Um espaço para expressar, conhecer e reflectir as mais altas, fundas e amplas experiências e possibilidades humanas, onde os limites se convertem em limiares. Sofrimento, mal e morte, iniciação, poesia e revolução, sexo, erotismo e amor, transe, êxtase e loucura, espiritualidade, mística e transcendência. Tudo o que altera, transmuta e liberta. Tudo o que desencobre um Esplendor nas cinzas opacas da vida falsa.
sábado, 22 de março de 2008
Three Kinds of Souls, Three Prayers:
1) I am a bow in your hands, Lord. Draw me lest I rot.
Milenares, as noites, Baixam sobre os dias Os seus ombros nus Cobertos pelo brilho, finíssimo, da lua O arco das suas costas reflecte O olhar branco da luz, Arco-íris do sonho... As suas asas, gastas de poeira estelar, São o que de mais belo o universo viu.
Por isso, ó noite única, sempre antiga e nova, Única e plural, No universo plural e único! Ó noite, colo de todas as preces, Vem sentar-te junto da minha fogueira! Vem aquecer as tuas asas húmidas de milhares de invernos; Frias de gelos milenares, Gastas de atravessar montanhas e ventos. Vem, ó noite! junta-te ao fogo da minha imaginação…
Milenares, os teus gestos pausados, As tuas lágrimas purificadas, A tua longa cabeleira negra Debruada de miríades de luzes; Sublime o teu perdão, Serena a tua face límpida.; Por isso te entrego o lume das palavras Para que o poema te finja E te coroe, mãe Da minha inquietação atenta.
Abriram-se janelas E deus, que é sol também, entrou nelas. A luz, meio tonta, desse Inverno Disparou sobre os muros, E os ribeiros riram de suas margens; Verdes campos, viram a janela de deus aberta Como um grito na relva, Um germinar de seiva Na alma seca e estéril Da árvore fria e nua do vento.
Que alegria a explodir Pelos olhos adentro! Esse calor da terra que desprende O aroma dos frutos, pelos gomos Dessa laranja redonda, Dessa sede de rebolar na terra, O ventre inchado; A alma cheia de uma lua maior Do que a celeste; Um grito quente da terra! Uma vida acabada de nascer!
No canto sombrio da casa da alma Mora uma presença mansa, Como a de uma flor a crescer de suas raízes. Todos os dias em que a noite sempre chega Oiço essa flor a beber da memória A sua seiva doce.
Acaso essa flor não dorme ainda? Acaso o alimento desse lugar É o seu sustento, e essa presença atenta, A sua forma de ser, não é uma vez mais A essência mesma Do perfume eterno das rosas?
Sabemos que só o sol filtrado Entra nesse lugar, Nunca o sol directo, nunca a vida. Porém as folhas estão verdes e os ramos altos E o perfume é diferentemente o mesmo A cada hora.
Afinal para que inventámos a memória Se não foi para engolirmos o tempo?
Fico contente...Algumas das suas luminosas vibrações também produzem em mim um efeito extremamente benéfico e raro. Gosto de lê-las e relê-las... Obrigado por esses momentos inspiradores e benfazejos.
Milenares, as noites,
ResponderEliminarBaixam sobre os dias
Os seus ombros nus
Cobertos pelo brilho, finíssimo, da lua
O arco das suas costas reflecte
O olhar branco da luz,
Arco-íris do sonho...
As suas asas, gastas de poeira estelar,
São o que de mais belo o universo viu.
Por isso, ó noite única, sempre antiga e nova,
Única e plural,
No universo plural e único!
Ó noite, colo de todas as preces,
Vem sentar-te junto da minha fogueira!
Vem aquecer as tuas asas húmidas de milhares de invernos;
Frias de gelos milenares,
Gastas de atravessar montanhas e ventos.
Vem, ó noite! junta-te ao fogo da minha imaginação…
Milenares, os teus gestos pausados,
As tuas lágrimas purificadas,
A tua longa cabeleira negra
Debruada de miríades de luzes;
Sublime o teu perdão,
Serena a tua face límpida.;
Por isso te entrego o lume das palavras
Para que o poema te finja
E te coroe, mãe
Da minha inquietação atenta.
O dia, esfera de luz e sombra,
ResponderEliminarAfunda no mar as horas
Que foram reais para os olhos.
Os raios que pintam o céu
Espalham de luz dormente
A anunciada nostalgia da hora.
A noite, esfera de silêncio,
Derrama-se no vaso inverso…
Clepsidra de alma e chuva branca.
A música cai na água
Uma pedra pequena e redonda,
Atirada ao lago, acorda a rã
Assusta os pássaros,
Espalha asas
Nas quatro direcções do vento.
Pela luz branca da manhã
Alguém vai viajar…
Que saudades do mar!
ResponderEliminarDesse gigante abismado e negro
Que engoliu o tempo,
Lambendo-o,
Como Cronos lambeu os filhos,
Antes de os devorar.
Nascemos, morremos e voltamos
A encontrar-nos.
Devora-nos o próprio Tempo,
Perdido no Mar:
Nascimento e Morte
Do eterno Mito.
Que saudades do mar!
ResponderEliminarDesse gigante abismado e negro
Que engoliu o tempo,
Lambendo-o,
Como Cronos lambeu os filhos,
Antes de os devorar.
Nascemos, morremos e voltamos
A encontrar-nos.
Devora-nos o próprio Tempo,
Perdido no Mar:
Nascimento e Morte
Do eterno Mito.
Equinócios terrestres
ResponderEliminarAbriram-se janelas
E deus, que é sol também, entrou nelas.
A luz, meio tonta, desse Inverno
Disparou sobre os muros,
E os ribeiros riram de suas margens;
Verdes campos, viram a janela de deus aberta
Como um grito na relva,
Um germinar de seiva
Na alma seca e estéril
Da árvore fria e nua do vento.
Que alegria a explodir
Pelos olhos adentro!
Esse calor da terra que desprende
O aroma dos frutos, pelos gomos
Dessa laranja redonda,
Dessa sede de rebolar na terra,
O ventre inchado;
A alma cheia de uma lua maior
Do que a celeste;
Um grito quente da terra!
Uma vida acabada de nascer!
São vozes que se elevam numa cadência rara
ResponderEliminarUm pedido, um lamento, uma fé,
Uma súplica modelada na voz…
Uma pomba branca levanta as suas asas
E roça levemente o capuz do monge,
Não a seguem os olhos,
Mas o canto vai com ela na subida,
Move-se alto e veloz, no azul intenso da manhã.
E as vozes, seguras, seguem os passos,
Afastam-se na distância da terra
Mas é no céu que roçam suas súplicas,
Suas vestes castas…
No canto sombrio da casa da alma
ResponderEliminarMora uma presença mansa,
Como a de uma flor a crescer de suas raízes.
Todos os dias em que a noite sempre chega
Oiço essa flor a beber da memória
A sua seiva doce.
Acaso essa flor não dorme ainda?
Acaso o alimento desse lugar
É o seu sustento, e essa presença atenta,
A sua forma de ser, não é uma vez mais
A essência mesma
Do perfume eterno das rosas?
Sabemos que só o sol filtrado
Entra nesse lugar,
Nunca o sol directo, nunca a vida.
Porém as folhas estão verdes e os ramos altos
E o perfume é diferentemente o mesmo
A cada hora.
Afinal para que inventámos a memória
Se não foi para engolirmos o tempo?
Se digo astro e lábio,
ResponderEliminarSe escrevo sal e mel,
É só para sorver o ar fino do dia,
A luz- prata da lua
A crescer sobre o azul;
O mar nítido e puro,
A pátria devolvida à memória,
A rota conhecida…
Se falo estas palavras
Sobra-me a noite e o dia
E o tempo é a voz,
Via-láctea do mar;
Mapa, rosa, cruz…
Emoção a florir,
No chão do estrume vivo.
Estas três orações juntas e em progressão, nesta altura Pascal, são um manancial extático.
ResponderEliminarQue poemas magnificos, Alma do Obscuro! Obrigada por prestares tão sublime homenagem ao génio de Nikos Kazantzakis.
ResponderEliminarEspecialmente essa tua menção conjunta à Rosa e à Cruz.
Luisa, tens toda a razão. Nikos foi dos escritores espiritualmente mais profundos do século XX.
Ai que alma mais luminosa a que o obscuro revelou...até senti a beleza do que esta escrito vestir-me a pele!
ResponderEliminarFico contente...Algumas das suas luminosas vibrações também produzem em mim um efeito extremamente benéfico e raro. Gosto de lê-las e relê-las...
ResponderEliminarObrigado por esses momentos inspiradores e benfazejos.
Bom renascimento.