sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

O rosto dos homens

Sopra em nós e somos vento.

Olha para nós, chama por nós

e somos vento. Somos vento

de cada lado em que nos toquem.


Fechada no cofre do vento,

a cara estala como uma bandeira.

Rostos imperscrutáveis

como os rostos dos homens,

transformados desde dentro.

Esses rostos são o vento.


Trazemos no ventre um filho

bem-amado, farto de correr

as lâmpadas dos mundos.

E assim podemos atravessar,

como espíritos do ar, os quatro

espaços na barca das ventanias

– e ainda ouvir, conservadas no gelo,

as últimas palavras dos homens.



(Também publicado no último número da revista Agália, Santiago de Compostela, Inverno de 2007)

1 comentário:

  1. A minha amiga que não tem computador nem telemóvel e que parece viver assim á desgarrada a experimentar vestidos de roda e a divertir-se nos giros loucos como se fosse sempre Primavera, quando viu este texto, juntou as mãos que elevou á altura dos lábios como se estivesse a beijar o vento, e exclamou num tom baixinho, fazendo os olhos participarem das palavras: “ É lindo! “. Ao dar-te esta imagem, aproveito também para te felicitar tamanho rasgo de inspiração muito embora este tipo de observações, a meu ver, não deva fazer parte dos comentários deste blog visto que inspirados parecem todos. Cada um melhor que o outro.

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