quarta-feira, 11 de junho de 2008

Império da Eterna Criança (corrigido)

O mundo assiste à histórica luta animal pela sobrevivência, em defesa da matéria e do território, o que obriga o homem a estar desperto para o mundo exterior sem que possa viver o pleno despertar. Para estar inteiramente acordado o homem precisa de acordar o corpo com o despertar da mente: o sonho. Quando se é criança ou amante, não se pensa e vive-se de modo intuitivo, mas quando se cresce num mundo que se auto-convenceu como sendo -im-puramente real e se adquire a sabedoria racional, começa-se a distinguir o que se vê desprezando a inerente interligação entre os opostos que geram a própria vida.
O ser humano, ao desenvolver-se, confunde-se, pensando que o seu estado natural é estar desperto para o exterior, mas a sua origem é o sono. Cada ser humano nasce da união do sono com o sonho, opostos entre si, por isso, ao viver, dorme apenas, depois sonha durante o sono, reproduzindo o período embrionário, seguido então da transição do sonho interior para o exterior, como no nascimento, ou seja, a vida do homem reproduz, a cada dia, a própria criação.
A humanidade pensa que vive acordada mas não dá conta que para despertar a mente precisa de sonhar, ou melhor, está a sonhar que é, mas como não se lembra disso, vive a sério o próprio sonho, assim, adormece, como que regressa ao estado de sono por não saber que se sonha – como se não sabe que se dorme durante o sono.
O homem sente-se sujeito mas vive num mundo de objectos, representa-se pela máscara do corpo, finge ser-se através do que não é: matéria. Apesar disto, o homem não contempla o simbolismo da vida, mais, esquece que vive submetido ao tempo, o que só lhe permite estar a ser mas nunca chega a ser o que é, porque sempre muda. Ao definir-se este mundo como real vive-se uma realidade irreal, porque realidade é objectividade, pelo que para se viver a vida só como real o homem deveria não (se) pensar, visto não ser mais que um objecto.
Não passamos de simples actores no teatro do mundo, onde se entrecruzam peças que continuamente se iniciam e terminam. Cada homem participa num espectáculo que, por ser passageiro, deveria ser representado de modo lúdico. No entanto, os actores levam a sério aquilo que tem componente de brincadeira, esquecem-se que apenas estão a figurar vidas que, ao cair do pano, findam. Embrulharam-se tanto nos seus papéis que se confundem com eles, já não sabem quem são nem aproveitam plenamente esta imitação da vida.
Afortunadamente, a criança acorda o princípio com o fim, une dentro e fora, pois tem ainda presente que o que está dentro gera o que está fora. O adulto olha para o que está fora desligando o fim do princípio.
Portugal “está dormindo” (segundo Pessoa) porque se esqueceu que sonha, está adormecido para o sonho que está a viver pois pensa estar a viver uma realidade separada do sonho, ou seja, ilusória.
O português sente-se profundamente o eterno menino, que está em todo o lado e não é em nenhum, não é nada e pode ser tudo, sonha o invisível, continua próximo da origem, o que lhe concede a capacidade de fazer renascer a humanidade para o sonho em que vive desde sempre e que ficou escondido nas asas do tempo e nas sombras da matéria.
É a Hora do povo Luso acordar este mundo iluso com o mar dos sonhos em que vive!
É a Aurora do V Império!
Império da Eterna Criança

P.S.: E aí sim, deverá escrever-se homem com "H" grande, porque então sim, ele poderá integrar o "H" ao seu sono: viver o sonHo.

7 comentários:

  1. O texto é muito interessante, mas porquê destacar o povo luso ? Só a ele caberá despertar o mundo iluso ? Há de facto uma tendência na nossa cultura para nos vermos como mediadores do despertar universal (Vieira, Pascoaes, Pessoa, Agostinho da Silva)... Porquê ?

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  2. É referido "Povo Luso" como simbolismo, como a própria vida o é. Porque te destacas como "interrogativo"? A palavra "Luso" apenas nos revela o que está encoberto, mas o que algo É, no seu âmago, não é descritível, é silêncio. O mais fiel será mesmo não chamar nada, calamo-nos, e aí, sim, somos o que somos... infinito.

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  3. Porque o que "há de facto" é não haver nada.

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  4. Então porque falas de "Povo Luso" e não de "sardinhas em lata", por exemplo, se todas as palavras valem o mesmo, ou seja, nada, perante o que se não pode dizer !?

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  5. «Ontem eu sonhei que via
    Deus e que a Deus falava;
    e sonhei que Deus me ouvia...
    Depois sonhei que sonhava.»

    António Machado

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  6. Não digo que as palavras não valham, não podem é querer valer o que nomeiam.

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  7. Sim, sim. Podiam ser outras as palavras, é mesmo? Povo Eleito, por exemplo, ou Raça Superior, ou Nós os Bons?

    Pobre de mim, alma perdida, pois, iluminada gente!!

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