"Um pedaço da maçã originária permaneceu entalado no centro da minha garganta" - Pascal Quignard, Les Ombres Errantes. Dernier royaume I, Paris, Grasset, 2002, p.8.
"Se não abraçamos o abandono e a angústia, a paixão, a noite da agonia, não somos senão imagens infiéis, pedras sem préstimo mal talhadas que já não podem entrar no edifício e que não se podem juntar a nada" - p.19.
"O sermão misterioso do não menos misterioso Leitor de pés nus (Barfusser Lesemeister) começa por estas palavras: Tenebra Deus est. Tenebra in anima post omnem lucem relicta (Deus é uma treva. Ele é a brusca treva que invade a alma após toda a luz)" - p.114.
«aquele que cai sob o olhar da Medusa transforma-se em pedra, aquele que cai sob o olhar da palavra que falta tem a aparência de uma estátua.»
ResponderEliminarQuignard, Pascal. Le nom sur le bout de la langue. Paris: Gallimard, 1993
Um poema para o Paulo Borges
Os nossos olhos só vêem/o enfolar das ondas/enão a força que as eleva.//
Raça infeliz/de memória perdida/no imenso cone do tempo.
:)
Beijar-me-ás a boca, Amor, / na hora em que Deus deixe de o ser ? / Beijar-me-ás a boca, Amor, / farás a luz entenebrecer ?
ResponderEliminarUm poema
ResponderEliminarEterna é a noite
a mãe
e o silêncio.
Outro poema
De palavas, sim!
Que o vento espalhe
o que alm reuniu
Pegadas na neve
estrume de silêncio.
Outro poema
Uma mulher que chora
qualquer coisa de pássaro
que ali ficou
em alívio e quietude.
Obrigado, Obscuro, pelo poema. Retribuo:
ResponderEliminarEternos a noite, a mãe, o silêncio / Sempiterno o grito que os rasga / e nos flore a boca em riso, rosa, asa
Oostende
ResponderEliminarÉ invejável a felicidade dos outros
quando vista à distância,
o morno agasalho das verdades adquiridas.
Graciosos os pés que chapinham na orla do mar
(a humidade é cortante)
indiferentes às vagas
e ao alongar do cimento que ofusca a luz solar.
Ansiolítico,
monolítico,
o girar do mundo à volta do mesmo.
Húmido é o bafo
do riso
de Deus
dos anelos
dos homens.
Pois serão sempre os pés pequenos a melhor suportar o embate das ondas.
Será o cinza celeste o que resta das asas de Ícaro?
Setembro
ResponderEliminarBraços abertos em cruz
sobre a cama vazia.
Espaço
mais amplo
do que o braço consegue alcançar.
Luz da tarde coada pelas cortinas pardas
é musica serena em ondas salgadas,
ritmo da terra,
atonal,
que preenche o espírito
que se esquece a sí mesmo.
0.
ResponderEliminarHá livros que são como certos cálices abertos. Abrem "durante uma única hora de noite e são rodeados por uma sociedade minúscula de hóspedes alados."
1. Gargantas e gárgulas
É por isso que abrem a boca...e nelas transcorre água do céu. "Não existe falta de matéria, no entanto, a linguagem deve-lhe acrescentar algo ainda mais. Através da sua força mágica, a água deve jorrar de novo, jogando com e sobre estas imagens - uma água que simultaneamente se agita e é transparente."
2. Imgens infiéis, imagens contidas no granito que o pensamento salva da sua solidão enigmática
"Contudo, para o autor é exactamente o retomar do que se acabou de encerrar que assume um valor especial - se apresenta como ocasião rara para apreender a língua sobre um fragmento determinado, em certa medida com o olho do escultor, e trabalhá-la como se fosse um corpo."
4. "Ele é a brusca treva que invade a alma após toda a luz."
Rothko
Infinito
"Ami, en voilà assez. Et si tu veux en lire plus,
Va - et deviens toi-même le livre et l'essence."
P.S. E os outros MIL que empresta, como moradas, à minha ignorância infinita?
Vera Cruz II
ResponderEliminarParasitas dormem
enroscados
na cauda de Deus
e impedem-no de avançar.
São adultos em posição fetal.
Ainda essa voz:
ResponderEliminarEscrever é escrever o perdido, o indizível e a impossibilidade de captar e recuperar as coisas.... a tentativa de recuperar o primeiro grito, não só as coisas em sua novidade, mas o momento do antes, a palavra aquém da linguagem, as coisas que brotam e que são fonte da linguagem. Ou, em outras palavras: "a linguagem afectada pelo silêncio é o ninho. Como o visível afectado pela obscuridade é o sonho.» Excelente esta voz de Pascal Quignhard.
Amo essa voz que me habita em raros momentos, outras vezes, não chega a sair. Fica suspensa na possibilidade...
...
Agora ficou só este silêncio
esta voz que me diz
O que Setembro era.
Perdoem-me. Esqueci-me de agradecer o poema do Paulo Borges: «e nos flore a boca em riso, rosa e asa».
ResponderEliminarRetribuo:
Tambores calados/ para a festa de ninguém/vêm do vento vestidas de negro/em filas de tinta preta/as mortes que fui/em honra de quem?//
Tenho na minha boca/um grito em forma de oração/já não chama o tempo/ em pancadas secas./Muda-se por dentro.
Obrigado
Quando ressuscitaremos de ser deuses ?
ResponderEliminar:)
ResponderEliminarCamélia
ResponderEliminarPensa-se tanto no "Criador" do mundo e nega-se tanto a sua presença.
O que receamos... de algo superior a nós?
Que ousadia sermos deuses na terra,
Quem somos nós...
Nos, raca humana, nao somos mais que bichinhos reles que tem feito mais mal ao planeta que piokhos, lesmas, baratas ou ate mesmo ratazanas.
ResponderEliminarNem sequer somos dos bichos mais bonitos.
Temos esse dom perigoso que e o da razao e do livre arbitrio, que tanto pode ser usado para o supremo bem como para o supremo mal.
Acho que ja sabem que lado tem predominado na accao humana.