domingo, 20 de janeiro de 2008

SOBRE A INFÂNCIA

“ O ponto fundamental do culto popular do Espírito Santo não é, porém, nem o banquete comum e livre, nem o soltar os presos, nem a procissão que segue a Pomba, no estandarte ou coroa; é a instalação de uma criança como Imperador do mundo. No paraíso terrestre que se quer dispensam-se os adultos de todas as funções dirigentes que têm sido até hoje e se declara mais importante que tudo quando possa ter sido na vida o menino que foram e tão infelizmente morreu; declara-se que todos os imperadores de qualquer Império declarado santo pela vontade, os interesses e os apetites dos homens, devem ceder seu trono às características infantis da atenção contínua à vida, de existência total no presente, de ignorância de códigos, manuais e fronteiras, de integração no sonho, de valorização do jogo sobre o trabalho, de simpatia pela cigarra, que logo a vossa escola substituiu pelo aplauso à formiga, já que uma convém à alegria, apenas, e a outra ao lucro. Entrega-se ao Menino, e aí está Jesus com suas parábolas dos pequeninos, e aí está São Francisco com seu presépio, como aí estão os Zen com seu transcender as convenções, entrega-se às crianças, para que com ele brinquem e nós com ele brinquemos, o mundo que, afrontando tanto mal e tanto mal nos arriscando, conseguimos construir. Ainda, neste ponto, prova nenhuma de que seja possível algum dia, readquirirmos nossa infância; puro artigo de Fé do nosso povo; dele, o meu, se digno” ( Agostinho da Silva, in Dispersos)

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