Abriu a porta. Do lado de lá um sorriso deixava adivinhar boa gente.Abriu a janela para arejar a sala. Ofereceu a poltrona do avô. Pediu que se acomodasse enquanto ia à cozinha buscar chá quente do Himalaya. Aquelo rosto era familiar. Reconhecia em seu corpo, abrigo.
Todos as manhãs preparava um chá para quem pudesse aparecer no fim da tarde com frio. Anos a fio, bebeu o chá sozinha.
Sentada em frente à poltrona vazia, aquecia as mãos na chávena de chá. Olhava o vazio. Enrolada na manta, lembrava de nada. Não conheceu o dono da casa, seu avô. Inventou que a poltrona teria sido dele e respeitou essa propriedade sem nunca lá se sentar.
A despensa estava cheia de bolachas de canela e gengibre. Quando saía para as compras comprava sempre um pacote, não fosse a casa ficar cheia de gente e faltarem as bolachinhas na hora do chá. Abriu um pacote, esqueceu de verificar que a data de expiração já era de há cinco anos. Pouco importa a data agora. As bolachinhas velhas ainda estavam crocantes.
O tempo dita o limite da vida. É tão curto o tempo de agora. Já quase nascemos fora de prazo.
Da janela da cozinha sentiu a brisa fria do mar. As gaivotas anunciavam peixe morto na beira-mar. A noite estava próxima e corria o risco de passar a hora do chá.
Numa bandeja de prata colocou o bule herdado da casa, as chavenas brancas a lembrarem papel de arroz, um pratinho sem cor repleto de bolachinhas. Umas mais doces, outras picantes.
Ajoelhou-se delicadamente como se seu corpo tivesse perdido o peso. Serviu o chá. Ofereceu ao visitante uma bolacha fora de prazo.
Em frente, sentou-se. Abraçou com as mãos a sua chávena. Enrolou-se na manta velha da casa. Esperou.
Sorriu. Largou a vontade. Notou o cansaço. Sentou-se criança. Partiu.
Dizem que a morte aparece sem avisar.
Todos as manhãs preparava um chá para quem pudesse aparecer no fim da tarde com frio. Anos a fio, bebeu o chá sozinha.
Sentada em frente à poltrona vazia, aquecia as mãos na chávena de chá. Olhava o vazio. Enrolada na manta, lembrava de nada. Não conheceu o dono da casa, seu avô. Inventou que a poltrona teria sido dele e respeitou essa propriedade sem nunca lá se sentar.
A despensa estava cheia de bolachas de canela e gengibre. Quando saía para as compras comprava sempre um pacote, não fosse a casa ficar cheia de gente e faltarem as bolachinhas na hora do chá. Abriu um pacote, esqueceu de verificar que a data de expiração já era de há cinco anos. Pouco importa a data agora. As bolachinhas velhas ainda estavam crocantes.
O tempo dita o limite da vida. É tão curto o tempo de agora. Já quase nascemos fora de prazo.
Da janela da cozinha sentiu a brisa fria do mar. As gaivotas anunciavam peixe morto na beira-mar. A noite estava próxima e corria o risco de passar a hora do chá.
Numa bandeja de prata colocou o bule herdado da casa, as chavenas brancas a lembrarem papel de arroz, um pratinho sem cor repleto de bolachinhas. Umas mais doces, outras picantes.
Ajoelhou-se delicadamente como se seu corpo tivesse perdido o peso. Serviu o chá. Ofereceu ao visitante uma bolacha fora de prazo.
Em frente, sentou-se. Abraçou com as mãos a sua chávena. Enrolou-se na manta velha da casa. Esperou.
Sorriu. Largou a vontade. Notou o cansaço. Sentou-se criança. Partiu.
Dizem que a morte aparece sem avisar.
Vim por curiosidade. Adorei o texto é magnifico parabens.
ResponderEliminarMuito obrigada.
ResponderEliminarmais um escrito exemplar
ResponderEliminarbeijinho
(onde pára vídeo com seus poemas?)
apaguei o vídeo. senti-me ridícula.
ResponderEliminarPlatero, vou lançar meu livro de poesia no próximo dia 18, em Lisboa. Conto contigo?
Beijo
Nas mãos inábeis, porém com o inominável respeito e silêncio que as palavras em mim sussurram, caiu-me desta prosa serena (mas talvez não...) o poema que aqui devolvo, ousadamente, à fonte autora:
ResponderEliminar"Abriu a porta do lado de lá
enquanto ia buscar o Hima
laya - aquele rosto corpo,
anos a fio vazio: de nada.
Não conheceu, inventou,
sem nunca lá se sentar.
Inventou que teria sido, e respeitou.
Estava cheia, sentada na chávena.
Quando saía, comprava sempre,
não fosse faltar gente.
Esqueceu verificar: pouco
importa a data, o tempo dita.
É tão curto o agora.
Fora de prazo, corria o risco.
Ajoelhou-se, como se corpo tivesse.
Ofereceu prazo. Em frente, sentou-se.
Abraçou a chávena, manta da casa.
Largou a vontade criança.
Partiu.
Dizem que aparece."
(Gratidão no paladar: da loucura!)
só posso agradecer a sua generosidade! Obrigada, Oros.
ResponderEliminarnão vou mesmo estar
ResponderEliminarpreciso é de saber depois onde comprar.
ter apagado o vídeo foi uma atitude muito feia. Eu que já tanto o tinha recomendado. Nunca tinha ouvido coisa tão linda
beijo, sucesso pleno para dia 18
Obrigada, Platero. Nesta semana darei notícias do livro. O vídeo - desculpa-me.
ResponderEliminarEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarserás a convidada especial, Fausta.
ResponderEliminarEste comentário foi removido pelo autor.
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