Sei que estas linhas não quebrarão o cimento da nossa história,
nem nos darão uns olhos aliviados das lentes do pensamento.
No entanto, sei também que te amo com a efervescência de uma fórmula cabalistica,
com uma Moura melancolia de laranjas e de espadas,
o nó na garganta das identidades silenciadas.
Amo-te com o desejo sincretico de ser eu e tudo ao mesmo tempo,
com uma nudez de papel de arroz a que alguns chamam ingenuidade.
Sei que estas palavras nao acenderão lanternas nas cicatrizes do teu espirito.
Sei que é tua a angustia das almas que se engolem a si mesmas
para escapar ao peso de um céu que desaba sobre um país sem montanhas nem surpresas,
assim como é minha a ansiedade de um povo pendurado na falésia,
sobre si as mandibulas de uma ganância triunfante,
debaixo de sí a espumosa sanguessuga,
o vácuo aspirador de um mar agora povoado de detritos.
No entanto,
é impossivel resistir ao apelo da mémoria que circula nas minhas veias,
ao eco de uma promessa por cumprir que é segredada a cada novo ser quenasce entre nós,
os degredados na própria patria,
os que só encontram a paz na impermanência.
Essa promessa é a sintese das diferenças, dos fragmentos de um todo primordial.
É por isso que ouso amar-te,
o meu amor um grito planando pelo vale sem um eco que o acompanhe.
O meu amor é fibra tecida no cordão da Historia,
é transformação alquímica,
é entrega ao Universal.
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