quinta-feira, 17 de abril de 2008

Uma experiência de êxtase laico e contemporâneo

"Aí onde penetrei era uma esfera de cristal, onde tudo era luz e silêncio - tudo isso que subitamente veio e me envolveu. Esfera feita duma substância poderosamente dura e frágil. Irradiante e geometricamente definida. Fremente e calma: a verdadeira vida nesse lugar desvendada. Impondo-se por uma potência irresistível, uma autoridade incontestável; mas vulnerável, susceptível de ser posta em fuga à menor falta da minha parte. Vinda expressamente para mim, mas fugaz. Impossível de aprisionar porque indizivelmente livre. Uma só imperfeição existia nesse paraíso, não lhe pertencendo, mas acompanhando-o: a certeza do seu fim inevitável, inelutável, num momento desconhecido mas próximo. Esta apreensão subsistia, tal um ponto negro sobrenadando neste mar cintilante de pura alegria" - Dalila Pereira da Costa, "Três meditações sobre o êxtase", Porto, Lello & Irmão, 1972, p.9.

Dalila Pereira da Costa é uma Amiga, autora de vasta obra, a cuja homenagem será dedicado o III Colóquio Luso-Galaico sobre a Saudade, em 19 e 20 de Maio, no Porto e em Viana do Castelo.

2 comentários:

  1. Êxtase é sair ou entrar ? Ou as duas coisas ?

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  2. Seria interessante reflectir sobre este "ponto negro": a "certeza" do fim da experiência extática provoca a "apreensão", o medo, ou são eles que provocam a "certeza" do fim da experiência, que desde o início a minam por dentro ?

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