sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

coisas de anjos



já sabes que entre aqui
nada nos separa
que a máquina de roubar gotas ao setembro
tem umas agulhas de prata
para bordar as vestes da eternidade
com fios de estar a ver o luar
a desfraldar a noite
no ermo que seremos
e que as mãos apressam-nos para o ter sido
essas aranhas de esperar as moscas incautas
de querer ser gente
e do ventre da rebentação das ondas do mar de depois
o vitral de frios a crepitar na pele
salgados e de repente
apanha-nos incautos
a molhar os pés que não temos
na ilusão de que o mundo tem umas escadas
daqui para o céu
resta-nos vestir o manto de sermos dois
e viver o drama de nos faltarmos em nós
e da vida a dois ser impossível
já que as máscaras enferrujam com o passar do tempo
e é horroroso trazê-las debaixo da pele
como os punhais dos covardes
feitos de ferro e frustração

2 comentários:

  1. Paulo, Boa tarde,
    Num intervalo de leitura vim à Serpente e li logo o teu poema. Gosto do sítio que apresentaste fotografado, já derivei por esses céus e águas paisagens multicolores (tudo o que nos acontece antes e depois do Preto e do Branco)
    Teres trazido as "gotas de setembro" nesta hora crepuscular foi também um flash na alma.

    Mas a vida a dois é perfeitamente possível, desde que não seja o fim a atingir. E que seja uma opção, não um esforço.

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  2. Continuamos com os espaços ensolarados! Temos que fotografar até à exaustão o que mais amamos. Para Nadar, só o rosto humano era digno de ser fotografado. Parece que tu substituis rosto por espaço iluminado! Não sei se conheces aquele conjunto de fotografias, "Equivalentes", de Stieglitz. É só o céu e nuvens. Talvez gostes de Ansel Adams e as suas fotografias de paisagens mais expressivas que elas mesmas. Há mestres em diversos domínios.Ansel Adams foi de facto um mestre no domínio da técnica fotográfica e um marco importante no mundo da fotografia.

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