segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010
WIM WENDERS: O REALIZADOR ALEMÃO QUE VERSA SOBRE OS ANJOS
W. Wenders, o célebre realizador alemão, refere-se à presença dos Anjos de Rilke, de Benjamim, de Klee … e à respectiva significação e influência na sua obra fílmica em A Primeira descrição de um Filme Verdadeiramente Indescritível. Retirado de um primeiro treatment de Der Himmel Über Berlin (“As Asas do Desejo”), in A lógica das Imagens.
A propósito escreve: «A posteriori é-me quase impossível determinar como nasceu a ideia de povoar com anjos a minha história em Berlim. Surgiu de muitas fontes ao mesmo tempo. Foram, sobretudo, as Elegias de Duíno de Rilke. Depois foram, já desde há muito, os quadros de Paul Klee. O Engel der Geschichte de Walter Benjamim. (…) Também uma canção dos Cure, na qual se falava de fallen angels e uma song no auto-rádio, em que apreciava o verso talk to an angel. Foi um dia no centro de Berlim, apareceu-me aquela figura dourada, o “anjo da Paz”, que de anjo guerreiro da vitória evoluiu para pacifista, foi a ideia de quatro pilotos aliados lançados sobre Berlim, foi a ideia de uma coexistência e justaposição de hoje e de ontem em Berlim, “imagens duplas” no tempo e no espaço, foram, desde sempre, as imagens infantis dos anjos como observadores invisíveis e constantemente presentes; resumindo, foi, por assim dizer, a velha “nostalgia do transcendente” e foi simultaneamente também a vontade do contrário flagrante: A vontade de fazer uma comédia! A seriedade sagrada de uma comédia!» (Lógica das Imagens, pp. 105 -106).
Nesta obra o cineasta tece os seus próprios comentários sobre as ideias/ideais que o impulsionaram à escrita dos argumentos destes dois filmes por si realizados, cuja ligação de complementaridade é apresentada em termos peremptórios: Tão Perto Tão Longe é a derradeira continuidade de As Asas Do Desejo. O Céu Sobre Berlim – tradução literal do título original alemão Der Himmel Über Berlin – Anjos sobre Berlim, Asas do Desejo que pairam sobre os céus da capital desestruturada. Uma visão singular; um modo único de abordar um tema tão delicado quanto inquietante, não só para o povo alemão, mas para toda humanidade.
Enfim… escreve Wenders: «Os anjos estão, portanto, em Berlim desde o fim da Segunda Guerra Mundial, condenados a permanecer aí. Não detêm já “poder”, já são apenas espectadores, assistem a tudo aquilo que acontece, sem a mais pequena possibilidade de poderem participar. Antigamente ainda podiam influenciar ou, enquanto anjos da guarda, pelo menos, sussurrar alguma coisa às pessoas, mas também isso é agora passado. Agora, estão simplesmente ali, invisíveis aos homens, vendo eles próprios, todavia, tudo. Os anjos não só vêem tudo, mas ouvem também tudo, mesmo os pensamentos mais secretos.» (op.cit., pp.107 - 108.
Isabel Rosete
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3 comentários:
Muito interessante, Isabel, esta viagem com asas, com anjos, seres com quem tenho uma presença muito "ausente" e uma ausência muito presente, também.
Gosto de gostar desses filmes que aqui nos traz. Pretexto e texto para ir aos da minha infância, os que me têm acompanhado em viagens longas, umas, outras, como súbitos golpes de asa e... já lá estamos!
Viemos de tão longe! E cá ficaremos, mesmo que não sejamos ouvidos, saberemos nós os seus segredos?!
O que seria a humanidade sem asas ou o sonho delas?! E sem anjos... que tudo sabem e em e a tudo segredam as suas asas brilhantes; os seus sopros de brandura... os seus olhos fechados...
Creio neles sem quê nem porquê.
Até já vi alguns e ouvi tantos outros!
Sobre os anjos é um bom tema de que versar e... versejar, também.
Cumprimentos. Sou sua leitora.
"Os anjos não só vêem tudo, mas ouvem também tudo, mesmo os pensamentos mais secretos"
Pois assim é.
Eu tenho um anjo da guarda
que vela pelos meus passos:
mesmo sem asas nem farda,
reconheç0-o pelos traços!
JCN
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