sexta-feira, 3 de junho de 2011

Deserto inominável



O deserto é um silêncio depois do mar,

É o êxtase da luz sobre o coração da areia.

Vai-se e volta-se e nada se esquece.

Tudo se oculta para depois se dar a ver

No ponto em que os ventos se cruzam

E as almas gritam no fundo dos poços.

Os cestos sobem e descem prometendo água,

Uma frescura que derrete a febre.

Não são as tâmaras que adoçam a boca,

É a beleza das mulheres dissimulando

O desejo como um pecado sob a escuridão dos véus.

As serpentes assobiam ou cantam

Conforme o veneno que lhes molda o sangue.

Enroscam-se sobre as pedras

como fragmentos de lua à espera da manhã.

E a sombra alonga-se nas dunas

Ondulando rente às palmeiras

Como a última cobra do medo das crianças.

Não há ruído maior que este silêncio

Que se serve com tâmaras e com chá

Na mesa rasteira, sobre a terra molhada.

É no que não se nomeia que está o infinito.

José Jorge Letria
Os Mares Interiores
Lisboa, Teorema, 2001

4 comentários:

  1. 'Inominável, por ser deserto'

    Abraço

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  2. Com mil trovões, perdão, com mil perdões:

    Continuo a achar que a JJL talvez obesem, em certa retumbante redundância, o profuso dos prémios literários e porventura algum para-fuso lasso nas metáforas: pode ser de misturar tanta tâmara com chá.

    Claro que isto é só para... chatear certa pessoa. :))

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  3. ah!ah!ah!!!!!!

    (Isto não são horas de andar por aqui, mas as tâmaras com chá, desaparafusaram-me as metáforas... não!... as anáforas! Bolas!!! Vim só beber chá. As tâmaras estavam lá por ser deserto...)

    Era capaz de concordar consigo na obesidade redundante de JJL, deve de ser por "devorar" tantos prémios!!! ;)

    Pasme-se:

    Esta não é a hora de "certa pessoa" se chatear, nem mesmo com MeTheOros: é hora incerta!

    É hora de dormir. Boa noite.:))

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