Um espaço para expressar, conhecer e reflectir as mais altas, fundas e amplas experiências e possibilidades humanas, onde os limites se convertem em limiares. Sofrimento, mal e morte, iniciação, poesia e revolução, sexo, erotismo e amor, transe, êxtase e loucura, espiritualidade, mística e transcendência. Tudo o que altera, transmuta e liberta. Tudo o que desencobre um Esplendor nas cinzas opacas da vida falsa.
Os outros não sei, mas o D. Juan de "D. João e a Máscara", de António Patrício, era alguém que procurava a Morte em todas as mulheres que seduzia e possuía. Finalmente encontrou-a e tornou-se santo.
Dizem (que eu não sou de intrigas...)que para uma pergunta tola, uma resposta tola. Não me parece que seja assim. Até porque aquilo que à partida parece ser de tolos, muitas vezes o não é de todo. Qualquer pergunta merece resposta, como qualquer resposta gera outra interrogação. Vou ser claro, e começo por elucidar da expressão, por mim usada, uns comentários abaixo: D. Juan - Figura e mito literário e espécie de histeria masculina. Um sintoma da histeria masculina é a Errância. O que Charcot encontra é a mobilidade dos sintomas na histeria feminina ( exemplo clínico da paciente em buscas do gastro, cardiologista, ortopedista).- um sintoma errante pelo corpo. Na histeria feminina o sintoma se desloca por todo o corpo, as famosas mudanças de humor feminino, da alegria esfuziante à irritação instantânea, da serenidade tranquila à melancólica tristeza. La Donna é mobile. Isto se contrapõe a fixidez característica dos homens. A mobilidade da histeria masculina.Se a mulher é móvel no sentido das suas emoções e dos seus sintomas, o homem é móvel no sentido geográfico, isto é, é aquele que vai errar pela vida afora, de cidade em cidade, de casa em casa, de país em país, de mulher em mulher. Essa é a característica da errância masculina. Um homem sem pátria, sem, lar, sem lugar fixo. É aquele que não fica quieto em nenhum lugar, não sossega, não repousa, está sempre em movimento. Para Jung, as figuras míticas dos heróis em geral são andarilhos e o caminhar errante é um símbolo do anseio, da busca incessante que nunca encontra seu objeto, da nostalgia da mãe que se perdeu. Em “Símbolos de Transformação” , Jung considera que o objetivo secreto da caminhada errante é a mãe que se perdeu ( puer/complexo materno). Há uma parte da libido que se retira das tarefas heróicas e retorna incestuosamente no inconsciente em busca da mãe. Como esta libido é bloqueada pelo tabu do incesto, a libido não consegue atingir seu objetivo e fica , condenada, para sempre a caminhar errantemente em busca de um lugar nostálgico. Porém a pergunta fundamental é: O que faz D.Juan com as mulheres? O mito nos revela que D.Juan é aquele que se relaciona com as mulheres de forma muito específica, ou seja, ela lida com as mulheres uma a uma, e este traço é de fundamental importância no mito; não são todas as mulheres ao mesmo tempo, D.Juan não é o homem que tem várias mulheres ao mesmo tempo, ele é aquele que as trata de modo único e particular, é uma a uma, quando está com uma mulher ele está com ela, quando está com outra é outra e assim sucessivamente, sem ponto de chegada. Aqui outra característica marcante do mito, pois D.Juan é o homem que conta as mulheres, as conta individualmente e uma a uma. Por oposição ao «Sultão». O Sultão representa um tipo de homem que guarda para si todas as mulheres impedindo o acesso de todos os outros homens a essas mulheres. Ele é aquele que goza e se satisfaz de todas as mulheres, não deixando que nenhum outro homem as possa a vir tocá-las. Uma característica fundamental do Sultão: Um homem que tem todas as mulheres, que guarda todas ela para si, a fantasia arquetípica do homem possuidor de todas as mulheres e todas ao mesmo tempo. O Sultão e seu Harém, o Harém como o lugar onde se guarda confinadas todas as mulheres possuídas pelo Sultão. Aqui, poderíamos estabelecer uma analogia: O homem Puer, histérico representado por D.Juan e o homem Senex, obsessivo, representado pelo Sultão... (Claro que fui às fontes...) Só falo do que sei. Quanto às miúdas giras e feias, rapazes também...não comento. Acho que são disparates. Salvo talvez o último, Dona Juana, não sei. Pode ser uma princesa que não é a flor que certamente é. O resto... é o romance ou a vida real ou ficcionada...
Desculpa e obrigado. Desculpa pela extensão do comentário. Não havia necessidade...eu acho. Obrigado por teres tido a paciência de o ler. Se calhar, as mulheres errantes são as «Donas Juanas», mas disso saberás mais do que eu. Que andas embarcada...
Agora, princesa, dois poemas de embarcar:
Um grão de areia/Sustenta o meu ser/Como quem desata/O nó apertado/da corda partida...//
Desvendo e parto de novo/Como um pescador solitário/Engolindo vento.
Curiosamente, obscuro, as mulheres errantes são mais solitárias do que os homens errantes.
Os homens errantes são muitas vezes fonte de fascínio para as mulheres, pois eles incarnam uma liberdade e uma fruição da vida que muitas vezes lhes é negada.
As mulheres errantes são muitas vezes fonte de pavor para os outros, especialmente od homens, pois incarnam uma liberdade que normalmente não é conferida ás mulheres e que as torna difíceis de "domesticar".
A mulher errante nunca foi uma boa "fã". Pode ser uma boa companheira para quem a compreenda e partilhe o gosto pela errância, mas nunca será alguém que dará lustre ao ego de pessoas cuja insegurança torna tal lustre necessário.
A errância implica força interior para que não degenere em solidão, loucura ou exploração do outro.
Muito obrigada pelos teus bonitos poemas, obscuro. Gosto muito das nossas meditações conjuntas:-)! Espero que continuem:-)!
Já agora, porque perguntas ?
ResponderEliminarPorque gostaria de saber a vossa opinião:-)!
ResponderEliminarOs outros não sei, mas o D. Juan de "D. João e a Máscara", de António Patrício, era alguém que procurava a Morte em todas as mulheres que seduzia e possuía. Finalmente encontrou-a e tornou-se santo.
ResponderEliminarDizem (que eu não sou de intrigas...)que para uma pergunta tola, uma resposta tola. Não me parece que seja assim. Até porque aquilo que à partida parece ser de tolos, muitas vezes o não é de todo. Qualquer pergunta merece resposta, como qualquer resposta gera outra interrogação. Vou ser claro, e começo por elucidar da expressão, por mim usada, uns comentários abaixo: D. Juan - Figura e mito literário e espécie de histeria masculina. Um sintoma da histeria masculina é a Errância.
ResponderEliminarO que Charcot encontra é a mobilidade dos sintomas na histeria feminina ( exemplo clínico da paciente em buscas do gastro, cardiologista, ortopedista).- um sintoma errante pelo corpo. Na histeria feminina o sintoma se desloca por todo o corpo, as famosas mudanças de humor feminino, da alegria esfuziante à irritação instantânea, da serenidade tranquila à melancólica tristeza. La Donna é mobile. Isto se contrapõe a fixidez característica dos homens.
A mobilidade da histeria masculina.Se a mulher é móvel no sentido das suas emoções e dos seus sintomas, o homem é móvel no sentido geográfico, isto é, é aquele que vai errar pela vida afora, de cidade em cidade, de casa em casa, de país em país, de mulher em mulher. Essa é a característica da errância masculina. Um homem sem pátria, sem, lar, sem lugar fixo.
É aquele que não fica quieto em nenhum lugar, não sossega, não repousa, está sempre em movimento.
Para Jung, as figuras míticas dos heróis em geral são andarilhos e o caminhar errante é um símbolo do anseio, da busca incessante que nunca encontra seu objeto, da nostalgia da mãe que se perdeu. Em “Símbolos de Transformação” , Jung considera que o objetivo secreto da caminhada errante é a mãe que se perdeu ( puer/complexo materno). Há uma parte da libido que se retira das tarefas heróicas e retorna incestuosamente no inconsciente em busca da mãe. Como esta libido é bloqueada pelo tabu do incesto, a libido não consegue atingir seu objetivo e fica , condenada, para sempre a caminhar errantemente em busca de um lugar nostálgico.
Porém a pergunta fundamental é: O que faz D.Juan com as mulheres?
O mito nos revela que D.Juan é aquele que se relaciona com as mulheres de forma muito específica, ou seja, ela lida com as mulheres uma a uma, e este traço é de fundamental importância no mito; não são todas as mulheres ao mesmo tempo, D.Juan não é o homem que tem várias mulheres ao mesmo tempo, ele é aquele que as trata de modo único e particular, é uma a uma, quando está com uma mulher ele está com ela, quando está com outra é outra e assim sucessivamente, sem ponto de chegada. Aqui outra característica marcante do mito, pois D.Juan é o homem que conta as mulheres, as conta individualmente e uma a uma.
Por oposição ao «Sultão». O Sultão representa um tipo de homem que guarda para si todas as mulheres impedindo o acesso de todos os outros homens a essas mulheres. Ele é aquele que goza e se satisfaz de todas as mulheres, não deixando que nenhum outro homem as possa a vir tocá-las. Uma característica fundamental do Sultão: Um homem que tem todas as mulheres, que guarda todas ela para si, a fantasia arquetípica do homem possuidor de todas as mulheres e todas ao mesmo tempo. O Sultão e seu Harém, o Harém como o lugar onde se guarda confinadas todas as mulheres possuídas pelo Sultão. Aqui, poderíamos estabelecer uma analogia: O homem Puer, histérico representado por D.Juan e o homem Senex, obsessivo, representado pelo Sultão... (Claro que fui às fontes...)
Só falo do que sei. Quanto às miúdas giras e feias, rapazes também...não comento.
Acho que são disparates. Salvo talvez o último, Dona Juana, não sei. Pode ser uma princesa que não é a flor que certamente é. O resto... é o romance ou a vida real ou ficcionada...
Que interessantes questões!
Excelente resposta, obscuro, muito obrigada!
ResponderEliminarE já agora, o que dizer das mulheres que são errantes no sentido geográfico?
ResponderEliminarDesculpa e obrigado. Desculpa pela extensão do comentário. Não havia necessidade...eu acho. Obrigado por teres tido a paciência de o ler.
ResponderEliminarSe calhar, as mulheres errantes são as «Donas Juanas», mas disso saberás mais do que eu. Que andas embarcada...
Agora, princesa, dois poemas de embarcar:
Um grão de areia/Sustenta o meu ser/Como quem desata/O nó apertado/da corda partida...//
Desvendo e parto de novo/Como um pescador solitário/Engolindo vento.
Curiosamente, obscuro, as mulheres errantes são mais solitárias do que os homens errantes.
ResponderEliminarOs homens errantes são muitas vezes fonte de fascínio para as mulheres, pois eles incarnam uma liberdade e uma fruição da vida que muitas vezes lhes é negada.
As mulheres errantes são muitas vezes fonte de pavor para os outros, especialmente od homens, pois incarnam uma liberdade que normalmente não é conferida ás mulheres e que as torna difíceis de "domesticar".
A mulher errante nunca foi uma boa "fã". Pode ser uma boa companheira para quem a compreenda e partilhe o gosto pela errância, mas nunca será alguém que dará lustre ao ego de pessoas cuja insegurança torna tal lustre necessário.
A errância implica força interior para que não degenere em solidão, loucura ou exploração do outro.
Muito obrigada pelos teus bonitos poemas, obscuro. Gosto muito das nossas meditações conjuntas:-)! Espero que continuem:-)!