Estou desde o dia 7 na bela cidade de Heidelberg, coracao da Alemanha romantica (daí as falhas do teclado), em cuja Universidade proferi ontem uma conferencia, num Colóquio luso-alemao sobre "Filosofia e Religiao": "De Deus, o "único ateu perfeito", ao "baile de máscaras" da criacao em Teixeira de Pascoaes". Foi curiosa a reaccao dos professores alemaes: Halfwassen, especialista em neoplatonismo, disse que Pascoaes parecia um romantico negro e um Escoto Eriúgena enlouquecido; outro falou da influencia de Nietzsche; de um modo geral, estao a ficar muito interessados pelo pensamento portugues e pela Saudade, dizendo que nós continuamos até hoje, de forma vivida, a tradicao romantica que na Alemanha foi esquecida. Boa parte destes amigos alemaes sao schellinguianos... Markus Gabriel, grande entusiasta destes encontros luso-alemaes, insistiu para que seja preparada uma antologia de pensamento portugues para ser publicada na Alemanha, o que vou fazer. O tradutor será o Dirk Hennrich (o DH deste blogue), que veio de Basileia para estar ontem connosco e com quem tive o prazer de conhecer uma cervejaria antiquissima e belissima onde servem a cerveja mais forte do mundo (33 graus !). Nao, nao bebi, porque ainda tinha de ouvir uma conferencia sobre o pensamento egípcio... Mas a tentacao, perigosa, é grande. Tao grande como a de me perder nos alfarrabistas, onde aliás encontrei a preciosa edicao de 1952 das Obras completas de Angelus Silesius. E com ele trago Eckhart, Nicolau de Cusa e Jacob Boehme.
Entretanto convidei um jovem doutorando alemao a escrever um artigo para o segundo número da "Nova Águia" sobre a profunda impressao metafísica que lhe causou Lisboa, que ele descreve como a cidade onde identidade e nao-identidade se conjugam plenamente. Segundo ele, Lisboa revela a imperfeicao (no sentido de incompletude) das formas, abertas ao infinito... Concordo plenamente.
Com toda a pena nao poderei estar na Festa do Espírito Santo na Arrábida, no Domingo, dia 11, mas exorto a todos que a nao percam. O programa está na coluna direita deste blogue. Que as Línguas de Fogo do Santo Espírito sobre vós descam !
Um Abraco serpentino e emplumado
Paulo
:)
ResponderEliminarbom fim de semana
ResponderEliminar"E a senhora da aurora é já senhora
ResponderEliminarDa tarde e da piedade... e o seu olhar,
Que era sorriso e luz, dir-se-á que chora
E que se fica, extático, a cismar.
[...]
E a tarde vai andando, e a soledade
Segue seus passoa de oiro...
E ao lado dela,
Piedosa e humilde, vai minha saudade,
O que há, em mim, de lírio e de donzela...
Esta ternura espiritual que aflui
À flor da minha voz, silêncio em flor,
E me dilui
Em penumbra de lágrimas e amor."
[...]
E a senhora da tarde vai sozinha,
Entre fantasmas lívidos, sem medo...
Pois é fantasma esta saudade minha
E este penedo..."
[...]
Teixeira de Pascoaes
uma boa cerveja.....diverte-te.
ResponderEliminar"Meus amigos
ResponderEliminarDevo dizer-vos, com tôda a franqueza e sinceridade possíveis, que, ao contrário do que às vezes se julga, nunca pensei nada de completo, de coerente e de algum futuro, senão depois de ter reencontrado, por Jaime Cortesão e António Quadros, o chamado Culto Popular do Espírito Santo ou Culto do Divino. O que, para mim, não exclui, e por isso empreguei o reencontrar, que tenha eu próprio andado no tal século XIII, e marítimo de Algarve, pastor do Alentejo, ou já aburguesado no Pôrto, envôlto com os outros na Festa do dia de Pentecostes em que sonhava o povo português sentir-se já num Paraíso a vir, e até num Paraíso mais seguro, porquanto sem tentações. Ou então a celebrar o Culto noutros tempos mais próximos, e noutros lugares, porque houve Brasil, com os que fugiam de Portugal, e houve América do Norte, com os imigrantes, o que me leva agora a desejar que tenha o Presidente Itamar, o tão de Minas Gerais, algum pensamento de lembrança, e, por muito diferente que seja a linguagem, sejam fieis ao mesmo anseio, os de uma Presidência casada, Bill Clinton e Dona Hilária. Ou que mais longe, pelo menos em espaço, quem sabe na China de Deng Xaoping, se esteja avançando para a junção de duas faces, ambas visíveis e tocáveis, de um corpo perpetuamente misterioso, existente e inexistente, uma face de economia e uma face de teologia, místicas e talvez automatizáveis as duas, mas sempre com nítidos e gerais efeitos práticos. Pôsto isto assim, e acreditando num universo sacralizável ou de que se descobriria o Sagrado, na possibilidade de uma vida gratuita, numa defesa e desenvolvimento contínuos do Poeta que nasce em cada Criança e numa desejável inteira liberdade de cada ser, o melhor é não o andarmos pregando, mas o pormos em prática. Como felizmente o posso fazer não ficarei com direitos de autor das Folhinhas, como não tenho ficado com os de outras publicações. São de todos os Amigos, as reproduzirão como queiram. Os tais quinhentos escudos serão só para o material e portes de quem as queira receber em casa. Sempre com muita pena de a correspondência ainda não ser gratuita. Mas, um dia, lá chegarão os CTT.
Lua Cheia de 8.3.93"
Sendo assim, vamos à Festa do Espírito Santo na Arrábida.
Além da cerveja de 33º, também há o vinho ... No castelo, há o maior barril de vinho do mundo, com capacidade para 221.000 litros. Que foi construído por Karl Theodor em 1751. Ora aí está outra perigosa e excelente tentação!
ResponderEliminarCara Ébria, ora aí está uma excelente proposta !... Até porque já passei a prova da cerveja de 33 graus... Apenas escrevi mais um aforismo: "O mundo segue o curso da sua nao existencia".
ResponderEliminarInfinitamente grato.
Quem me dera estar com vocês no dia 11 de Maio. Amigos, não estarei ai no proprio Dia de Pentecostes, mas pouco tempo depois:-)!
ResponderEliminarFica de pé o nosso encontro Serpentino em Lisboa?
Paulo, manda aí um abraço ao Manuelinho, que pelos vistos é teu companheiro de viagem e anda aí a desencaminhar-te por terras Teutónicas.
;-)
Já não habito esse Castelo, caro Paulo! Agora, estou por aqui, em terras lusas...
ResponderEliminarPodes trazer-me uma dessas cervejas de 33graus?
"O mundo segue o curso da sua não existência" - dizes tu.
"E eu, quase sem existência, apenas fito uns olhos ausentes na labareda, louca de fumo, a crepitar desejos incendidos"
"Não existimos mais que os nossos sonhos"
Beijos ébrios para ti e para o "caminho dos filósofos" em Heidelberg.
Cara Ébria, na verdade fiz o "caminho dos filósofos" (de Hegel e Hölderlin) e aconteceu que levei comigo os doze volumes da Obra Completa de Hölderlin, acabados de comprar... E imagine-se o que encontro, à direita, para me levar para a Ponte Velha: "Schlangeweg", o "Caminho da Serpente" !... Coincidencia !?...
ResponderEliminarNão há coincidências, Caro Paulo! Há causas ... Agora, o "Caminho dos Filósofos" também é teu ... e, tonta como estou já só consigo beijá-lo rastejando como uma Serpente... fazendo o "Caminho da Serpente"!
ResponderEliminarE a Igreja do Espírito Santo? Imperdivel... Não deixes de visitar...
Cara Ébria, já a visitei, sim. E tu, estiveste na Festa do Espírito Santo, na Arrábida ? Já nos conhecemos ou só tu (pensas que) me conheces ?
ResponderEliminarSerpentinamente
Sim, Paulo! Fui à Festa do Espírito Santo... em sonhos, só em sonhos... mais reais que a realidade! Sonhei-nos todos, mesmo todos, na Arrábida... e eramos muitos... havia poesia, folia, comida, bebida... e Festa. Muita Festa! Não chovia. (parece que choveu) !
ResponderEliminarComo não sonhar com a Festa !? Só soube que não ia às três horas da manhã de Pentecostes!