliminar"só em conjunto com a esquerda ela tem sentido". Estás a dizer que o bem não tem sentido sem o mal? O prazer sem o sofrimento? Não seria melhor que viessem a existir pessoas que não conhecessem o sofrimento? Que o sofrimento, um dia, não fosse senão um artigo na Wikipedia? Não digo que seja possível, pergunto apenas se não seria bom.
ResponderEliminarOriginalmente é Um, e finalmente será Um.
ResponderEliminarO amor cega? E viver sem amor é ver alguma coisa? Amar é ter porque se ser cego, não amar é andar cego sem porquê...
Agora vou ali beber uma cervejinha e já regresso, para este painel de comentários ao ritmo do MSN, se tal se proporcionar :)
ResponderEliminarO Universo tende para um, por isso, o que dizes como hipótese é uma inevitabilidade...
ResponderEliminarE não haverá bom nem mau... haverá.
ResponderEliminarCreio, sem saber, que originalmente era Um, mas não sei se finalmente será Um. Viver sem amor é andar à procura de amor, mesmo que o não saibamos. Nómadas em busca do amor, perdidos nas nossas angústias, partindo para lugares insondáveis, assentando ou querendo assentar quando o encontramos. O amor dá-se de muitas formas, seja o amor propriamente dito com desejo sexual, de união, em relação a um homem ou mulher, ou o simples amor pela Arte e pela Natureza. Qual o melhor? Não sei, são ambos bons.
ResponderEliminarComo sabes que o Universo tende para Um?
ResponderEliminarPela própria palavra...
ResponderEliminarSenão será Um, no final? Nasce o dia da noite, não sabes se no final ele não volta a ser noite?
Disse viver sem amor, ou pode-se dizer viver sem amar... e isso tem infinitos modos - todos com o seu próprio valor.
Até já, caro N'Uno... ;)
ResponderEliminarEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarIsso do dia voltar a ser noite e a noite dia, como pretexto para a unidade vir a ser multiplicidade e a multiplicidade unidade é uma simplificação mágica, sem desprimor para o pensamento mágico. Penso até que, e isto relativamente ao pensamento mágico, que deveríamos ser mais mágicos, porque já não nos espantamos com nada. Isto, reparei-o há uns tempos, meses, anos, ao olhar para a chama de uma vela. Esqueci-me dos nomes das cores da chama e apreciei-os pelo que são: espantei-me, encontrei magia. Eu vivi muito tempo sem amar alguém e encontrei conforto na apreciação estética do mundo. Mas, talvez, mais do que conforto, encontrei algo mágico, procurei o Infinito, e continuo a procurá-lo. É o que mais me agrada na Arte: a sensação do Infinito. Por isso gosto tanto dos Coldplay e dos Muse, não sendo elitista, mas uma pessoa de massas, porque nos dão um cheirinho do Infinito. Acima de tudo, para lá das nossas teorias metafísicas sobre o mundo, acho que devemos ser como tu e eu estamos a ser agora, cada um a despejar as suas ideias, possivelmente em busca da verdade ou de uma intuição que nos dê esperança, o tal sonho de que tanto falas, sim, sei que posso ser, às vezes, um sentimentalista da pior espécie, mas, e aí talvez tenhas razão, estou apenas a libertar a criança esperançada que há em mim. O passado, o futuro... não sabemos... Deus, não sabemos... Deus, esqueçamo-Lo... Se eu fosse este Deus, teria querido que os humanos se esquecessem de mim, que se virassem uns para os outros e para o mundo, vivessem o melhor que pudessem, que fossem verdadeiros e que se emocionassem, que trabalhassem na consttrução de uma vida melhor, porque eu, se fosse este Deus, como este Deus é, seria incognoscível. Por uma estranha razão, a de este mundo ser como é, quereria que se perdessem no concreto, que realizassem os seus sonhos, que percebessem que os seus sonhos não passam de sonhos, sem qualquer influência sobre a realidade, truques da mente, que cada um lutasse para viver melhor e para realizá-los, mas não os sonhos que outros sonharam por nós, a nossa ideia de felicidade, cumpri-la... mas, no nosso modo de ser, que nos libertemos, fazendo a catarse da nossa existência, e procurando darmo-nos nas nossas relações com os outros, independentemente das respostas que obtivermos, capazes de sermos nós próprios. Se é Um, se é Dois, se veio ou se irá, nada disso interessa... Só nós e a realidade interessamos. Resta-nos viver, da melhor forma que pudermos. Olhar para o que (sabemos que) existe, não para o incognoscível que imageticamente criamos. Esquecê-LO. Lembrarmo-Nos. Só o que existe interessa. Só o que se sabe interessa (não digo isto em relação à Ciência, porque esta evolui). O sofrimento humano está, desde sempre, à vista de todos. Viver melhor? Fazer a catarse desse sofrimento, libertarmo-nos de tudo e de nós mesmos. Sermos livres, contemplação da Arte, da terra ao céu, do céu à terra, emocionarmo-nos. Sentirmos, arrepiarmo-nos... catarse, catarse, catarse; gritar, saltar, chorar. E muito mais e muito mais certo haveria a ser dito, mas fica a ideia, por entre este enevoado. Cria/Contempla.
ResponderEliminarAhaha temos Poeta à Solta!! :)
ResponderEliminarOlha isso de chamar mágico ao dia e à noite já é um início do renascimento... agora se os próprios fenómenos naturais não chegam para explicar a vida... não sei mesmo o que poderá... a nossa razão procedente deles? Que se quer ver desligada deles? Como é que algo desligado da sua origem pode explicar a própria origem?
Isso de não se pensar no que não se vê é tudo o que Alberto Caeiro ensina...
ResponderEliminarMas para isso é preciso ter essa visão como tiveste para a vela,
ResponderEliminarver sempre tudo como a primeira vez, que é o que em verdade acontece... nada nunca é igual ao que foi - tudo está em constante renovação...
Toda a coisa que dizemos, devemos dizê-la sempre como primeira vez, porque realmente é a primeira vez. E então cada ideia é uma nova ideia, ainda que seja a mesma de ontem. A gente não é já o mesmo nem quem a escuta o mesmo. É pena a gente não ter exactamente a sensibilidade para saber isso, porque então éramos todos felizes.
ResponderEliminarAdaptado de Alberto Caeiro
Só duas notas (musicais)
ResponderEliminarsobre não existir sofrimento, não vejo qualquer vantagem. O sofrimento é importante e desejado. O sado masoquismo não é apenas um fetiche sexual, faz parte integrante da vida de todos nós. Porque é q gostamos do amargo, do salgado?
O que é indesejável é o prazer sem sentido (por exemplo das drogas) e a dor sem sentido (daí o debate sobre a eutanásia). Mas tanto o prazer como o sofrimento são desejáveis e desejados por e para praticamente todos nós.
Relativamente ao que é uma criança, relembro o que a Anita disse: «As crianças ainda sabem que o seu destino é a liberdade.»
Acho que isto resume perfeitamente o que é uma criança no contexto em que estamos a falar.
Um adulto, por seu lado, crê ter como destino outra coisa qualquer (em geral a entrega).
Como é óbvio quem sbae que o seu destino é a liberdade nunca se vende. Enquanto que os adultos andam toda a vida a tentar desfazer-se de si próprios. É um antagonismo não reconciliável: para viver um tem de morrer o outro.
Luar Azul: o sofrimento é importante e desejado? Que parvoíce! Não confundas sofrimento com catarse, libertação do sofrimento, que implica algo que parece - mas não é - sofrimento! O amargo e o salgado não são sofrimento. Sofrimento é perder uma perna ou um braço numa mina ou num acidente num poço de petróleo, ser doente mental e ter consciência disso, ser rejeitado pelos outros ou por si mesmo. Ninguém sabe que o seu destino é a liberdade. Embora muita gente possa crer que sim. Da crença à realidade via uma grande distância. Quanto às crianças saberem que o seu destino é a liberdade, digo-te apenas que não sabem, porque, se soubessem, saberiam que o seu destino não é a liberdade, embora possam crer nisso. Da crença à realidade vai uma grande distância. E uma grande ilusão. Olhar para a realidade, para o modo como as coisas realmente são, eis uma via possível. Será boa? Será a melhor? Objectivo: melhorar a vida, minorar o sofrimento.
ResponderEliminarOlá, caros amigos bloggers! Venho apenas dizer que este post já ultrapassou os 30 comentários, o que é uma novidade para mim, embora metade dos comentários seja minha. Ainda assim, um abraço para todos os que lêem, escrevem, e toda a gente... Que um dia possamos viver todos em paz! Mas uma paz repleta de emoções e de catarse, tal é a nossa Natureza, até agora! Como o meu avô dizia: o caminho é sempre em frente, a vida é sempre em frente. Um abraço para todos.
ResponderEliminarTrinta comentários já é muito bom!
ResponderEliminar"Da crença à realidade..." Que realidade? Aquela que se vê e que está sempre a mudar e que nunca fica? Ou aquela que se sente intimamente e permanente?
ResponderEliminar"Quanto às crianças... o seu destino não é a liberdade" achas que sabes mais do que as crianças? elas sabem que não sabem, tu pensas que sabes, ignoras a tua ignorância por isso julgas que elas não entendem o que é a vida. Quem é mais ignorante?
Caro Nuno, é bem possível que eu amanhã tenha um acidente e fique paralizado ou perca uma perna ou um braço. Se eu adorar a dor que a perca me provoca poderei exacerbá-la. Por exemplo: ai, que coisa horrível me aconteceu. Ai, que ninguém me compreende. Ai, meu Deus, que faço eu aqui neste mundo onde já perdi o meu lugar, etc e tal. Serei certamente muito eficaz na minha capacidade de enfatizar a dor.
ResponderEliminarAquilo que eu observo à minha volta é isto. São as pessoas a enfatizarem a sua desgraça: queixam-se dos políticos, de Deus, da sociedade, da ignorância dos outros, dos limites do conhecimento, de si próprios, enfatizam tudo o que não conseguem fazer e remetem para uma finisterra qualquer um paraíso a conquistar, como se fossem grandes mártires ou salvadores. Os grandes capazes de salvar o mundo. Exactamente como numa novela onde alguém é traído e depois, ai ai, ai ai, é uma coisa... e há os bons e os maus e tal, e ele é um grande mártir e tal. Sofreu muito mas conseguiu, etc.
Tudo isto, caro Nuno, são modos de incentivar o sofrimento, de o cultivar, para nos fazermos grandes, para provarmos a nós próprios o nosso valor. Mas, ao mesmo tempo, são percursos, e muitas vezes de transcendência.
Agora, se eu amanhã tiver o tal acidente, e desejar ser feliz posso pensar: que bom, mantive a minha visão, a minha família está bem, posso pensar, posso olhar este mundo belo e viajar, na minha mente, ao coração de quem quiser, às mais distantes galáxias. Posso relembrar-me das pessoas que vivi, e, oh, estou tão grato por as ter conhecido, etc. É simples e não exige grande coisa, simplesmente a vontade de ser feliz!
É claro que há situações mesmo extremas, onde a pessoa vive uma dor física constante que só se for faquir conseguirá evitar. Mas isto não é a regra, é a excepção. é msmo muito raro isto acontecer. E para isso deveria haver a eutanásia, nos animais e nas pessoas e deveríamos lidar com a morte de um modo mais simples, deixando as pessoas partir quando devem partir, sem lhes estar a prolongar a estadia num mundo de sofrimento (estou a falar de casos terminais). Mas mais uma vez não é isso que fazemos.
Agora já tou mesmo a ver que mto pessoal aqui vai pensar: «era mesmo bom se ele tivesse um acidente e ficasse mesmo paralizado, só para ele ver como é que as coisas são *realmente* em vez de viver nestas fantasias lunáticas.»
Pois, a verdade é que eu sou apenas um puto reguila e não sei nada da vida, mas não se preocupem, se eu tiver um grande mal, e desde que consiga, escrevo-vos a dizer e como reagi a isso (mesmo que tenha ficado muiiiiiito infeliz e vos venha a dar razão).
Parabéns pelos 30 e tal comentários. Porquê? porque o desejaste.
Já agora, uma nota (musical) final:
ResponderEliminarUma pessoa está quase a morrer, porque é que não se organiza uma festa de despedida! porque é que não se lançam balões e foguetes! Afinal, conhecemos aquela pessoa, tivémos possibilidade de privar com ela, de aprender com ela, de viver e partilhar a vida com ela. Vamos viver os últimos instantes em Celebração, em Alegria, em Partilha profunda.
Era assim que eu quereria que fossem os dias anteriores ao meu funeral: festas e mais festas.
Ficam desde já convidados! Um dia que eu saiba que vá morrer, convido tudo e todos e vamos fazer a maior festa de arromba... uma festa capaz de animar os céus!
Anita: eu não esotu a dizer que as crianças são ignorantes mas apenas que, se pensam que o seu destino é a liberdade, estão enganadas, porque eu já fui criança e sei que o meu destino, pelo menos a vida que tenho agora, não é de modo algum a liberdade. Não julgo, por isso, que detenha algum conhecimento metafísico especial, uma sabedoria miraculosa, mas apenas que reflicto sobre o que a vida é: estamos em constante necessidade e, isso, implica não sermos livres, por mais que queiramos pensar o contrário.
ResponderEliminarLuar Azul: percebo a tua ideia em relação ao sofrimento: olharmos para o que temos e para as nossas possibilidades e não para o que não podemos ter ou ser. Alegrarmo-nos, se possível, se formos capazes, com o que temos. É uma boa ideia, mas não sei se é sempre possível. Há casos realmente espectaculares, como o daquele atleta olímpico que vai, agora, aos Jogos, sem pernas. Quanto à morte, à festa, à alegria e à tristeza: penso que, na morte de alguém, se essa pessoa foi querida, se tivermos prazer ou orgulho em conhecê-la, alegramo-nos ao recordá-la e aos momentos, mas ficamos tristes por não podermos estar mais com ela. A morte de alguém querido é uma partida, um adeus, talvez para sempre, e confrontarmo-nos com a perspectiva dessa ausência não é fácil, penso. Daí a tristeza.
ResponderEliminarUm abraço,
Nuno.
Pois essa é a visão que tens agora da tua vida. Quando, se mudares a tua visão, mudas a tua vida. O destino humano em si não é livre nem deixa de ser, o entendimento do homem é que o define.
ResponderEliminarSeria bom que fosse o entendimento que o definisse, mas, infelizmemte, a fome não me deixa pensar... :)
ResponderEliminarConcordo, porém, em que se mudarmos a nossa visão da vida mudamos a nossa vida, ou pelo menos asism parece.
E concordo também em que podemos ser mais ou menos livres, dependendo da nossa visão do mundo, etc., sendo ela própria que, muitas veze,s nos aprisiona. Por isso, penso que um dos objectivos para quem se quer libertar, tanto quanto for possível, é não ter nenhuma visão intelectual do mundo mas, apenas, contemplá-lo, percebê-lo, sobre ele reflectir, na sua concretude, como ele parece ser, e nãosegundo os nossos preconceitos ideológicos ou eventuais desejos.
Mas da fome, dessa, não nos libertamos.
Qual, a da alma ou a do corpo?
ResponderEliminarDo corpo.
ResponderEliminarTua, não acredito... a do mundo, já difere... mas isso se nos incomoda ajamos então no que podermos... de resto, o que não está ao nosso alcance fazer, se nos deixamos embrulhar nesse sentimento de impotência não sei a quem estamos a ajudar...
ResponderEliminarNão fomos nós que fizemos o mundo, nem a nós próprios, por isso devemos senti-lo de modo fraterno e isso não é confundirmo-nos com ele transformando num lugar obscuro e de tristeza, é fundirmo-nos de modo a que se faça luz... a meu reduzido ver.
e não há nada como começar a fundirmo-nos com o mundo mais próximo... senão ainda é mais ilusão querer interferir no que está longe...
ResponderEliminarConcordo, mas para que se faça luz é preciso que enfrentemos de frente - eheh - os problemas, e não que os escondamos por debaixo de um suave manto de terna invisibilidade, como se não existissem, pois nesse caso sofreremos mais, porque nos impediremos a nós mesmos de nos realizarmos enquanto seres humanos, de minimizar esse sofrimento, de reconhecê-lo, como ele é, para que consigamos enfrentá-lo e partir para outra, para o melhor dos mundos possíveis. Uma falsa alegria, um falso contentamento, nunca foi bom. Reconhecermos que estamos tristes ou que sofremos é o primeiro passo para que nos alegremos e que não soramos, tal como a cura da doença começa pelo reconhecimento da mesma, diagnóstico, etc. Se fingirmos que não estamos doentes, não nos tratamos e ficamos mais doentes. É a mesma coisa. Agora vou almoçar, que só tenho uma horinha de almoço. See you later, alligator.
ResponderEliminarConcordo em que nos devemos "fundir" com o mundo mais próximo ou pelo menos com aquele que é possível, próximo ou não. Vou almoçar.
ResponderEliminarReconhecer o que não está ao nosso alcance alterar -num dado momento- não é fingir que não há problema é vê-lo inteiro - problema e solução, num só. Quando nos fixamos apenas na cara do problema, lamentando-o, não se chega à solução. Ou se deixa que se solte de nós uma solução vinda de dentro ou... continuamos a viver pelo que está sob o nosso relativo controlo, atentos...
ResponderEliminarFala aqui a teoria que almeja apaixonadamente aliar-se à prática... ;)
ResponderEliminarCaro Nuno apercebo-me afinal que o que nos divide mais é o modo de expressar uma vivência que, talvez, seja em tudo muito semelhante. Pois, quando disse que a dor era desejável e desejada a não ser quando não fazia sentido, estava no fundo a falar do que designas por catarse e superação. Parece-me que no fundo estávamos a dizer algo sobre uma vivência semelhante mas diferente no modo de ser dito, pensado e talvez até, sentido.
ResponderEliminaré claro que poderá haver muitas outras diferenças (e ainda bem que assim é, para podermos partilhar e aprender uns com os outros). Espero ainda vir a aprender muito contigo e com todos.
qt à ideia da festa de despedida era a sério, e uma vez que já sei que vou morrer (não sei quando) estão já, desde sempre, convidados! é só dizerem a hora e o local, tem é de ser FESTA e profunda!
Um bem hajas ^_^
pedro.
Anita: mas estou precisamente a dizer que é bom que reconheçamos o que não está ao nosso alcance alterar! Porque assim poderemos assumir essa carga, peso, necessidade, e concentrar-nos, para lá disso, no que podemos alterar. Estou a defender, no fundo, que sejamos mais conscientes das nossas limitações, por exemplo a fome, o envelhecimento, para que ultrapassemos, da melhor forma que conseguirmos, o sofrimento que essas limitações trazem. Mas se fosse assim tão simples há já muito que estaria resolvido!
ResponderEliminarAbraço.
Pois mas isso também é porque o homem tem um certo "fascínio" por tornar as coisas mais complicadas do que elas são... mas cada coisa tem o seu tempo.
ResponderEliminarPedro: penso que todos os seres humanos têm vivências muito semelhantes, embora muitas vezes não consigamos exprimi-las de forma semelhante, por várias razões. Há quem tenha, por exemplo, acredito que, mais capacidade para verbalizar os seus sentimentos do que outros, e outros para os exprimirem melhor, de forma mais clara, etc. Mas ao nível da vivência, penso que ela não deve andar muito longe... Claro que podemos sempre argumentar que, em princípio, a vivência de um Ghandi terá sido completamente diferente da de um Hitler... não sei...
ResponderEliminarAnita: concordo em que temos tendência para complicar: muitas vezes, as coisas estão à nossa frente e, ainda assim, começamos a pensar: "E se...", e, então, perdemos nos "labirintos" da mente, idealizamos, fantasiamos, e não saímos da cepa torta.
ResponderEliminarPenso que tens falado sobre o amor. E penso que o amor é um grande antídoto contra essa prolixidade mental desnecessária e que não leva a lado nenhum. Por isso, talvez, essa nossa saída do mundo, para a fantasia, se deva a carências, falta de amor, etc.,.. o amor resolve... mas o amor não é passarmos uma vida inteira ao lado de alguém que um dia amámos...
ResponderEliminar(e continua a saga dos comentários...ehehe) sim esse próprio é um engano condenado à partida... só o amor infinito redime e nos faz sentir totalmente vivos.
ResponderEliminarAmor infinito... sim... o infinito num olhar... mas até quando? Até nos despantarmos? Seria bom que durasse sempre mas... será possível? Só a experiência o dirá.
ResponderEliminarDentro de nós podemo-lo sentir infinito, se o vamos buscar como partindo de fora é que é mais difícil...
ResponderEliminarAí é que discordo. Quero ir buscá-lo aí fora, no concreto, num olhar, na Natureza, na Arte, etc. Não quero ficar fechado dentro de mim, mas de mim sair. É que a mente é um labirinto, uma espécie de prisão. Se lá entras, cuidado para não ficares fechada, ainda que penses que encontraste uma grande abertura para o infinito, para o longínquo, etc. Imaginações?
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