Um espaço para expressar, conhecer e reflectir as mais altas, fundas e amplas experiências e possibilidades humanas, onde os limites se convertem em limiares. Sofrimento, mal e morte, iniciação, poesia e revolução, sexo, erotismo e amor, transe, êxtase e loucura, espiritualidade, mística e transcendência. Tudo o que altera, transmuta e liberta. Tudo o que desencobre um Esplendor nas cinzas opacas da vida falsa.
quinta-feira, 12 de junho de 2008
na minha infância
irei pelas veredas de não ter que sim
e matarei a sede na fonte da aldeia onde vivi de férias
quando era criança
nunca lá estive com sede
e a sua água refresca-me todas as sedes
na crepitação repentina de só querer o sol e o aroma das flores
quando não tenho o que fazer com o corpo amarrado à secura dos afazeres
caio em mim com estrondo até os ossos se me sentirem rubros à beira de se entornarem pelo chão
não há meio de derrotar a possibilidade de me querer alado
talvez na minha infância poderei ter sido isso mesmo que se escorre por entre a aridez dos dias
talvez aí já não faça sentido querer ser com esta ou aquela maneira de ser
talvez
e a vida pode bem estar nas coisas pequenas como que em estado de fuga mas à espera que eu não me perca
com esta mania de querer dizer tudo
a tentar agarrar o que não pode dizer-se com o visgo untuoso das palavras rogatórias
pobre maneira de ser indigente
mais vale sê-lo sem que isso signifique que me falta muita coisa
perdido para que sim
na minha infância
infância, esse tempo perdido no sem tempo... vagamente concreto... completo.
ResponderEliminarPaulo Feitais,
ResponderEliminarConheço a sua escrita desde o primeiro verso. «Não há meio de derrotar a possibilidade de me querer alado». A vida pode e tantas vezes está nas coisas pequenas... São versos que guardo, porque sim.
Um abraço