De passagem rápida por Lisboa, a caminho de mais uma viagem, deixo-vos o convite para as conferências sobre a questão de Deus, que decorrem no dia 30 no Anfiteatro III da Faculdade de Letras (ver programa em Actividades, na coluna da direita), onde falarei pelas 17h30m sobre «Mestre Eckhart e Longchenpa: do Fundo sem fundo primordial como Nada e Vacuidade» (será uma versão, com alguns acrescentos, da comunicação que fiz no Colóquio de Outubro de 2007, "O Buda e o Budismo no Ocidente e na Cultura Portuguesa".
Fica também o convite para o lançamento da Nova Águia, no próximo Sábado, dia 31, pelas 17 h, no Palácio Pombal, Rua do Alecrim, em Lisboa. Aí será também lançado o meu último livro, A cada instante estamos a tempo de nunca haver nascido (aforismos e fragmentos), apresentado pelo Jorge Telles de Menezes, poeta, ensaísta e eminente tradutor da língua alemã. Deixo-vos com o texto da contra-capa e espero-vos por lá, no esplendor da in-ex-istência.
Escrevo. Para iluminar o Inferno. Tu, que lês, comigo para sempre arderás nas trevas da luz infinita.
És o que há de mais precioso em todo o infinito universo. E por não o suportares tanto te prezas.
Busca o que mais temes, beija-o na boca e sê feliz para sempre !
Este livro é o diário de bordo da viagem instantânea e infinita entre o antes e o depois de haver alguma coisa. O diário da experiência do que se não pode dizer, com todas as suas potências e possibilidades, todos os deuses, demónios, labirintos e abismos, todos os sagazes vislumbres e furiosos arrebatamentos que se acoitam nisso a que se chama existência e vida. O surpreendê-lo na anulação da distância, na palavra súbita e mínima, incandescente ou transida do impossível que incarna.
Na verdade este livro não existe, nunca começou a ser escrito e nunca cessará de o ser. Porque quem o escreve não é só quem julgas, mas, simultaneamente, tu próprio e Todo o Mundo-Ninguém. Aqui dialoga a presença com a ausência, aqui ressoa a presença-ausência, aqui canta a Saudade. Pois em tudo irrompe o mesmo fundo sem fundo da universal metamorfose, a mesma serpente que a tudo abandona como peles da nudez que para além de si e de tudo se empluma.
Este livro é um dos seus rastos. Não tentes segui-lo, pois o que importa é que te libertes, dele, de tudo e de ti. Que agora mesmo te dispas e morras e, neste preciso instante e lugar, ressuscites proclamando a todas as coisas o seu e teu eterno Despertar.
Como é que se pode estar a tempo de nunca se haver nascido ? Existir é reversível ?
ResponderEliminarqhtdybyDa mesma autora desconhecida da outra vez...sempre a tempo de nascer...e morrer.
ResponderEliminar"Atravessou a noite, a ponte entre o tempo e a intemporalidade. No caminho despiu-se das roupas e despediu-se das arcas.Dos tesouros do ser e do ter. Espalhou na escuridão das águas os medos, cobriu os barcos com os panos brancos, enfunou as velas. Atirou o amor, a amizade, a alegria para as estrelas. Atiçou-lhes o calor, a temperatura, acendeu nelas o incêndio com que se consomem para renascerem nas distâncias improváveis.Rebrilharem, dobrarem o brilho, ofuscarem.
Na outra margem, dentro da casa de livros sem tecto, nua, só com o corpo branco em frente ao espelho, assistindo à lenta e fria actuação da definição da cor e da forma, do branco e do contorno, o corpo e o crânio, em quieta apresentação, sem representação,da morte. Ensaiando a condição de Lázaro, de morta-viva, de não ter nascido, de ter chorado e gritado o ser aqui. Ensaiando deixar de ser ou ter, entregue ao jogo da Lua com a noite. Escondendo na sombra essa possibilidade de não ser, treinar a brancura pálida da morte, o seu frio, a sua relação com a desprotecção dos celestiais, confirmando a indiferença dos mortais. Enfrentar o silêncio do mundo, dos mundos distantes e próximos. Ensaiar a ausência do Sol no túmulo de Lázaro, numa casa-túmulo aberta ao infinito, Lázaro sem Cristo, de Cristo fora da Terra e do tempo messiânico.
Em casa, nua e branca, fria e estátua, muda e cega, massa informe sem uma Língua e sem linguagem, a cada instante mármore para um escultor, mãos criadoras, moldarem sem a forma de um "eu" escondido lá dentro. Moldarem impondo a beleza e a bondade da criação na matéria branca de um "ter sido" que se oferece à poética do encontro e da recriação,sem saber com quem, quando e onde. Matéria branca móvel como as páginas de um palimpspesto que os incêndios e o esquecimento, a indiferença e a desvalorização, "a cada instante mostram que tudo está a tempo de nunca haver nascido". Ser branca, folha, matéria vegetal e ou mineral onde possa brilhar a jóia única, o caracter invisível e ilegível, de que nunca saberemos o sentido, a cor, o valor. Ser, como na noite em que o relâmpago rasga em nós a fenda, e nos torna oferenda ao que se aproximar para cuidar e criar. Re-criar. A recriança a despertar."
Parece que autora desconhecida renasce nas páginas, matéria branca, deste livro por abrir...e ficamos a saber que o seu autor entra em casas onde a Lua joga com a noite e encontra a matéria onde molda e renova a recriança que o habita. Por andar sempre a atravessar pontes e habitar nas casas de livros e encontrar matéria sem nome que irrompe de uma antiguidade que não revela tempo e espaço. Revela o mistério de ser e não ser. Lá nos encontraremos nas páginas do livro.