quarta-feira, 16 de maio de 2012

As minhas sardas

Fiquei a pensar como seria a tarefa de contar as minhas sardas...
Quando era criança,  morei num bairro de pescadores, em Fortaleza, onde os miúdos traziam na boca histórias fantásticas. O Vavá tinha a cabeça achatada e explicava que era assim porque a mãe quando grávida tinha caido no chão bem em cima da barriga. Recordo o meu espanto com tal explicação. Se ela tivesse caído de lado, como seria o perfil?
Um dia o  Pirrita aconselhou-me a lavar a cara com o meu xixi para limpar a cara.
A verdade é que sempre tive complexos por ser sardenta.
Na adolescência colocava base e as sardas viam-se por baixo - teimosos sinais castanhos que não me largavam. 

Para as ruivas, o cabelo é da cor da cenoura e faz todo sentido serem sardentas. Eu que sempre tive o cabelo castanho, passava por uma falsa sardenta. Com os anos fui aprendendo a gostar destesn pequenos sinais.
No rosto são mais de cem, no corpo outras tantas que invento e não encontro. Umas cresceram como se fossem sementes de uma nova gente. Outras apagaram-se tão cansadas estavam da vida acontecida. Acordam na minha pele todas as manhãs. Vivem comigo desde criança. Namoram umas com outras, casam-se e inventam filhos. 

Nunca as vi morrer, senão a fundirem-se.
Até a hora do juízo final.

3 comentários:

  1. Quando na alma há poesia
    que a escrever nos impele,
    até das sardas da pele
    se faz uma sinfonia!

    JCN

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  2. Não deixe que as suas sardas
    lhe causem nenhum desgosto:
    sejam castanhas ou pardas,
    sempre dão beleza ao rosto!

    JCN

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  3. Se acaso Nossa Senhora
    fosse de raça ariana
    e não palestiniana,
    talvez fosse detentora
    de meia dúzia de sardas
    entre castanhas e pardas!

    JCN

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