Um espaço para expressar, conhecer e reflectir as mais altas, fundas e amplas experiências e possibilidades humanas, onde os limites se convertem em limiares. Sofrimento, mal e morte, iniciação, poesia e revolução, sexo, erotismo e amor, transe, êxtase e loucura, espiritualidade, mística e transcendência. Tudo o que altera, transmuta e liberta. Tudo o que desencobre um Esplendor nas cinzas opacas da vida falsa.
terça-feira, 3 de junho de 2008
O que procuramos no amor senão uma iluminação, uma soberania, um apocalipse ?
in A Cada Instante Estamos a Tempo de Nunca Haver Nascido.
"Tous les amants lorsqu'ils s'aiment se retournent sur leur ombre et en s'enlaçant l'écrasent."
Pascal Quignard, "Vie Secrète", 415
Os irmãos que não se procuram, como os amantes que se encontram, têm a mesma força na Ideia. E dizem o mesmo. Uma mesma onda de mar apocalíptico os faz fragmentarem a beleza aos pedaços, para nos oferecerem a doçura do que sabem de inefável. Que caderno mais cheio de vida secreta e impartilhável do que este que foi escrito nas margens do rio em delírio e entre lírios! Tão frágil sem a água do que se viu a alimentá-los... Está este livro pleno de fragmentos da planície do Fedro. Vou ficar a ler mas tenho medo de os quebrar. São finos os fios com que estão escritos. Um sorriso cheio do cristal que nasce dos olhos de quem lê estes pensamentos. Visões, revisões...
Os amantes não são corpos, são corpúsculos de luz porque parecem distantes a quem os olha da Terra, mas são um acontecimento divino no mundo dos celestiais. Não se abraçam, os amantes, iluminam-se, creio. Incendeiam-se. É esse outro fogo que alivia Prometeu, o faz amar ainda mais a humanidade. A tal ponto que deixa de se sentir castigado.
Felicito-o por estes rasgos concentrados de pensamento que agora nos revela, como uma síntese de inúmeras páginas de alguns dos seus livros, mas que nem por isso, perderam o fôlego e o vigor expressivo que sempre os caracteriza. A obra do Paulo parece ter a estranha e singular qualidade de dizer o instante mudo do próprio pensamento e das palavras que utiliza.
Ah, se o amor acontecesse ! Ou se pudéssemos suportar o seu advento ! Quantos Novos Céus e Novas Terras não se abririam a desorbitar-nos ! A sombra do existir enfim esmagada, como no belo aforismo de Quignard !
Cara Verónica, não se iluda, não se iludam ! O que só importa em tudo é precisamente esse "instante mudo" que nunca ninguém ex-pressou ou ex-pressará, porque ninguém pode forçar à exterioridade o que não tem fora nem dentro... E aquele que aplaude pode nem sequer estar em cena...
Ah se o amor falasse lá do outro mundo...diria este poema:
"Para ti vão as palavras mais belas Esta noite falaremos sobre nós e sobre os pássaros Não daremos ouvidos à longa e sumida história Dos homens expulsos de suas casas Pela morte com mandíbulas de ouro Homens menos altivos que animais Que acompanham a miséria para onde quer que vá Porque não chegam eles pois integralmente nus A um refúgio de claridade como o nosso Cuidamos um do outro Dia após dia guardamos a nossa vida Como um pássaro a sua forma aberta E a sua delícia Entre tantos pássaros que hão-de vir." Paul Éluard, "Nós não importa onde"
O amor não existe aqui, mas está entre os pássaros que hão-de vir, diz o poeta e ele lá saberá... Devemos ouvir os poetas para se estar preparado para a desorbitação dos corpos e para a explosão das almas. Enfim, a sombra desfeita! Mas, para as coisas verdadeiramente importantes nunca se estará preparado, lá lembra outro, tão grande poeta como este que não digo o nome...enfim. Fica o suspirar entre um e outro. Lê-los é tarefa demiúrgica...ou então esperaremos os pássaros que hão-de vir. Esperar tem essa dupla condição: preparar-nos e impreparar-nos. O que vem pode ser o inesperado. Pode ser a iluminação, a soberania, o apocalipse ou não...
"Tous les amants lorsqu'ils s'aiment se retournent sur leur ombre et en s'enlaçant l'écrasent."
ResponderEliminarPascal Quignard, "Vie Secrète", 415
Os irmãos que não se procuram, como os amantes que se encontram, têm a mesma força na Ideia. E dizem o mesmo. Uma mesma onda de mar apocalíptico os faz fragmentarem a beleza aos pedaços, para nos oferecerem a doçura do que sabem de inefável. Que caderno mais cheio de vida secreta e impartilhável do que este que foi escrito nas margens do rio em delírio e entre lírios! Tão frágil sem a água do que se viu a alimentá-los... Está este livro pleno de fragmentos da planície do Fedro. Vou ficar a ler mas tenho medo de os quebrar. São finos os fios com que estão escritos.
Um sorriso cheio do cristal que nasce dos olhos de quem lê estes pensamentos. Visões, revisões...
Os amantes não são corpos, são corpúsculos de luz porque parecem distantes a quem os olha da Terra, mas são um acontecimento divino no mundo dos celestiais. Não se abraçam, os amantes, iluminam-se, creio. Incendeiam-se. É esse outro fogo que alivia Prometeu, o faz amar ainda mais a humanidade. A tal ponto que deixa de se sentir castigado.
Quem pode suportar o amor, que não é deste mundo ? Onde o amor acontece, o mundo evanesce.
ResponderEliminar"Se não me conheces, meu amor, de antes de haver mundo, jamais me conhecerás!"
ResponderEliminarAutor muito belo e que não é deste mundo.
Estimado Paulo Borges,
ResponderEliminarFelicito-o por estes rasgos concentrados de pensamento que agora nos revela, como uma síntese de inúmeras páginas de alguns dos seus livros, mas que nem por isso, perderam o fôlego e o vigor expressivo que sempre os caracteriza. A obra do Paulo parece ter a estranha e singular qualidade de dizer o instante mudo do próprio pensamento e das palavras que utiliza.
Saudações.
Verónica Rio
Ah, se o amor acontecesse ! Ou se pudéssemos suportar o seu advento ! Quantos Novos Céus e Novas Terras não se abririam a desorbitar-nos ! A sombra do existir enfim esmagada, como no belo aforismo de Quignard !
ResponderEliminarCara Verónica, não se iluda, não se iludam ! O que só importa em tudo é precisamente esse "instante mudo" que nunca ninguém ex-pressou ou ex-pressará, porque ninguém pode forçar à exterioridade o que não tem fora nem dentro... E aquele que aplaude pode nem sequer estar em cena...
ResponderEliminarAh se o amor falasse lá do outro mundo...diria este poema:
ResponderEliminar"Para ti vão as palavras mais belas
Esta noite falaremos sobre nós e sobre os pássaros
Não daremos ouvidos à longa e sumida história
Dos homens expulsos de suas casas
Pela morte com mandíbulas de ouro
Homens menos altivos que animais
Que acompanham a miséria para onde quer que vá
Porque não chegam eles pois integralmente nus
A um refúgio de claridade como o nosso
Cuidamos um do outro
Dia após dia guardamos a nossa vida
Como um pássaro a sua forma aberta
E a sua delícia
Entre tantos pássaros que hão-de vir."
Paul Éluard, "Nós não importa onde"
O amor não existe aqui, mas está entre os pássaros que hão-de vir, diz o poeta e ele lá saberá...
Devemos ouvir os poetas para se estar preparado para a desorbitação dos corpos e para a explosão das almas. Enfim, a sombra desfeita! Mas, para as coisas verdadeiramente importantes nunca se estará preparado, lá lembra outro, tão grande poeta como este que não digo o nome...enfim.
Fica o suspirar entre um e outro. Lê-los é tarefa demiúrgica...ou então esperaremos os pássaros que hão-de vir. Esperar tem essa dupla condição: preparar-nos e impreparar-nos. O que vem pode ser o inesperado. Pode ser a iluminação, a soberania, o apocalipse ou não...