domingo, 4 de maio de 2008

Acorde(m)

A verdadeira serpente é lusa
tem a saudade como musa
e o ensejo de progredir

Porque o progresso real
esconde-se neste pantanal
como graal a descobrir...

Somos, como povo, os eleitos
que das cinzas hão-de ir
percorrendo redutos imperfeitos
tal qual reluzente eremita
que expande e excita
quem dele soube rir.....

A luz cega de Lisboa
emerge ávida da escuridão
tal o seu fado entoa
a tristeza alegre da solidão

Quem, nau do Tejo, se atreveu
a voar por mares escondidos
e do antigo quadrado bebeu
perfumes redondos esquecidos?

A nossa serpente tem asas
maiores que o inconsciente
e tu, corvo eminente,
porque endeusas tábuas rasas?

é que tu és mais vasto que tu
e ninguém a não ser tu
responderá ao teu caos
senão embarcares nas naus



Miguel Barroso

3 comentários:

  1. Há naus que não dormem
    Sonham acordadas
    Sonhos bordados na luz das asas
    Naus que velam a distância
    E tecem caravelas nos olhos dos poetas
    E o Tejo reflecte o esplendor das horas
    No brilho das águas despertas

    Luzes que se acendem
    No mapa da vontade
    De voar sem direcção nem medo
    No coração de esperança da saudade.

    Há naus, aqui, no leito da serpente
    As asas somos nós que aqui passamos
    E acordamos a pátria dormente
    Nas vozes com que a cantamos.

    Há naus que não dormem, aqui
    Dentro das vozes que acordamos.

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  2. Alguem escreveu que "navegar e preciso, viver nao e preciso". O mesmo se aplica a voar:-)!

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  3. Boa Noite Miguel,

    Li em voz alta o teu poema, senti-lhe o pulso e a eloquência, embalada; depois voltei a ele desta vez a murmurá-lo, como se estivesse a segredá-lo ao ouvido, e estou abalada.

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