O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


terça-feira, 9 de setembro de 2008

Para o Deserto


Para onde levas o meu coração? Ele mora onde moras e nenhum grão do deserto girará fora da sua casa. A tua casa é a minha casa, a tua taça é a minha taça. Nas tuas lágrimas correm as minhas lágrimas e o mesmo Sol as seca. Por isso, um irmão que se afasta leva o deserto do outro irmão consigo.


“Em busca do amado contemplei enfim meu próprio coração, e lá o vi, não era outra sua morada (...). Corramos a casa do amado (...). Jurei por tua vida jamais desviar os olhos de tua face (...). Não buscarei em mais ninguém, pois, a causa de minha dor é ver-me longe de ti (...) Viaja dentro de ti. Faltam-te pés para viajar? Viaja dentro de ti mesmo, e reflete, como a mina de rubis, os raios de Sol para fora de ti. A viagem te conduzirá a teu ser, transmutará teu pó em ouro puro (...). É o Sol de Tabriz que opera todos os milagres: Toda árvore ganha beleza quando tocada pelo Sol”

“Vem. Te direi em Segredo aonde leva esta dança. Vê como as partículas do ar e os grãos de areia do deserto giram desnorteados. Cada átomo feliz ou miserável, gira apaixonado. Em torno do Sol.”


RUMI, Jalal ud-Din. Poemas Místicos/ Rumi: Seleção de poemas do Divan de Shams de Trabiz. Trad. e introd. de José Jorge de Carvalho. 1ª. Ed. São Paulo: Attar Editorial, 1996.

5 comentários:

Semente disse...

Querida Saudades,

Que belo poema!
O Deserto!
Ao ler estas palavras senti como se tivesse acabado de chegar de lá, onde estive faz pouco tempo.
Como se tivesse chegado de mim. De mim deserta, do meu deserto. De um deserto que não é meu e que sou eu, ao mesmo tempo.

E como é bom receber o carinho desses grão de areia em nosso rosto!
Como é bom ver o sol iluminar aquela areia seca, alaranjada e suave. Como é bom sentir que somos parte dessa areia, que somos grãos!

Como é bom sabermos que amanhã não estaremos, nem seremos no mesmo lugar. E que os ventos do deserto nos transmutam todos os dias, sem deixarmos de sermos o que somos lá e cá, pó.

:)

Obrigada, Saudades*

Anónimo disse...

Também as pessoas ganham beleza e bem quando tocadas pelo Sol. É preciso girar em torno dele. Não do si mesmo. E, no entanto, é cada um que deve relembrar-se disto s i mesmo...só um místico pode dizer isto a todos.

Um imenso sorriso à procura do Sol para si, ti...mi, fá, Sol...(risos, com sorrisos, por esta música desordenada...)

Unknown disse...

Para quem se sabe em mim, para quem me sabe em si:

http://br.youtube.com/watch?v=UC-wix2_p78&feature=related

Anónimo disse...

Sereia,

Acabada de chegar, acabada de partir, sempre o Sol há-de brilhar sobre as areias do deserto, sobre o mar... O movimento dos homens, como as marés, recua e avança, como os guerreiros de uma luz maior, para nos lembrar que o pó, a pedra, o animal, o vegetal, o Homem... a vida tem os seus movimentos, os seus ritmos, mas nas suas pausas é que se ouve o fundo oceano, ai somos o deserto...

Isabel,

Tocados pelo Sol que está para além
daquele que nos tinge a pele, outro Sol nos lembra com saudade que todos somos uma só chama, a arder com diferentes intensidades...

PS. Gostei dessa música em mezzo soprano.... staccato, para que o silêncio soe entre as sílabas...

beijo

Anita,

Para quem se sabe irmanado...

luizaDunas disse...

BonDia Saudades,

A sol.idão do Amor é um novelo de luz do qual se tece o encontro profundo dos Amantes. Infindável tecedura, bela e gloriosa presença, anterior e posterior ao presente e ao regresso.



“All sunshine makes a desert”