"...quão formosos são teus pés nas sandálias
filha de príncipe
as curvas dos teus quadris parecem colares
obra das mãos de um artista
teu umbigo uma taça redonda
que o vinho nunca falte
teu ventre monte de trigo
cercado de lírios
teus seios dois filhotes
gémeos de gazela
teu pescoço torre de marfim
teus olhos as piscinas de Hesbon
junto às portas de Bat-Rabim
teu nariz como a torre do Líbano
voltada para Damasco
levanta-se tua cabeça como o Carmelo
e teus cabelos côr de púrpura
um rei trazem cativo dos seus laços
como és bela como és desejável
amor em delícias
semelhante à palmeira é o teu porte
cachos de uvas são teus seios
Pensei vou subir à palmeira
vou colher dos seus frutos
sejam teus seios cachos de uvas
o hálito da tua boca perfume de maçãs
tua boca guarda o melhor vinhoque na minha se derrama
molhando-me lábios e dentes".
Cântico dos Cânticos, Quinto Poema, VII
"À sua frente surgiu o jardim dos deuses,com árvores de pedras preciosas de todas as cores,maravilha de se ver.Havia árvores de rubis, árvores com floresde lapis-lazuli, árvores com cachos de corais gigantescomo se fossem tâmaras. Por todo o lado,brilhando em todos os ramos, havia jóias enormes:esmeraldas, safiras, hematites,cornalinas, pérolas.Gilgamesh contemplava tudo deslumbrado."
Descrição do Jardim de Gilgamesh
Gostei =)*
ResponderEliminarque poema tão fixe. é de quem afinal? não está assinado.
ResponderEliminarEstá sim, Anónimo!
ResponderEliminarLê outra vez ...
"Que ele escorra por sobre o meu amado,
ResponderEliminarmolhando-lhe os lábios adormecidos.
Eu pertenço ao meu amado,
e o seu desejo impele-o para mim.
Anda, meu amado,
corramos ao campo,
passemos a noite sob os cedros;
madruguemos pelos vinhedos,
vejamos se as vides rebentam
e se abrem os seus botões,
e se brotam as romãzeiras.
Ali te darei as minhas carícias.
As mandrágoras exalam o seu perfume,
à nossa porta há toda a espécie de frutos,
frutos novos, frutos secos,
que eu guardei, meu amado,
para ti."
Cântico dos Cânticos VII
Deixa soltos os cabelos, amada!
ResponderEliminarQue o odor deles se espalha
pelo meu braço nu
És como mirra, incenso e óleos
para os meus sentidos.
Para brilhar neles a lua
traçou um círculo de fogo no céu;
O sol já se deitou, amada.
E o barco aguarda no porto
Partamos de mãos dadas
A caminho do mar deleitoso
e terno;
Aí te darei a provar o néctar
dos deuses.
A prata dos teus cabelos frizados
espelhará no mar os desenhos
do nosso canto precioso;
Tágides, calai-vos, agora
Que vai passar a barca
E a minha amada treme nos meus braços.
A tua face de ébano faz empalidercer Afrodite;
As pestanas da tua face
são macias asas de borboleta.
A noite chega.
Não temo o mar.
A luz dos teus olhos ilumina
os mares e acende fogo ardente
no meu coração.
está sim, atenta? o poeta chama-se cântico dos cânticos, quinto poema ou jardim de gilgamesh? obrigada.
ResponderEliminarSobre o ver e perder-me nos jardins com olhos de criança:
ResponderEliminar1. Recebo para dar. Do.ar. Reparo: re.paro, apesar do cansaço, do extenuamento, depois do jardim de Gilgamesh, que as asas voam. Batem. Soam. O espelho fende-as mas não as quebra. Como as mãos. As mãos são asas. E, depois de contemplar sem olhos e sem visão, encontro o caminho para a perpetuação do visto.
2. Só se vê com o tacto. Ver é tocar. Toca-me a memória de um Maio em que escrevi muito e fundamentalmente sobre e com Merleau - Ponty. Nesse Maio tremia, agora quebro-me. Requebro-me e estilhaço-me. Fendo-me, abro fissuras nas mãos, nas asas. Depois da escrita vem a queda, o cansaço. Chegam as vozes e a música que alguém no universo tocou para me recompor desta parte partida que sou, de estar partida. Quando há olhar sinto que deixo entrar, uma porta se abre para eu sair.
3. Ver é ser expulso de si. Ver não é trazer para dentro, é sair de si, para fora, ir ao encontro de…tocar no outro que deu a olhar. Pedir perdão. Ir ao encontro, na cegueira, pode ser magoar. Mas o propósito é doar. Ver é nascer, e quem nasce quando vê não diz. Não diz no juízo. Diz no movimento dos olhos. Vagando. Traçando. Andando. Passando. Atravessando. Girando. Encontrando. Voltando. Abrindo. Rasgando. Parando. Perpassando. Reencontrando. Ficando. Avançando. Recuando. Abrindo. Rasgando. Perpassando. Vagando. Chegando mais perto. Contactando. Pedindo para ficar sem nada de seu. De si. Dentro do que se vê. Rasgando como quando se nasce. Renasce.
4. Os olhos da criança no vácuo, sem sujeito nem objecto, alagando e alargando o universo, compondo um verso mudo e pleno com o Silêncio. O olhar da criança sem perspectiva, tacteando o ar, criando, fazendo das mãos o voar, criando a teia dos pontos invisíveis: unindo, quebrando, perdendo, procurando, guiados por uma estrela o seu olhar real, no incerto, no vácuo. Universal vacuidade que por tudo passa e em nada fica. Se fixa. Pousando nos anjos, sobrevoando e vagando, no e com a linguagem do Silêncio.
5. No ver da criança há olhar, não há visão. Ela olha, como os autores desta recomposição, (Fábio e Mariana) para o ritmo do silêncio. Cadenciam-no, para quebrar a tentativa da visão e da concisão [da palavra]. O olhar dança. Desce. Sobe. A linha parece um mastro de acrobata chinês que ensaia a aproximação ao centro e sabe que o centro está na periferia. Foge. Centra-se. Descentra-se. Acerca-se. Desvia-se para o invisível silencioso que está no olhar que recua, não dá a ver e é só um (ha)ver.
6. Do.ar, no olhar, a nudez da nossa miséria, “être-anges”, étranges, inspiração e respiração no outro pulsar. Olhar salvando o que através de nós voa e nos desprende de nós, do que resta. Não procurar o olhar do outro. Salvá-lo da mesma exposição. Deixá-lo, minério vibrante e brilhante, no fundo sem fundo. Abismar-se e ser, dentro desse abismo, o vidente sem visível, o eco do inaudível Ser invisível quando no olhar nasço e sou criança. Recriança.
Havia mais, mas não vale a pena.
Tens razão, caro Anónimo!
ResponderEliminarCântico dos Cânticos não basta...
Desculpa.
Este livro é atribuído ao Rei Salomão, assim como os Provérbios e a Sabedoria.
Tens razão, caro Anónimo!
ResponderEliminarCântico dos Cânticos não basta...
Desculpa.
Este livro é atribuído ao Rei Salomão, assim como os Provérbios e a Sabedoria.
À Alma do Trovador, que tão lindos versos escreve:
ResponderEliminar"Que ele me beije com beijos da sua boca!
Melhores são as tuas carícias que o vinho,
ao olfacto são agradáveis os teus perfumes;
a tua fama é odor que se difunde.
Por isso te amam as donzelas.
Arrasta-me atrás de ti. Corramos!
Faça-me entrar o rei em seus aposentos.
Folgaremos e alegrar-nos-emos contigo;
mais do que o vinho celebraremos teus amores.
Com razão elas te amam.
Sou morena, mas formosa,
mulheres de Jerusalém,
como as tendas de Quedar,
como os tecidos de Salomão.
Não estranheis eu ser morena:
foi o sol que me queimou.
Comigo se indignaram os filhos de minha mãe,
puseram-me de guarda às vinhas;
e a minha própria vinha não guardei.
Avisa-me tu, amado do meu coração:
aonde levas o rebanho a apascentar?
Onde o recolhes ao meio-dia?
Que eu não tenha de vaguear oculta,
atrás dos rebanhos dos teus companheiros."
Diálogo apaixonado.
Cântico dos Cânticos
Caro anónimo e caros comentadores,
ResponderEliminarPorque as referências precisas também são importantes. Aqui vão as que efectivamente estavam omissas:
1. O primeiro poema que surge no post consta do Antigo Testamento da Bíblia e os poemas são atribuídos a Salomão.
2. Quanto ao texto dois é uma citação da mais antiga epopeia conhecida que relata as "aventuras" do Rei Gilgamesh. Personagem rica e fundadora,da cidade de Uruk, um dos mitos da civilização Suméria.
«A Epopéia de Gilgamesh é a história de um rei sumério da cidade-estado de Uruk que teria vivido no século XXVIII a.C.. Seu registro mais completo provém de uma tábua de argila escrita em língua Acádia do século VII a.C. pertencente ao rei Assurbanipal, tendo sido no entanto encontradas tábuas com excertos que datam do século XX a.C., sendo assim o mais antigo texto literário conhecido.
A primeira tradução moderna foi realizada na década de 1860 pelo estudioso inglês George Smith.» (Wikipédia)
A citação é a do capítulo IX da recente edição de STEPHEN MITCHELL, o livro intitula-se GILGAMESH
A New English Version
Free Press, 2004.
Peço que me desculpem o lapso. Mas quando as palavras e as imagens nos arrebatam, por vezes, deixamos ao leitor o prazer da sua própria pesquisa e descoberta.
Recomendam-se ambas as leituras...
Um abraço a todos e obrigada pelos comentários.