"Acredita-me, não apresses a volúpia de Vénus. Sabe retardá-la. Sabe fazê-la vir pouco a pouco, com demoras que a diferem. Quando tiveres encontrado o lugar que a mulher gosta que lhe acariciem, acaricia-o. Verás nos seus olhos um trémulo clarão [tremulo fulgore], como um charco de sol à superfície das águas. Virão então as queixas, o terno murmúrio, os doces gemidos, as palavras que excitam" - Ovídio, "A Arte de Amar", II.
Todos procedemos de um instante como o que aqui se anuncia. Todos procedemos do que mais desejamos e tememos. Trazemos na origem a volúpia de uma morte sagrada. A isso se chama pudor. Erótica é a arte de o preservar e aumentar transgredindo-o. Erótica é a arte de cultivar a intensidade do que na exacerbação da vida tange a sua transcendência. Ah, os olhos que nesse instante se reviram para antes da origem !... Se aí se pudessem suspender, o mundo nunca teria sido... Sabeis do que falo ?...
Morrer
ResponderEliminaramplexo último
dos amantes
É interessante o quanto esse trémulo clarão se assemelha ao brilho dos olhos de um agressor no momento em que bate, humilha ou mata a sua presa.
ResponderEliminarsei do que falas, ó se sei. mas não consigo fazê-lo acontecer agora, direccioná-lo.
ResponderEliminarDois dos momentos mais eróticos da história do cinema dos últimos 15 anos, do filme "L'Amant", de Jean-Jacques Arnaut, baseado no romace de Marguerite Duras com o mesmo nome:
ResponderEliminarhttp://www.youtube.com/watch?v=eDAk1RpWZWQ&NR=1
http://www.youtube.com/watch?v=sC_PTzL4TcA
Divino, o equilíbrio entre pudor e transgressão ... Poderia ser uma boa ilustração para este post;-)!
É verdade que não há sexualidade, por mais terna e amorosa que seja, sem violência e morte... E todos nascemos disso, todos trazemos isso connosco... Mesmo os que lhe renunciam, creio: renunciam ao sexo com a mesma força transgressora de eros...
ResponderEliminarAh, como era bom correr os dedos por entre os seus longos cabelos platinados ... Ah divino defeito, divina fragilidade, divina falta, quae fazias com que a Estrela da Manhã se espelhasse nos cabelos do Amante ...
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ResponderEliminarSeja bem vindo, Casto Severo!
ResponderEliminar"Ah, os olhos que nesse instante se reviram para antes da origem !..."
Só me ocorre dizer-te isto:
"Quaesivit cum moriebatur ubi essent umbrae.O rei perguntou: Onde estão as vespas amarelas quando a neve cai no caminho gelado? Onde está o Inferno? O meu pai, quando soltou um pequeno grito e me concebeu, tinha os olhos postos em quê? Onde está Virgílio?" Pascal Quignard, "As Sombras Errantes", Gótica,pp.33
"Se aí se pudessem suspender, o mundo nunca teria sido..."
ResponderEliminarporque: "Nascemos antes da criação do mundo, antes do lapso da nossa fantasia." de um autor que com toda a certeza conheces.
no corpo da alma
ResponderEliminarna alma de uma mulher há um corpo que não pensa para desejar
e não procura para se estimular,
há um ímpeto inteligente que se torna apelo
véu unido a ela,
ora macio e incondicional, ora áspero e ávido;
quente ou aquecido,
húmido ou humedecido
na pele de fora e de dentro,
desliza nos silêncios e urgências da alma a preencher de corpo.
e já a alma se confunde na mulher tocada pelas mãos que ainda não se vêem
e sufocada pelo beijo que vai chegar ou há de chegar
para o suspiro que intervala a união da outra alma na sua
pelo corpo imaginado sem o ser.
o apelo da alma volve-se ordem e espírito para concretizar no corpo de si
um canto que é um gemido, grito ou hino à transcendência
primeiro vendaval e depois brisa,
uma aflição e depois graça.
não se escolhe entre a alma e o corpo
conhece-se uma pela outra
e a mulher ou liberta a alma
ou se vicia no corpo.
O que se toca aqui é o que no corpo e na alma não é corpo nem alma, o que na morte e na vida não é morte nem vida, o que no homem e na mulher não é masculino nem feminino... Eros é uma via para isso: uma das mais rápidas e das mais perigosas... Exige gosto pela experiência e pela aventura, cuidado e destemor feitos um só... Não é para todos, apesar de todos por lá passarem... Quase sempre sem se darem conta...
ResponderEliminarLES PIEDS NUS
ResponderEliminarJ'ai les cheveux noirs, le long de mon dos,
et une petite calotte ronde. Ma chemise est
de laine blanche. Mes jambes fermes
brunissent au soleil.
Si j'habitais la ville, j'aurais des bijoux d'or,
et des chemises dorées et des souliers d'argent...
Je regarde mes pieds nus, dans leurs souliers
de poussière.
Psophis! viens ici, petite pauvre! porte-moi
jusqu'aux sources, lave mes pieds dans tes
mains et presse des olives avec des violettes
pour les parfumer sur les fleurs.
Tu seras aujourd'hui mon esclave; tu me
suivras et tu me serviras, et a la fin de la
journee je te donnerai, pour ta mere, des
lentilles du jardin de la mienne.
Assim falava Bilitis...
Sejam puros ! Sejam puros, meninos e meninas e sabereis do que aqui se fala...
ResponderEliminarTantos comentários ! Isto mostra bem como este assunto nos afecta...
ResponderEliminarO clarão da luz que aqui se apaga, para logo se acender do outro lado da noite, incendiando-a da mais abissal totalidade.
ResponderEliminarNunca vos perguntaram se queriam voltar?
Nunca responderam como se soubessem desde sempre de que lugar estão a falar?
- Pois se ficas então que seja para bem de todos os seres... ouvi ainda responderem-me enquanto despida me despedia em êxtase.
"Sabeis do que falo ?": Ai, ai, e sabeis com que falo ?
ResponderEliminarQue seja rijo, quente e amoroso...
ResponderEliminarmas sobretudo que se saiba vir, ou melhor não vir...
E que entre vir e não vir se saiba rir !
ResponderEliminarRir ou fascinar ? Sabeis a origem etimológica de "fascínio" ?
ResponderEliminarNão ! Ando à procura que alguém me fascine...
ResponderEliminarmas de que falam vocês? Podem-me explicar? Agradecia
ResponderEliminarFala-se de uma coisa esquecida e ansiada nas fundas entranhas que precedem a vida: coisa desejada e temida, porque, introduzindo a morte na vida, a torna menos morta e mais viva.
ResponderEliminarO acto de amor melhor consumado e aquele em que se esquece o corpo, se esquecem os limites, se esquece o sexo no proprio sexo.
ResponderEliminarEntao tornamo-nos nada. Tornamo-nos tudo.