Na minha terra, não há terra, há ruas;
mesmo as colinas são de prédios altos
com renda muito mais alta.
Na minha terra, não há árvores nem flores.
As flores, tão escassas, dos jardins mudam ao mês,
e a Câmara tem máquinas especializadas para desenraizar as árvores.
O cântico das aves - não há cânticos,
mas só canários de 3.º andar e papagaios de 5.º
E a música do vento é frio nos pardieiros.
Na minha terra, porém, não há pardieiros,
que são todos na Pérsia ou na China,
ou em países inefáveis.
A minha terra não é inefável.
A minha vida na terra é que é inefável.
Inefável é o que não pode ser dito.
Jorge de Sena, in Pedra Filosofal
Hortense César. (1974). Antologia Poética - 5. 1ª edição. Porto Editora
Terra sem aves, não existe!
ResponderEliminar"Inefável é o que não pode ser dito"...
ResponderEliminarNem pode ser lugar algum.
Na minha terra levantam-se as manhãs no bico dos pássaros e as árvores ajeitam os ramos para abrigar do frio os pássaro tontos.
Um sorriso (friorento) para os dois.
Brrrrrrrr!!!!
Ai sinhôres, que geadouro!
ResponderEliminarUma dica :)
Há terras onde os pássaros
entram nas gaiolas vazias...
Uma constatação...
Não ligaram peva à imagem, bolas!:)
Um abraço, para quebrar o frio deste frio sem gelo! Geada negra!
"A minha vida na terra é que é inefável" - diz o Sena.
ResponderEliminarQue diga, que eu digo também.
Eu – que não sou nem afável nem inefável, e padeço de certa meteorite que almas de mais susceptível "faustio" não apreciam lá muito – eu, eu digo com as filosofais tinturas do Sena:
Aqui, na minha terra,"não há cânticos, mas só canários de 3.º andar e papagaios de 5.º".
"Em países inefáveis" como este, orquestras de câmara autárquicas e desgovernos não muito pré-socráticos "têm máquinas especializadas para desenraizar[em] árvores" humanas. Mas não têm máquinas que desenraízem a “música do vento”.
Há-de mudar a câmara aqui, acolá e acoli - talvez ardente, ou nem tanto. E hão-de mudar aqueles que nos "mudam os jardins ao mês".
"Na minha terra, não há terra" pois tudo é inefável.
E "inefável é o que não pode ser dito".
Diz-se na mesma:
Na minha terra, há árvores, flores aves e jardins onde eu quiser.
Onde eu bem quiser!!
______
P.S.
A imagem também não me ligou pevide, R.
Estamos quites!
(Salve, irmão do gelo! Abraço aqui do Pestinha!!)
Pois percebo, irmão gelado, o que aqui tão bem acabaste de explanar, e vejo-me obrigado a decalar-me das tuas pisadas.
ResponderEliminarPego na tua interpretação? - não. É livre, tal como livre é a imagem que pevide não vale. Aí está a minha interpretação do poema.
O Eu, sim o Eu, o eu de olhos postos na pintura, só, nada mais.
Porque os olhos só vêem aquilo que querem ver, e o mesmo se passa com as palavras.
Qaundo folheias e lês um livro acredita que dele apenas retiras o que mais é esclarecido, e o mais que por dentro ilumina, ou obscurece, tanto dá; porque apenas se religam apenas as pérolas, já cascas se fecham pela lombada.
É isto que é mais gritante, quando se lê um livro com poemas lá dentro.
Agora, uma outra coisa é também certa; não é que este poema é o espelho da minha terra? Há coisas do diabo, seja lá o que for isso que por anteposição seja... sei lá.
Processos critativos, falemos disso, falemos do que não é para falar, com isso é que se aprende.
Aqui, neste cantinho, agora que ninguém nos ouve, posso agora falar do inefável...
Anos devotos passados à criação resumiram-se a esparsos e singelos momentos onde o tema abordado era falar do motivo, da faísca que leva ou induz a coisa alguma. Disso, tenho saudades, porque foram tão poucos que o tempo nem trabalho tem para os deletar. O tempo... inimigo fidagal da memória... O tempo... os dias, os meses, os anos... pim.
Acaso explícito se possa fazer notar, desabafo-me no frio, porque quentes se gelam as lágrimas... entrego-vo-lo-as, são nácar cristalino.
PS - saudades em ver-te por cá, irmão gelado. Serás sempre um vislumbre, um acaso corte passageiro traçado no céu em fino recorte luminoso, a menos que te quedes, por cá, por esta outra Terra, sólida como os astros, para que assim meteorito possas deixar que te admirem e comtemplem, tal como uma criança, na palma da sua mão.
(erro ao enviar... verificação de palavras, 'prensos')
Eu vou, meu irmão, e não fico... ando a adiá-lo, pois que na verdade nada há que nos prenda, a menos que seja uma inefável ou invisível prisão para os sentidos.
ResponderEliminarVoltarei amanhã
Abraços, destes braços.
Recebi esse abraço, aqueceu(me) em lume. Mas não me toldou o olhar.
ResponderEliminarPássaros amarelos de "paraísos artificiais" de atmosferas da terra inefável. De ruas, de casas, de fábricas... De tudo encaixotadinho para empacotar a Natureza e os pássaros que esqueceram o voo dentro de gaiolas vazias.
Os prédios que "fecham a vista à chave" não deixam ver, dos "canários" e dos "papagaios", outra coisa que o aprisionado olhar. Ainda que em grades deploráveis de sermos inefáveis...
Somos "canários" não por vivermos em "pardieiros" (des)construídos, mas por faltar à alma o sentido de ouvir o vento e os pássaros, na gaiola vazia.
As máquinas do des(governo) não destroem a Saudade dos cânticos de que tenhamos memória inefável... As árvores sobrevivem-nos.
Inefáveis seremos nós na Terra. Inefável, evidentemente, porque não pode ser dita.
Falemos da imagem... brrr! Tremem(me) as mãos na névoa ocre com que colores o inefável ar, os inefáveis telhados e tudo o que, por não pode ser dito, mas olha-nos em imagens...
O "Poeta da montanha" olha de cima dos telhados a inefável vizinhança das coisas... É artifício a arte, a imagem e as palavras, pertencem à categoria dos "pardieiros" da alma, inefável, ela mesma, e vazia...
P.S. Grande coisa para nada dizer! O inefável é onde o pássaro da imagem se fixou.
Há pássaros e há tudo: bruma amarela e geada negra, sem neve...
Abracinho, outro e, já agora, Sena não é "cena", embora (te) acene não do Sena, mas da Terra, porque quero.
P.S.2 Os meteritos são um espectáculo tão belo quanto o cume de uma montanha gelada. Ao cair na neve são "luz arrefecida".
Sorriso, Rui.
Prezada Dona Saudadite,
ResponderEliminarDeixando aqui os bons dias a rê-mê-fês e demais bichanos, sou a dizer que os "meterites" ficaram contentes. Por ter Vossa Obséquia gostado do ... "espéctáculo" - se bem que nem eu nem eles saibamos a que se refere.
Ficam, na mesma, as "saudadações" desta vossa insolência.
P.S.
Hoje gostei mais da imagem, caro r(ê)m(ê)f(ê) dos cubos de gelo!
Tem mais peva!
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarPronto... con-ge-lou!
ResponderEliminarIa oferecer-lhe um (com)gelado agora no Natal...
Assim fica sem efeito.
Só a mim é que ninguém me congela.
Bolas!
P.S
Mas, diga-me. É bom ficar congelado, minha boa Amiga?
Qual é assim a... sensação??!
Fico em pulgas para saber.
(Enquanto espero, vou pôr belos dois cubos de gelo no meu nariz, para ver se me melhora a diabinha da sinusite)
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarUma bi-nota:
ResponderEliminarFiquei
1. tremelicado de dúvidas, em se seja vossa eborosidade ou vossa prima afastidade que sofra de tal achaque agudo. Que maçada! Mas, se uma sofre do agudo, a outra deve certamente sofrer do grave. Para dar afino de acorde.
Fiquei
2. derrubado de gratidão com tal minúcia na explicação do que seja aquilo de congelar-se. Se bem que eu acho menos bem "com"-gelar-se do que "co"-gelar-se. Sempre se gela mais acompanhado. Mesmo que seja à distância dum blóguio.
Risada: entre o canário e o papagaio, do Sena.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarpor força do infortúnio, ausentei-me... é que isto não anda nada bem, sobretudo até para despender de verba, entenda-se pilim, para a comunicação por esta via, já que disse que voltaria no dia seguinte. volto agora só mesmo para vos endereçar um abraço e desejar-vos bom natal.
ResponderEliminarNão consegui ler, obviamente, os comentários apagados, dá-me ideia que faziam parte de um diálogo, que espero ter sido positivo.
à Anaedera, existe sim. minha boa amiga. Uma saudação especial aos habitantes desse planeta.
bem-hajam