terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Pobreza amada

Pobreza amada,

Grande é a tua senhoria!

Minha é a França e a Inglaterra,

para além do mar tenho toda a terra

(e nenhuma guerra me move,

porque a tenho a meus pés).

Minha é a terra de Sassonha,

minha é a terra de Vasconha,

minha é a terra de Borgonha

com toda a Normandia.

Meu é o reino Teotonícoro,

meu é o reino Boemíoro,

Ibérnia e Dazíoro

Escócia e Fressónia.

Minha é a terra de Toscana,

meu é o vale spoletano,

minha é a Marca Anconitana

com toda a Esclavónia.

Minha é a terra siciliana,

Calábria e Puglia plana,

Campanha e terra romana

com toda a planície de Lombardia.

Minha é a Sardenha e o reino de Chipre,

o de Córsega e o de Creta;

para lá do mar gente infinita,

que nem sei ao certo onde estão.

Medos, Persas e Elamitas,

Jacobitas e Nestorianos,

Georgeanos e Etiópios,

Índia e Barbaria.

As terras dei para a lavoura,

àqueles que as cultivassem;

renuncio aos frutos de cada ano,

tal é a minha cortesia.

Terras, ervas com as suas cores;

árvores, frutos com os seus sabores,

as bestas ao meu serviço,

todos estão no meu talhão.

Águas, rios, lagos e mares,

os peixes no seu nadar,

brisas, ventos, pássaros a voar,

todos me prestam saudação.

Lua e sol, céu e estrelas

perante meus tesouros pouco são;

é sobre o céu que eles estão,

e é sobre eles o meu canto.

Pois Deus tem a minha vontade,

e é senhor de tudo o que eu seja,

as minhas asas têm tantas penas

que da terra ao céu já não é caminho.

Pois o meu querer a Deus o dei,

sou senhor de todo o estado;

e no seu amor transformado,

enamorada cortesia.

Jacopone da Todi (1236-1306)

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