Um espaço para expressar, conhecer e reflectir as mais altas, fundas e amplas experiências e possibilidades humanas, onde os limites se convertem em limiares. Sofrimento, mal e morte, iniciação, poesia e revolução, sexo, erotismo e amor, transe, êxtase e loucura, espiritualidade, mística e transcendência. Tudo o que altera, transmuta e liberta. Tudo o que desencobre um Esplendor nas cinzas opacas da vida falsa.
domingo, 23 de março de 2008
Quase todos se acomodam
Quase todos se acomodam: os que buscam despertar tornam-se religiosos, os visionários devêm artistas, os poetas escritores, os revolucionários políticos, eu crítico e até tu leitor…
Todos os papeis que assumimos, mais cedo ou maid tarde, se tornam camisas de força que podem acabar por nos asfixiar. Há que ter a lucidez e a coragem de os colocar sempre em causa.
Os que buscam despertar a si próprios ou os outros? Os visionários de qual realidade? Os poetas não escrevem. Os revolucionários de que ponto da evolução? Críticos de quê? Quase todos os que se acomodam não se incomodam.
O que quero dizer é que os poetas, escrevendo ou não, se degradam em escritores. E eu em crítico... Despertar é sem eu nem outros, para os visionários não há realidade e na revolução finda a evolução (que nunca há).
De facto, tudo o que é deixado entregue a si mesmo, sem ser cuidado, acaba por se degradar. É uma "lei" física que vale para a natureza humana, para as coisas com duração e para os desejos limitados do ser humano. A sociedade organizada em instiutições formais e não formais, acaba por devorar-nos a todos... Existir ou não existir nem sempre é uma opção...
Sim. Como posso deixar de "Ser" ? Estou aqui ... vou sendo alguma coisa mesmo que não queira e disso tenha consciência ... sou um produto de mim, bem sei. Mas ...
"Nossa Senhora das coisas impossíveis que procuramos em vão, Dos sonhos que vêm ter connosco ao crepúsculo, à janela, Dos propósitos que nos acariciam Nos grandes terraços dos hotéis cosmopolitas Ao som europeu das músicas e das vozes longe e perto, E que doem por sabermos que nunca os realizaremos..."
"Que bom poder-me revoltar num comício dentro da minha alma!" FPessoa
"Vem, e embala-nos, Vem e afaga-nos, Beija-nos silenciosamente na fronte, que não saibamos que nos beijam Senão por uma diferença na alma E um vago soluço partindo melodiosamente Do antiquíssimo de nós Onde têm raiz todas essas árvores de maravilha Cujos frutos são os sonhos que afagamos e amamos Porque os sabemos fora de relação com o que há na vida."
"Quantas horas tenho passado em convívio secreto com a idéia de si! Temo-nos amado tanto, dentro dos meus sonhos! ..." B.Soares
"Apague a luz, feche a porta e deixe de ter barulhos de chinelos no corredor. Fique eu no quarto só com o grande sossego de mim mesmo. É um universo barato." A.Campos
"Ainda assim, sou alguém. Sou o Descobridor da Natureza. Sou o Argonauta das sensações verdadeiras. Trago ao Universo um novo Universo Porque trago ao Universo ele-próprio." A.Caeiro
"Sou eu, eu mesmo, tal qual resultei de tudo, Espécie de acessório ou sobressalente próprio, Arredores irregulares da minha emoção sincera, Sou eu aqui em mim, sou eu. Quanto fui, quanto não fui, tudo isso sou. Quanto quis, quanto não quis, tudo isso me forma. Quanto amei ou deixei de amar é a mesma saudade de mim."
Não há maneira de fugir ao ser e à palavra que o diz. Nenhuma religião ou ópio desvendará o milagre de ser. Pessoa tentou...esvaziou-se, enchendo-se de muitos, para ver se a dor parava, para ver se pensar parava...Andavam todos a bailar na sua cabeça(na nossa cabeça)... e nunca deixou de ser... só a pequenos intervalos, mas esses também ardiam na febre e no absinto de tudo ser...Sofreu menos, sofreu mais?...(Nalguns momentos de pura lucidez, vejo cristo na cruz, sorrir da evidência da morte)...Porque se acomodou Fernando Pessoa a ser? Não se incomodando?Incomodando-se? Conformando-se e desconformando-se? construindo-se e desconstruindo-se? Não há receitas... e ainda bem. Cada um é um a sós, mesmo conversando com os seus fantasmas, ou deixando-os morrer de inanição.«O maestro sacode a batuta». É um teatro, um baile de máscaras que dá para todos os atlânticos da alma... É uma cena sonhada por um outro sonhador a Ser... Não tem importância porque tudo deixa, breve, de o ser...Mas o ser que não vemos nem sabeos o que é, não pára. Somos muitos, somos milhões a ser e a imaginarcomo será verdadeiramente ser, ou de que ser falamos, quando falamos...ou mesmo quando estamos calados. - Fausto, não há maneira de fugir ao conhecimento, o amor, à vida, ao prazer, há dor. Álvaro de Campos sabia-o e mesmo do alto da sua arrogância de ser incómodo, como se acomodou rapidamente à doce vida de aposentado... E continuou a haver o ser na língua que o diz, no modo como o diz. Saber demais, ser demais/ É o mesmo que estar muito tempo quieto/ no mesmo lugar/ e não ter vontade de sair de lá/ Nem sequer na ideia/Como uma mão dormente... E mesmo asssim, a ser plenamente, miseravelmente, em grandeza de alma, em ridículo de si. Assim somos nós todos os que temos febre e não bebemos absinto, porque já não o há de qualidade... daquele que entra na garganta como uma bola de fogo e nos torna religiosos, visionários, artistas, poetas, escritores, políticos, críticos, leitores...budistas de todas as vias; fantasmas de todas as existências e inexistências... todos todos... como uma imensa bola de fogo a ser... a pensar ser a cada gesto,a degradação e o fim de cada gesto...parece que o ser não se desmancha nem se desmonta e é, mesmo como Caeiro vê a coisa no retrato...fenómeno desligado de si mas que o pastor do ser guarda em pensamento...Não há remédio para o ser... ele não deixa prisionar-se, nem definir-se, nem limitar-se... E quando fazemos um gesto... esvoçamos uma ideia... escrevemos uma palavra, por mais fraca de luz, ou iluminada por dentro que seja...unca deixamos de ser repetição do mesmo. Viajantes numa roda que gira sempre a ser e a não ser.Ela mesma acomodada a ser roda, porque esse é o seu modo de ser.Não há nada a fazer. Há ser.
«Oriana» e «inquieta» a serem duas com as máscaras de Pessoa... a ser muitos a ser ao mesmo tempo.Sejam!
Lembra-me a minha infância, aquele dia Em que eu brincava ao pé dum muro de quintal Atirando-lhe com, uma bola que tinha dum lado O deslizar dum cão verde, e do outro lado Um cavalo azul a correr com um jockey amarelo ... "
Não tenho voz Caro Obscuro ! Acomodada só empresto a voz...
" Como uma voz de fonte que cessasse (E uns para os outros nossos vãos olhares Se admiraram), p'ra além dos meus palmares De sonho, a voz que do meu tédio nasce
Parou... Apareceu já sem disfarce De música longínqua, asas nos ares, O mistério silente como os mares, Quando morreu o vento e a calma pasce..."
"Nunca tive alguém a quem pudesse chamar Mestre. Não morreu por mim nenhum Cristo. Nenhum Buda me indicou o caminho. No alto dos meus sonhos nenhum Apolo ou Atena me apareceram para que me iluminassem a alma." Pessoa
Que interessa de que voz venho? Escolhi Pessoa por cantar "a cantiga de Infinito numa capoeira". Indiferente? Só por fora.
Não passamos de esboços, de rabiscos aleatórios que não são mais do que "rabo para aquém do lagarto remexidamente" a tentar febrilmente redesenhar a existência dentro da ilusão de monólogos a vários por entre espelhos penhorados e palavras emprestadas...
Eu que nem sou de Filosofia, decidi parar nesta "terra de ninguém" e espreitar-vos, espreitar-me... Levo acrescentado o meu álbum de viagens com mais umas quantas fotografias de fantasmas a eternizar a legenda: "A vida é a busca do impossível através do inútil."
Essas palavras da boca de um anónimo...? Onde está essa boca?... onde está esse rosto? A tua voz, ouvi-a... Mas para dizer o quê, exactamente? «É fácil ter voz...» Porque não experimentas?
"Mas fala tu, espectro vagabundo, Ó sombra estranha! Que a tua voz abale este profundo Silêncio, que me cerca e me acompanha! Eleva a tua voz. Que possa ouvir-se Em mar e serra. Que, de eco em eco, vá repercutir-se Pela formosa imperfeição da Terra..."
Olho os astros e o meu olhar de terra Faz sementeira de asas no polimento escuro. Que palavra de voo ágil e leveza eterna Dará no chão do céu reflexos de poema?
A quem importa O estremecimento que sentimos Diante da luz viva Que habita no verde de uma folha de árvore? Para o pensamento, não se despem os ramos. A árvore é a ciência que nos traz vivos Os ramos do Inverno que nos chega à lareira, À hora do cansaço animal. Estamos prontos para o sono. Para a noite, guardamos o tronco maior, Para contar a história que alguém sonhou por nós. «Era uma vez uma princesa que vivia Na casca de uma árvore branca e fria…» E a noite adormeceu, enfim, mesmo sem nós, Cansada de ser vento, a árvore verde, Chiou a noite inteira a dureza dos nós.
"Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
"Falhei em tudo. Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada. A aprendizagem que me deram, Desci dela pela janela das traseiras da casa. Fui até ao campo com grandes propósitos. Mas lá encontrei só ervas e árvores, E quando havia gente era igual à outra. Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei-de pensar?"
"Serei sempre o que não nasceu para isso; Serei sempre só o que tinha qualidades; Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta, E cantou a cantiga de Infinito numa capoeira, E ouviu a voz de Deus num poço tapado."
"Fiz de mim o que não soube, E o que podia fazer de mim não o fiz. O dominó que vesti era errado. Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me. Quando quis tirar a máscara, Estava pegada à cara."
Inquieta, não te retires, ainda... Ouve a pontuação:
Pontilemas
Reticências
Não nomeies nem prendas o pensamento Apenas ao rumor de uma frase… Deixa que te leve o vento de uma ideia Até ao coração oculto na palavra, Até essa ilha dobrada sobre uma palmeira Sob um céu de chumbo amarelado; Metáfora suspensa no seu voo, Como uma águia de asas abertas Vigia o estrume da dor Que a terra guarda no seu peito nu.
Não te canses nem fales alto, Guarda a mente livre Para quando tiveres de enfrentar A suspensão do fôlego Que o silêncio acaricia na sua morna boca.
Ponto Final
Não existe senão na circunstância De uma mudez sábia. Ponto de silêncio Provocando o destino Temporal da fala, O limite dos dois rios Por onde circula a alma humana. Branco ou negro sobre o pano do tempo O ponto é a espiral onde todos giramos. Não existe final onde o ponto se abrigue Só passagens, Sinais e corredores de luz branca.
Onde o ponto crepita É que as palavras ardem.
Vírgula
Respira sobre a página A pausa do poema, A superfície lisa da palavra, Redonda, na sua ontologia universal Ou antes maleável como a água cantante Sobre a face azulada dos mares Respiração profunda e breve, O retomar da voz. Como o tempo flui Inexorável e eterno, Como o ritmo escondido De um poderoso sopro.
"Sinto-me constantemente numa véspera de despertar, sofro-me o invólucro de mim mesmo, num abafamento de conclusões. De bom grado gritaria se a minha voz chegasse a qualquer parte. Mas há um grande sono comigo, e desloca-se de umas sensações para outras como uma sucessão de nuvens, das que deixam de diversas cores de sol e verde a relva meio ensombrada dos campos prolongados.
Sou como alguém que procura ao acaso, não sabendo onde foi oculto o objecto que lhe não disseram o que é. Jogamos às escondidas com ninguém. Há, algures, um subterfúgio transcendente, uma divindade fluida e só ouvida."
... Quando, entre as árvores, O dia empurra o baloiço do sol A minha tristeza põe-se, naturalmente, A ocidente. Quando ainda são verdes os nós e as nervuras Da árvore do dia.
A luz amarela do Verão Cobre de pó de oiro As paredes brancas da casa. À volta do limoeiro Os insectos enchem o ar Um ou outro pássaro Já roça as suas asas na brisa fresca Da noite nascente.
A minha vida devia valer só isto: Um balançar entre um dia e outro dia No baloiço das árvores Que giram à roda do Sol.
Noite
Fecho as portas à noite E dou ao vento a distância. A casa habita a intimidade de um gesto. Um passo à roda do jardim E um gesto de olhar Vê se as plantas têm no verde A água que o sol parece pedir.
Fecho com cuidado maternal o grito Dentro das persianas; Ato à roda dos cabelos da noite Uma grinalda de estrelas; Uma franja de riso no negro do céu: Fecho, com cuidado, o tempo, Dou um nó ao dia, e atiro-o, Como uma bola em fogo pela encosta abaixo.
Peço à noite, a dos gestos sossegados, A serva humilde, Que leve nos cabelos a poeira de luz Que ilumina a janela do outro lado. Quero o silêncio até onde se ouve O último som de um pássaro mais afoito.
Fecho as janelas e a luz continua sol dentro da casa. Faço baixar a alma das coisas Até ao coração da prece.
Ó noite, mágica princesa, fada do oriente! Ó melodia adormecida nos meus ouvidos! Ó mão que afaga, ó colo que se oferece, Ó noite equilibrista do mundo Na luz quente de um círculo de lona Uma campânula, uma bolha de água morna A querer fugir pela janela.
Noite, amante, irmã, riso dos meus lábios! Curva do meu sorriso, alma do meu mundo! Enlaça-me, como uma brisa leve nos cabelos Uma brisa morna que traz o sal para ao pé do rio O rio que a noite interrompe no seu sábio deter. Fecha, ó noite, o meu coração às coisas que se agitam Senhora mãe da paz, abre os teus braços Ao meu sonho acordado.
Devolve-me ao meu país do mar E deixa-me dormir no coração das ondas Que embalam o meu quarto E o levam para o bojo dos navios; E o empurram para a pedra lisa de uma ilha Tão distante da geografia dos homens Que a fala que se escuta tem o alfabeto Mágico das pedras falantes; Dos risos que as deusas oferecem aos anjos.
Depois, abre as portas ao mar atormentado E deixa que a chuva caia dos meus olhos Até ser de novo dia Até que a água toda seque E eu que já lá nem estou Sinta isto por um vinco de lua no lençol.
"Criei-me eco e abismo, pensando. Multipliquei-me aprofundando-me. O mais pequeno episódio - uma alteração saindo da luz, a queda enrolada de uma folha seca, a pétala que se despega amarelecida, a voz do outro lado do muro ou os passos de quem a diz juntos aos de quem a deve escutar, o portão entreaberto da quinta velha, o pátio abrindo com um arco das casas aglomeradas ao luar - todas estas coisas, que me não pertencem, prendem-me a meditação sensível com laços de ressonância e de saudade. Em cada uma dessas sensações sou outro, renovo-me dolorosamente em cada impressão indefinida. Vivo de impressões que me não pertencem, perdulário de renúncias, outro no modo como sou eu."
Interrogamos desde que existimos E é sempre a mesma a pergunta: “O que é existir?” E é sempre o mesmo eco/resposta: “O que é existir? “O que é existir!?...” Existimos e perguntamos. Ao mar, perguntamos porque respira fundo a maré que enche E não se apaga; À noite, perguntamos porque cobre as coisas de irrealidade E as afaga; Ao Sol, não perguntamos nada Não é preciso.
"Lá fora estava já completamente escuro. (...) Reinava um grande silêncio. Bastian contemplou fixamente as chamas das velas. Mas, de repente, estremeceu, porque o soalho tinha rangido. Pareceu-lhe que ouvia alguém a respirar. Susteve o fôlego e pôs-se à escuta. Para além do pequeno círculo de luz difundido pelas velas, o enorme sótão estava agora envolto em trevas. Não se ouviam passos leves na escada? E o fecho da porta do sótão não se movera lentamente? O soalho rangeu novamente."
Bom Dia Oriana ! Não li o livro. Talvez possa falar dele mais tarde se, hoje, o conseguir roubar tal como Bastian ... Essa ideia de roubar livros é fascinante ... tem um não sei quê de mistério ... risos ... Ah ! Queres saber se roubava livros ? ! Não. Não podia. Não tinha onde os esconder ... raramente me "acomodava" num casaco ... Agora, com estas modernices electrónicas o Bastian estava arrumado ... risos ... perde-se todo o mistério toda a "Fantasia".
"Depus a máscara e vi-me ao espelho. Era a criança de há quantos anos. Não tinha mudado nada... É essa a vantagem de saber tirar a máscara. É-se sempre a criança, O passado que foi A criança. Depus a máscara, e tornei a pô-la. Assim é melhor, Assim sem a máscara. E volto à personalidade como a um términus de linha."
Risos por roubar a voz que habita os livros ... A voz que o Ricardo escuta, a voz dos deuses
"Tão cedo passa tudo quanto passa ! Morre tão jovem ante os deuses quanto Morre! Tudo é tão pouco! Nada se sabe, tudo se imagina. Circunda-te de rosas, ama, bebe E cala. O mais é nada.
Não sei se é amor que tens, ou amor que finges, O que me dás. Dás-mo. Tanto me basta. Já que o não sou por tempo, Seja eu jovem por erro. Pouco os deuses nos dão, e o pouco é falso. Porém, se o dão, falso que seja, a dádiva É verdadeira. Aceito, Cerro olhos: é bastante. Que mais quero?"
Todos os papeis que assumimos, mais cedo ou maid tarde, se tornam camisas de força que podem acabar por nos asfixiar. Há que ter a lucidez e a coragem de os colocar sempre em causa.
ResponderEliminarPor fim, limitamo-nos a ser humanos - olhamos para a casca de carne ao espelho, os que há e os do Outro, e até nos sentimos confortáveis...
ResponderEliminarAbraço.
«Os espelhos e a cópula são abomináveis porque multiplicam o número dos homens.»
J. L. Borges
Lembrança vaga dos passos no deserto
ResponderEliminarAté eu torno ao que não sou, para me lembrar de como era...
ResponderEliminarHá sempre uma pequena aldeia gaulesa que resiste, algures...
ResponderEliminarOs que buscam despertar a si próprios ou os outros?
ResponderEliminarOs visionários de qual realidade? Os poetas não escrevem. Os revolucionários de que ponto da evolução?
Críticos de quê?
Quase todos os que se acomodam não se incomodam.
O que quero dizer é que os poetas, escrevendo ou não, se degradam em escritores. E eu em crítico...
ResponderEliminarDespertar é sem eu nem outros, para os visionários não há realidade e na revolução finda a evolução (que nunca há).
De facto, tudo o que é deixado entregue a si mesmo, sem ser cuidado, acaba por se degradar. É uma "lei" física que vale para a natureza humana, para as coisas com duração e para os desejos limitados do ser humano.
ResponderEliminarA sociedade organizada em instiutições formais e não formais, acaba por devorar-nos a todos...
Existir ou não existir nem sempre é uma opção...
A pior das acomodações é ser...
ResponderEliminarSer. Não sei se "a pior das acomodações"... Talvez das constatações mais inquietantes...
ResponderEliminar"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo." F.Pessoa
Sim. Como posso deixar de "Ser" ? Estou aqui ... vou sendo alguma coisa mesmo que não queira e disso tenha consciência ... sou um produto de mim, bem sei. Mas ...
ResponderEliminar"Mas..."
ResponderEliminarOremos.
"Nossa Senhora
das coisas impossíveis que procuramos em vão,
Dos sonhos que vêm ter connosco ao crepúsculo, à janela,
Dos propósitos que nos acariciam
Nos grandes terraços dos hotéis cosmopolitas
Ao som europeu das músicas e das vozes longe e perto,
E que doem por sabermos que nunca os realizaremos..."
"Que bom poder-me revoltar num comício dentro da minha alma!" FPessoa
Pois, continuemos orando...
ResponderEliminar"Vem, e embala-nos,
Vem e afaga-nos,
Beija-nos silenciosamente na fronte, que não saibamos que nos beijam
Senão por uma diferença na alma
E um vago soluço partindo melodiosamente
Do antiquíssimo de nós
Onde têm raiz todas essas árvores de maravilha
Cujos frutos são os sonhos que afagamos e amamos
Porque os sabemos fora de relação com o que há na vida."
A. Campos
"O que me dói não é
ResponderEliminarO que há no coração
Mas essas coisas lindas
Que nunca existirão...
São as formas sem forma
Que passam sem que a dor
As possa conhecer
Ou as sonhar o amor.
São como se a tristeza
Fosse árvore e, uma a uma,
Caíssem suas folhas
Entre o vestígio e a bruma."
FPessoa (agora, ele mesmo)
A ti "Oriana" ...
ResponderEliminar"Sorriso audível das folhas
Não és mais que a brisa ali
Se eu te olho e tu me olhas,
Quem primeiro é que sorri ?
O primeiro a sorrir ri.
Ri e olha de repente
Para fins de não olhar
Para onde nas folhas sente
O som do vento a passar
Tudo é vento e disfarçar.
Mas o olhar, de estar olhando
Onde não olha, voltou
E estamos os dois falando
O que se não conversou
Isto acaba ou começou ?"
F. Pessoa
:)
ResponderEliminar"Com duas mãos - o Acto e o Destino-
Desvendamos. No mesmo gesto, ao céu
Uma ergue o facho trémulo e divino
E a outra afasta o véu."
F. Pessoa
"Fosse a hora que haver ou a que havia
ResponderEliminarA mão que ao Ocidente o véu rasgou,
Foi alma a Ciência e corpo a ousadia
Da mão que desvendou."
F. Pessoa
"Todo o começo é involuntário.
ResponderEliminarDeus é o agente.
O herói a si assiste, vário
E inconsciente.
À espada em tuas mãos achada
Teu olhar desce.
"Que farei eu com esta espada?"
Ergueste-a e fez-se."
F. Pessoa
Que digo ? Que sou ? Das duas uma: quem uma duas ficou ?
ResponderEliminarBom Dia Oriana !
ResponderEliminarAinda estás por aqui ?
"Pai, foste cavaleiro.
Hoje a vigília é nossa.
Dá-nos o exemplo inteiro
E a tua inteira força !
Dá, contra a hora em que, errada,
Novos infiéis vençam,
A benção como espada,
A espada como benção !"
F. Pessoa
Bom dia! Ainda estou...
ResponderEliminarAh! A estética da coerência... Ser só uma...
"Eu não sei como isso se faz."
"Sou o intervalo entre o que desejo ser e os outros me fizeram,
Ou metade desse intervalo, porque também há vida...
Sou isso, enfim..."
"Ainda assim, sou alguém."
"Eu, eu mesmo... (...)
Eu..."
FPessoa
Ah ! Ainda estás ...
ResponderEliminar"Quantas horas tenho passado em convívio secreto com a idéia de si! Temo-nos amado tanto, dentro dos meus sonhos! ..." B.Soares
"Apague a luz, feche a porta e deixe de ter barulhos de chinelos no corredor.
Fique eu no quarto só com o grande sossego de mim mesmo.
É um universo barato." A.Campos
"Ainda assim, sou alguém.
Sou o Descobridor da Natureza.
Sou o Argonauta das sensações verdadeiras.
Trago ao Universo um novo Universo
Porque trago ao Universo ele-próprio." A.Caeiro
"Sou eu, eu mesmo, tal qual resultei de tudo,
Espécie de acessório ou sobressalente próprio,
Arredores irregulares da minha emoção sincera,
Sou eu aqui em mim, sou eu.
Quanto fui, quanto não fui, tudo isso sou.
Quanto quis, quanto não quis, tudo isso me forma.
Quanto amei ou deixei de amar é a mesma saudade de mim."
F. Pessoa
Não há maneira de fugir ao ser e à palavra que o diz. Nenhuma religião ou ópio desvendará o milagre de ser. Pessoa tentou...esvaziou-se, enchendo-se de muitos, para ver se a dor parava, para ver se pensar parava...Andavam todos a bailar na sua cabeça(na nossa cabeça)... e nunca deixou de ser... só a pequenos intervalos, mas esses também ardiam na febre e no absinto de tudo ser...Sofreu menos, sofreu mais?...(Nalguns momentos de pura lucidez, vejo cristo na cruz, sorrir da evidência da morte)...Porque se acomodou Fernando Pessoa a ser? Não se incomodando?Incomodando-se? Conformando-se e desconformando-se? construindo-se e desconstruindo-se? Não há receitas... e ainda bem. Cada um é um a sós, mesmo conversando com os seus fantasmas, ou deixando-os morrer de inanição.«O maestro sacode a batuta». É um teatro, um baile de máscaras que dá para todos os atlânticos da alma... É uma cena sonhada por um outro sonhador a Ser... Não tem importância porque tudo deixa, breve, de o ser...Mas o ser que não vemos nem sabeos o que é, não pára. Somos muitos, somos milhões a ser e a imaginarcomo será verdadeiramente ser, ou de que ser falamos, quando falamos...ou mesmo quando estamos calados. - Fausto, não há maneira de fugir ao conhecimento, o amor, à vida, ao prazer, há dor. Álvaro de Campos sabia-o e mesmo do alto da sua arrogância de ser incómodo, como se acomodou rapidamente à doce vida de aposentado... E continuou a haver o ser na língua que o diz, no modo como o diz.
ResponderEliminarSaber demais, ser demais/ É o mesmo que estar muito tempo quieto/ no mesmo lugar/ e não ter vontade de sair de lá/ Nem sequer na ideia/Como uma mão dormente... E mesmo asssim, a ser plenamente, miseravelmente, em grandeza de alma, em ridículo de si. Assim somos nós todos os que temos febre e não bebemos absinto, porque já não o há de qualidade... daquele que entra na garganta como uma bola de fogo e nos torna religiosos, visionários, artistas, poetas, escritores, políticos, críticos, leitores...budistas de todas as vias; fantasmas de todas as existências e inexistências... todos todos... como uma imensa bola de fogo a ser... a pensar ser a cada gesto,a degradação e o fim de cada gesto...parece que o ser não se desmancha nem se desmonta e é, mesmo como Caeiro vê a coisa no retrato...fenómeno desligado de si mas que o pastor do ser guarda em pensamento...Não há remédio para o ser... ele não deixa prisionar-se, nem definir-se, nem limitar-se...
E quando fazemos um gesto... esvoçamos uma ideia... escrevemos uma palavra, por mais fraca de luz, ou iluminada por dentro que seja...unca deixamos de ser repetição do mesmo. Viajantes numa roda que gira sempre a ser e a não ser.Ela mesma acomodada a ser roda, porque esse é o seu modo de ser.Não há nada a fazer. Há ser.
«Oriana» e «inquieta» a serem duas
com as máscaras de Pessoa... a ser muitos a ser ao mesmo tempo.Sejam!
Somos duas, caro Obscuro Pensador !
ResponderEliminarEspero desassossegadamente por Oriana ...
"E lânguida e triste a música rompe ...
Lembra-me a minha infância, aquele dia
Em que eu brincava ao pé dum muro de quintal
Atirando-lhe com, uma bola que tinha dum lado
O deslizar dum cão verde, e do outro lado
Um cavalo azul a correr com um jockey amarelo ... "
E o que dizem as vossas palavras, para além dos diálogos pessoanos?
ResponderEliminarQual é a vossa voz?
Não tenho voz Caro Obscuro !
ResponderEliminarAcomodada só empresto a voz...
" Como uma voz de fonte que cessasse
(E uns para os outros nossos vãos olhares
Se admiraram), p'ra além dos meus palmares
De sonho, a voz que do meu tédio nasce
Parou... Apareceu já sem disfarce
De música longínqua, asas nos ares,
O mistério silente como os mares,
Quando morreu o vento e a calma pasce..."
F. Pessoa
Calha bem, porque eu não tenho boca, só voz...:)
ResponderEliminarObscuro pareces não passar de um acomodado.....
ResponderEliminarÉ fácil ter voz sem boca, sem rosto....
"Nunca tive alguém a quem pudesse chamar Mestre. Não morreu por mim nenhum Cristo. Nenhum Buda me indicou o caminho. No alto dos meus sonhos nenhum Apolo ou Atena me apareceram para que me iluminassem a alma." Pessoa
ResponderEliminarQue interessa de que voz venho? Escolhi Pessoa por cantar "a cantiga de Infinito numa capoeira".
Indiferente? Só por fora.
Não passamos de esboços, de rabiscos aleatórios que não são mais do que "rabo para aquém do lagarto remexidamente" a tentar febrilmente redesenhar a existência dentro da ilusão de monólogos a vários por entre espelhos penhorados e palavras emprestadas...
Eu que nem sou de Filosofia, decidi parar nesta "terra de ninguém" e espreitar-vos, espreitar-me... Levo acrescentado o meu álbum de viagens com mais umas quantas fotografias de fantasmas a eternizar a legenda:
"A vida é a busca do impossível através do inútil."
Essas palavras da boca de um anónimo...?
ResponderEliminarOnde está essa boca?... onde está esse rosto?
A tua voz, ouvi-a...
Mas para dizer o quê, exactamente?
«É fácil ter voz...» Porque não experimentas?
E o amor, meus amigos, e o amor? O entregar-se, o esquecer-se de si mesmo no outro?
ResponderEliminarOriana,
ResponderEliminarE escolheste muito bem!:)
Olá, Ana Margarida,
ResponderEliminar«E o amor...»
Tem boca e voz, alma e corpo, mas só alguns o sentem e o sabem dar e receber...
Para ti, Obscuro:)
ResponderEliminar"Mas fala tu, espectro vagabundo,
Ó sombra estranha!
Que a tua voz abale este profundo
Silêncio, que me cerca e me acompanha!
Eleva a tua voz. Que possa ouvir-se
Em mar e serra.
Que, de eco em eco, vá repercutir-se
Pela formosa imperfeição da Terra..."
Teixeira de Pascoaes
Retribuo:)
ResponderEliminarOlho os astros e o meu olhar de terra
Faz sementeira de asas no polimento escuro.
Que palavra de voo ágil e leveza eterna
Dará no chão do céu reflexos de poema?
A quem importa
O estremecimento que sentimos
Diante da luz viva
Que habita no verde de uma folha de árvore?
Para o pensamento, não se despem os ramos.
A árvore é a ciência que nos traz vivos
Os ramos do Inverno que nos chega à lareira,
À hora do cansaço animal.
Estamos prontos para o sono.
Para a noite, guardamos o tronco maior,
Para contar a história que alguém sonhou por nós.
«Era uma vez uma princesa que vivia
Na casca de uma árvore branca e fria…»
E a noite adormeceu, enfim, mesmo sem nós,
Cansada de ser vento, a árvore verde,
Chiou a noite inteira a dureza dos nós.
Deixo-vos porque ...
ResponderEliminar"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
"Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei-de pensar?"
"Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga de Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado."
"Fiz de mim o que não soube,
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara."
Álvaro de Campos
Inquieta, não te retires, ainda...
ResponderEliminarOuve a pontuação:
Pontilemas
Reticências
Não nomeies nem prendas o pensamento
Apenas ao rumor de uma frase…
Deixa que te leve o vento de uma ideia
Até ao coração oculto na palavra,
Até essa ilha dobrada sobre uma palmeira
Sob um céu de chumbo amarelado;
Metáfora suspensa no seu voo,
Como uma águia de asas abertas
Vigia o estrume da dor
Que a terra guarda no seu peito nu.
Não te canses nem fales alto,
Guarda a mente livre
Para quando tiveres de enfrentar
A suspensão do fôlego
Que o silêncio acaricia na sua morna boca.
Ponto Final
Não existe senão na circunstância
De uma mudez sábia.
Ponto de silêncio
Provocando o destino
Temporal da fala,
O limite dos dois rios
Por onde circula a alma humana.
Branco ou negro sobre o pano do tempo
O ponto é a espiral onde todos giramos.
Não existe final onde o ponto se abrigue
Só passagens,
Sinais e corredores de luz branca.
Onde o ponto crepita
É que as palavras ardem.
Vírgula
Respira sobre a página
A pausa do poema,
A superfície lisa da palavra,
Redonda, na sua ontologia universal
Ou antes maleável como a água cantante
Sobre a face azulada dos mares
Respiração profunda e breve,
O retomar da voz.
Como o tempo flui
Inexorável e eterno,
Como o ritmo escondido
De um poderoso sopro.
...
"Sinto-me constantemente numa véspera de despertar, sofro-me o invólucro de mim mesmo, num abafamento de conclusões. De bom grado gritaria se a minha voz chegasse a qualquer parte. Mas há um grande sono comigo, e desloca-se de umas sensações para outras como uma sucessão de nuvens, das que deixam de diversas cores de sol e verde a relva meio ensombrada dos campos prolongados.
ResponderEliminarSou como alguém que procura ao acaso, não sabendo onde foi oculto o objecto que lhe não disseram o que é. Jogamos às escondidas com ninguém. Há, algures, um subterfúgio transcendente, uma divindade fluida e só ouvida."
"Estou liberto e perdido."
Bernardo Soares
...
ResponderEliminarQuando, entre as árvores,
O dia empurra o baloiço do sol
A minha tristeza põe-se, naturalmente,
A ocidente.
Quando ainda são verdes os nós e as nervuras
Da árvore do dia.
A luz amarela do Verão
Cobre de pó de oiro
As paredes brancas da casa.
À volta do limoeiro
Os insectos enchem o ar
Um ou outro pássaro
Já roça as suas asas na brisa fresca
Da noite nascente.
A minha vida devia valer só isto:
Um balançar entre um dia e outro dia
No baloiço das árvores
Que giram à roda do Sol.
Noite
Fecho as portas à noite
E dou ao vento a distância.
A casa habita a intimidade de um gesto.
Um passo à roda do jardim
E um gesto de olhar
Vê se as plantas têm no verde
A água que o sol parece pedir.
Fecho com cuidado maternal o grito
Dentro das persianas;
Ato à roda dos cabelos da noite
Uma grinalda de estrelas;
Uma franja de riso no negro do céu:
Fecho, com cuidado, o tempo,
Dou um nó ao dia, e atiro-o,
Como uma bola em fogo pela encosta abaixo.
Peço à noite, a dos gestos sossegados,
A serva humilde,
Que leve nos cabelos a poeira de luz
Que ilumina a janela do outro lado.
Quero o silêncio até onde se ouve
O último som de um pássaro mais afoito.
Fecho as janelas e a luz continua sol dentro da casa.
Faço baixar a alma das coisas
Até ao coração da prece.
Ó noite, mágica princesa, fada do oriente!
Ó melodia adormecida nos meus ouvidos!
Ó mão que afaga, ó colo que se oferece,
Ó noite equilibrista do mundo
Na luz quente de um círculo de lona
Uma campânula, uma bolha de água morna
A querer fugir pela janela.
Noite, amante, irmã, riso dos meus lábios!
Curva do meu sorriso, alma do meu mundo!
Enlaça-me, como uma brisa leve nos cabelos
Uma brisa morna que traz o sal para ao pé do rio
O rio que a noite interrompe no seu sábio deter.
Fecha, ó noite, o meu coração às coisas que se agitam
Senhora mãe da paz, abre os teus braços
Ao meu sonho acordado.
Devolve-me ao meu país do mar
E deixa-me dormir no coração das ondas
Que embalam o meu quarto
E o levam para o bojo dos navios;
E o empurram para a pedra lisa de uma ilha
Tão distante da geografia dos homens
Que a fala que se escuta tem o alfabeto
Mágico das pedras falantes;
Dos risos que as deusas oferecem aos anjos.
Depois, abre as portas ao mar atormentado
E deixa que a chuva caia dos meus olhos
Até ser de novo dia
Até que a água toda seque
E eu que já lá nem estou
Sinta isto por um vinco de lua no lençol.
Caro Obscuro,
ResponderEliminar"...
Em aberto, em suspenso
Fica tudo o que digo.
E também o que faço é reticente...
.
Depois de mim maiúscula
Ou espaço em branco
Contra o qual defendo os textos
,
Quando estou mal disposta
(E estou-o muitas vezes...)
Mudo o sentido às frases,
Complico tudo...
!
Não abuses de mim !
?
Serás capaz de responder a tudo o que pergunto ?"
Alexandre O'Neill
Pronto.
Quantas falam contigo se são reticências ?
Oriana,
ResponderEliminar"Criei-me eco e abismo, pensando. Multipliquei-me aprofundando-me. O mais pequeno episódio - uma alteração saindo da luz, a queda enrolada de uma folha seca, a pétala que se despega amarelecida, a voz do outro lado do muro ou os passos de quem a diz juntos aos de quem a deve escutar, o portão entreaberto da quinta velha, o pátio abrindo com um arco das casas aglomeradas ao luar - todas estas coisas, que me não pertencem, prendem-me a meditação sensível com laços de ressonância e de saudade. Em cada uma dessas sensações sou outro, renovo-me dolorosamente em cada impressão indefinida.
Vivo de impressões que me não pertencem, perdulário de renúncias, outro no modo como sou eu."
Bernardo Soares
Adorei o «pronto»:))
ResponderEliminarBelos diálogos
P(r)onto de Interrogação
Interrogamos desde que existimos
E é sempre a mesma a pergunta:
“O que é existir?”
E é sempre o mesmo eco/resposta:
“O que é existir?
“O que é existir!?...”
Existimos e perguntamos.
Ao mar, perguntamos porque respira fundo a maré que enche
E não se apaga;
À noite, perguntamos porque cobre as coisas de irrealidade
E as afaga;
Ao Sol, não perguntamos nada
Não é preciso.
"Lá fora estava já completamente escuro. (...) Reinava um grande silêncio. Bastian contemplou fixamente as chamas das velas.
ResponderEliminarMas, de repente, estremeceu, porque o soalho tinha rangido.
Pareceu-lhe que ouvia alguém a respirar. Susteve o fôlego e pôs-se à escuta. Para além do pequeno círculo de luz difundido pelas velas, o enorme sótão estava agora envolto em trevas.
Não se ouviam passos leves na escada? E o fecho da porta do sótão não se movera lentamente?
O soalho rangeu novamente."
"O relógio da torre bateu as 10 horas."
Michael Ende
Bom Dia Oriana !
ResponderEliminarNão li o livro. Talvez possa falar dele mais tarde se, hoje, o conseguir roubar tal como Bastian ... Essa ideia de roubar livros é fascinante ... tem um não sei quê de mistério ... risos ...
Ah ! Queres saber se roubava livros ? !
Não. Não podia. Não tinha onde os esconder ... raramente me "acomodava" num casaco ... Agora, com estas modernices electrónicas o Bastian estava arrumado ... risos ... perde-se todo o mistério toda a "Fantasia".
Obrigada pela dica, Oriana.
Bom Dia Obscuro !
ResponderEliminarContinua a escrever ... gosto de te ler. Sempre.
"Devo tomar qualquer coisa ou suicidar-me?
Não: vou existir. Arre! vou existir.
E-xis-tir...
E-xis-tir...
Dêem-me de beber, que não tenho sede!"
Álvaro de Campos
Oriana,
ResponderEliminarSejamos a Imperatriz Criança ! Sempre !
Vi o filme há já alguns anos ... mas hei-de ler o livro, um dia ... se o conseguir roubar ... risos ...
Risos? Contra quem?
ResponderEliminar"Depus a máscara e vi-me ao espelho.
Era a criança de há quantos anos.
Não tinha mudado nada...
É essa a vantagem de saber tirar a máscara.
É-se sempre a criança,
O passado que foi
A criança.
Depus a máscara, e tornei a pô-la.
Assim é melhor,
Assim sem a máscara.
E volto à personalidade como a um términus de linha."
A. de Campos
Risos por roubar a voz que habita os livros ... A voz que o Ricardo escuta, a voz dos deuses
ResponderEliminar"Tão cedo passa tudo quanto passa !
Morre tão jovem ante os deuses quanto
Morre! Tudo é tão pouco!
Nada se sabe, tudo se imagina.
Circunda-te de rosas, ama, bebe
E cala. O mais é nada.
Não sei se é amor que tens, ou amor que finges,
O que me dás. Dás-mo. Tanto me basta.
Já que o não sou por tempo,
Seja eu jovem por erro.
Pouco os deuses nos dão, e o pouco é falso.
Porém, se o dão, falso que seja, a dádiva
É verdadeira. Aceito,
Cerro olhos: é bastante.
Que mais quero?"
Ricardo Reis