(Estou a escrever isto do departamento, hihihihihi;-)...)
A menina que aos 10 anos queria ser freira acabou ontem de ler o delicioso "Contos de Escarnio/Textos grotescos" da escritora Brasileira Hilda Hilst. Este livro e a historia dos amores de Crasso e Clodia e faz uma satira comico-erotica aos costumes e mentalidade do meio intelectual e artistico Paulista.
Neste livro, a genial Hilda Hilst assume na perfeicao um papel masculino - Crasso, um libertino - que bebe a vida e as mulheres a trago ate que se apaixona por Clodia, pintora lesbica que gracas a ele se "converte" a heterossexualidade e abandona a sua anterior especialidade de pintora de vulvas para passar a pintar falos.
Nao obstante o tema picaro (ou talvez gracas a ele), este livro "desce" a niveis bastante profundos de reflexao metafisica - A fronteira dubia entre o sublime e o grotesco, o absurdo da condicao do ser humano, animal eternamente aspirante a qualquer coisa que el@ nao percebe o que e, Eros e Thanatos como os gemeos siameses que fazem o mundo girar, o ridiculo da mentalidade racional-tecnocratica e da tecnificacao do ser humano, o tragico sempre a espreita por detras das maiores realizacoes do espirito humano ...
Um dos aspectos do livro que me chamou a atencao e um traco que tem em comum com toda a literatura erotica escrita por mulheres: As mulheres, quando se referem aos seus amantes masculinos, so sao capazes de passar para a palavra sensacoes, factos, sentimentos, reaccoes a qualquer coisa. Falta as mulheres escritoras a capacidade, para a qual Hilda Hilst teve de se transvestir num personagem masculino - de expressar verbalmente nomes ou adjectivos que exprimem o abismo de volupia e de dissolucao do ego e das convencoes sociais que representa um verdadeiro amante.
Ate agora, pelo menos na lingua Portuguesa, tal capacidade so foi desenvolvida por homens.
O escultor Fernao, personagem do romance "Um Amor Feliz", de David Mourao Ferreira, que entrava em extase e sussurrava "Ah Deusa, ah Putinha", enquanto criava uma figura feminina a partir de um pedaco de barro, ao mesmo tempo que pensava na sua amante.
O personagem Crasso, de "Contos de Escarnio", que ternamente chamava Clodia de "Prostitutissima" e "Putissima amada", possivelvemente em reminiscencia de certas praticas da antiguidade.
E nos, mulheres hetero e bissexuais, com que palavras transgressoras podemos objectivar o misto de sagrado e de lascivia, o assustador extase e o fascinante vislumbre de morte e de um alem que desencobrimos nos nossos amantes masculinos?
Em vez do costumeiro "x fez isto", "y disse isto", "sinto isto por Z", que ternos e obscenos nomes e adjectivos podemos usar para dar forma humana ao abismo de prazer e dissolucao do ego que eles representam enquanto pessoas?
Senhores, querem juntar-se ao debate?
Isto é assunto para o Casto Severo. Mas ele deve andar em retiro...
ResponderEliminarEntão, ninguém debate, ninguém se debate, ninguém bate ?
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