Sopra em nós e somos vento.
Olha para nós, chama por nós
e somos vento. Somos vento
de cada lado em que nos toquem.
Fechada no cofre do vento,
a cara estala como uma bandeira.
Rostos imperscrutáveis
como os rostos dos homens,
transformados desde dentro.
Esses rostos são o vento.
Trazemos no ventre um filho
bem-amado, farto de correr
as lâmpadas dos mundos.
E assim podemos atravessar,
como espíritos do ar, os quatro
espaços na barca das ventanias
– e ainda ouvir, conservadas no gelo,
as últimas palavras dos homens.
(Também publicado no último número da revista Agália, Santiago de Compostela, Inverno de 2007)
1 comentário:
A minha amiga que não tem computador nem telemóvel e que parece viver assim á desgarrada a experimentar vestidos de roda e a divertir-se nos giros loucos como se fosse sempre Primavera, quando viu este texto, juntou as mãos que elevou á altura dos lábios como se estivesse a beijar o vento, e exclamou num tom baixinho, fazendo os olhos participarem das palavras: “ É lindo! “. Ao dar-te esta imagem, aproveito também para te felicitar tamanho rasgo de inspiração muito embora este tipo de observações, a meu ver, não deva fazer parte dos comentários deste blog visto que inspirados parecem todos. Cada um melhor que o outro.
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