Fiquei a pensar como seria a tarefa de contar as minhas sardas...
Quando era criança, morei num bairro de pescadores, em Fortaleza, onde os
miúdos traziam na boca histórias fantásticas. O Vavá tinha a cabeça
achatada e explicava que era assim porque a mãe quando grávida tinha
caido no chão bem em cima da barriga. Recordo o meu espanto com tal
explicação. Se ela tivesse caído de lado, como seria o perfil?
Um dia o Pirrita aconselhou-me a lavar a cara com o meu xixi para limpar a cara.
A verdade é que sempre tive complexos por ser sardenta.
Na adolescência colocava base e as sardas viam-se por baixo - teimosos
sinais castanhos que não me largavam.
Para as ruivas, o cabelo é da cor
da cenoura e faz todo sentido serem sardentas. Eu que sempre tive o
cabelo castanho, passava por uma falsa sardenta. Com os anos fui aprendendo a gostar destesn pequenos sinais.
No rosto são mais de cem, no corpo outras tantas que invento e não
encontro. Umas cresceram como se fossem sementes de uma nova gente. Outras apagaram-se tão cansadas estavam da vida acontecida. Acordam na minha pele todas as manhãs. Vivem comigo desde
criança. Namoram umas com outras, casam-se e inventam filhos.
Nunca
as vi morrer, senão a fundirem-se.
Até a hora do juízo
final.
Quando na alma há poesia
ResponderEliminarque a escrever nos impele,
até das sardas da pele
se faz uma sinfonia!
JCN
Não deixe que as suas sardas
ResponderEliminarlhe causem nenhum desgosto:
sejam castanhas ou pardas,
sempre dão beleza ao rosto!
JCN
Se acaso Nossa Senhora
ResponderEliminarfosse de raça ariana
e não palestiniana,
talvez fosse detentora
de meia dúzia de sardas
entre castanhas e pardas!
JCN