quinta-feira, 25 de abril de 2013


O(H)VIBEJA

aí estão as cabras
com os seus brincos
pendurados das orelhas

as vacas e os porcos
com seus piercings
no focinho e nas narinas

os burros
com a sua calma legendária
suas orelhas de abano
de grandes mais eficientes do que auscultadores

os cavalos lazões
castanhos izabela
prontos a serem montados
por meninos e meninas

aí estão os vendedores
de algodão-em-rama e de amendoins
e os cães domésticos
puxando os donos pelas trelas

aí estão as aves exóticas
os papagaios araras
e os garnizés
e os pombos gordos
que nem perus pelo Natal
e os camponeses velhos reformados
a não perderem nada
pelos pavilhões arrastando os pés

aí estão as avós
puxadas pelos netos
atrás dos fumos doces
dos churros das farturas
e os agricultores
perdidos em projetos
que rentabilizem
a ingrata agricultura

a água do Alqueiva
os olivais a rega
sem a qual a planta não tem seiva
o vendedor de máquinas
prometendo a entrega
do tractor New Holland
para virar a leiva

a gente do governo
pródiga em promessas
:
baixa de impostos subsídios sonhos

os putos marginais
virando a Feira das avessas
limpando ao braço
transpirações e ranhos

aí estão os balões
as espadas Excalibur
os pavilhões
de produtos regionais
:
os méis os queijos os enchidos maduros
os cheiros assimilados
a humores corporais

entanto o Sol falece
prós lados de Lisboa
são horas de apanhar o autocarro
- há quem vá de vagar há quem se apresse
há os eternos retardatários
distribuindo ainda
o tinto que há num jarro

até pró ano - a Feira estava boa
podia estar melhor diz a mulher cansada
perde a gente o tempo
por aqui à toa
com o raio da crise
não dá pra comprar nada

4 comentários:


  1. Possui de graça carradas
    esta sua poesia
    que mostra toda a mestria
    das suas trovas rimadas!

    JCN

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  2. estes seus comentários amigos

    (ao que parece único leitor)
    vão me ligando a esta velha SERPENTE,
    que já teve dias mais ofídicos

    grande abraço

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  3. A serpente, caro Amigo,
    está prestes a expirar,
    contando apenas consigo
    para ainda respirar!

    JCN

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  4. é verdade

    vou mesmo deixá-la expirar em paz

    deixa-me alguma nostalgia, sobretudo
    alguns momentos de polémica mais acesa em que ambos tomámos parte

    muitas das nossas interessantes quadras, os seus belíssimos sonetos,
    tudo vai perder-se no éter, no espaço, como coisas, que o não eram, verdadeiramente fúteis

    grande abraço para si, quem sabe se não nos reencontramos ainda noutro espaço - antes da eternidade
    se é que ela existe

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