Eu, a Pedra e a Montanha somos Um
Este é o Mito do HighLander que eu ilustro com o relato sumário da última caminhada Ben Nevis acima e abaixo. (HighLands, Julho 2005)
Primeiro, foi o meu sorriso, convencido da benevolente quietude e beleza da Montanha.
Os primeiros passos quase não os senti, nem em mim, nem na Montanha. Levitava ou voava, o corpo em desmaterialização com uma receptividade inocente como se não soubesse o que o esperava. Ou se o sabia, não se adiantou no tempo como acontece nos presságios. No céu, algumas nuvens levitavam no azul, e os raios de sol prometiam a imensidão. Uns leves chuviscos salpicavam o meu contentamento com mais ânimo e à medida que subia, mais claro e mais amplo se tornava o vale com o rio a serpentear pelos sopés.
O vento, já presente em brisa na partida, começou a agitar-se com repentinos sopros e mais fortes, com chuva. O terreno crescia mais acidentado e pedregoso. Andar é fixar o olhar no chão, um exercício tenso de esvaziamento. Anelante e cinzenta, uma camada de nevoeiro cobria agora o céu não deixando antever a mínima expectativa de distância do cume. Por sua vez, e mais cedo do que davam a entender, as nuvens, como que densas cortinas, transmudavam o colorido do vale em passado. Agora tudo era estreito, não havia nada para ver com os olhos de fora, a imensidão? só na memória ou em algum paraíso imaginado, o verde e o horizonte teriam sido uma ilusão...
Finalmente o frio a expulsar todos os vãos desejos de conquistar o cume, se os havia, e a extrair a quintessência do pulsante Propósito da Viagem. A dor e a imobilização das mãos trouxeram-me emoções de impotência, que durante alguns instantes, longos, me dominaram e desnortearam. No entanto, em momento algum me ocorreu voltar para trás, e tão-pouco continuar a subir foi um acto de valentia. Foi um percurso iniciático.
O cume seria alcançado no sopé do regresso, lugar das alturas que os pés não tocam e que só é vislumbrado pelo espírito do Highlander que vê a montanha, a missão e a si próprio como um só.
Ben Nevis.
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BonDia Lord,
ResponderEliminarGostei de ler no teu poema o cavalo e o homem livres,
mais do que paisagens insustentáveis de beleza
aquelas terras altas são um estado d’Alma, de um psiquismo misterioso que me faz viajar no tempo para um tempo que não me está acessível, mas é remoto, tão remoto que lhe sinto o rasto da eternidade.
...
... as montanhas infindáveis à vertigem de lhes pousar em voo no dorso...
...
...
e a bruma...
...
é a bruma, a mais fascinante experiência na terra,
que me seduz, envolve, agarra e abraça, encobre, ampara, segreda
e me larga, desperta, descoberta, sozinha com a Montanha por única lembrança.
Não há iniciação maior. As montanhas são os tesouros da terra, demasiado puros para se confinarem ao chão, que tantos pisam.
ResponderEliminarNo alto, o Abismo que nos fala é o Trono dos Céus, que não nos abandonou neste Mundo.