quarta-feira, 18 de maio de 2011

SENTADO NUMA SALA ÀS ESCURAS



Sentado numa cadeira na sala às escuras. Uma perna para cada lado, os braços lassos. Um nervosismo parece inspeccionar cada contra-luz numa maldição
O que está de cu sentado cisma como versos de Ajax por entre intervalos a roerem unhas. E transpira o escuro, MEMÓRIAS. Intersecção rutilante, nada menos.

Sentado ao abandono absoluto da compreensão numa púbere e permanente existência de Ser, como são, uma fileira interminável de bonecos sachados da terra porca com uma única frase pendurada da ponta da língua, caindo como gota de cuspo:

“nada menos que o céu”

Quem estava sentado deitar-se-á através das casas construídas no pó e fechadas por dentro, vogando etereamente num sono incomodado pelas dúbias irisões de alguém. Os pés dum homem sentado devorados pela luz, se a houvesse.

Mas quer o sono, quer a escuridão, almejam ser parte da sóbria forma. Em boa verdade, já o são. Seguindo por quaisquer recortes de sombra do acto, as definições dum carvão grosso gizam estes tubérculos saídos da terra a pontapé selvagem.

Postos numa cadeira, aparentemente, ou deitados. Rebolam ocos a precisar de amparo a muletas cinzentas. Que a cadeira tomba sempre num crepúsculo que se adiantou muitos anos; as muletas fizeram cair o coxo; e sono ingénuo, engravida em pesadelos de baixa estirpe.

Pois não há lugar para relaxar nesta sala de espera sem ser pontos interrogados até ao nulo, os pontos que sussurram deixas na casinha do teatro para o postiço Ajax.

Umas composições mal amanhadas, não obstante, que se lhe estivessem a definir a mentira, porventura seriam menos ousadas, menos rasas; pois aquilo que nos força está brincando com a omnipotência do momento para o qual nos espojamos. A mentira da anulação é o sossego das tropas que a querem.

Quando sobras frouxas a cabecearem nas injúrias, o descanso do fundo se complementa pela certeza de lata e pela sombra. Já nem adivinho porque me sentei, se estou no chão, acossado por leoninas manifestações votadas, espreitado por coveiros ansiosos de trabalho. Aqui é o lugar do sonho e do cadáver onde se atenua o ante-facto, e se abana compreensivamente a cabeça para ante-passado, mesmo que o presente, zombeteiro, se valide sem ajuda ou aceitação de cadeiras desocupadas.

Quando este repouso consiste numa ilusão de amanuense onde o próprio repouso nos faz estar sentados, para numa apatia violenta não nos dar a vontade de se levantarem pelo menos os braços, e se arregaçarem as mangas,

Cadeira caída para trás, sono perturbado, lençóis mexidos por um terror bêbado de altas horas

Para a vida, figurada, consistir assim na verdadeira tragédia do nosso pleno direito. Para o destino, manifesto de pé, corajoso pobre, encaixar e aprovar a necessidade da mentira amiga que lhe chega com descansos palpáveis e alheamentos de prostituta coroada...

Ao estar assim, herói de um Sófocles delirado, para negociar, no mínimo, com um aspecto de paixão que lhe custe, deveras.

2 comentários:

  1. sinto-me honrado por ter recebido felicitações por um insignificante poema meu - vindas do autor deste
    "qualidoso" trabalho literário. Não devolvo os parabéns, para não ficar privado deles, atrevo-me sim a enviar um bom abraço

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  2. ah, a poesia, já não consigo ser conciso quanto baste pare lhe prestar homenagem! Ao contrário dos poetas caio nesta prolixidade. mesmo assim obrigado, um abraço de volta...

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