sábado, 18 de dezembro de 2010

meu cântico de Natal (não aconselhável a católicos sensíveis)


NATAL -

pobre menino Jesus
sobre as palhinhas deitado
não fui eu que lá O pus
se fosse eu tinha cuidado

de O proteger do mau tempo
com luvas e agasalhos
um gorrinho contra o vento
uma manta de retalhos

se fosse eu tinha cuidado
de acender-lhe um lume perto
eu próprio tinha ficado
a vigiá-lO - desperto

bem lhe tinha preparado
leite quente e chocolate
e às colherinhas lhe dado
evitando o disparate

do excesso que faz bolçar
crianças da sua idade
de costas ter que O voltar
bater-lhe com suavidade

até o pobre arrotar
ou bolçar mesmo que pouco
e eu a ficar meio-louco
sem saber como O tratar

uma gemada lhe faria
com dois ovos da vizinha
e uma canja de galinha
que lhe desse a substância
que requer qualquer criança
acabada de nascer

pediria ao S. José
que fosse a Belém a pé
e lhe trouxesse farinha
Nestlé - ou sendo caro,
um pacotinho de Amparo
ou mesmo da 33

que eu tinha visto uma vez
deste produto um preparo
para alimentar um indez
e não era caso raro
entre o povo português

e S. José preparou-se
num instante e foi e trouxe
o que eu lhe tinha pedido
que dinheiro ainda tinha
dos tempos de carpinteiro

que o fisco - não como cá -
lho não levou por inteiro

assim eu teria feito
ao meu menino Jesus
e já quando homem adulto
lhe daria por conselho
que não aceitasse o insulto
de o pregarem numa cruz

outro foi o seu caminho
e há quem vá à Igreja
admirar suas chagas
chorando lágrimas vagas
pelo seu pobre Jesus

não fui eu que lá O pus
sou contra a história da cruz
só sei dizer: coitadinho

com este frio - coitadinho

3 comentários:

  1. Tão de ternura e zelo e cuidado tratado, o "teu" Menino Jesus. Senti o agasalho do seu cobertor no meu peito tão de pertença ao mundo vizinho do cuidado maternal.
    Bom Natal, Platero, meu Amigo!

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  2. imperdoável não falar na mãe do pequerrucho.
    não imaginas como eu gosto de crianças. Este, com um dia apenas, seria logo tratado a canja de galinha.

    vai para ti uma quadra - mais quaresmal do que natalícia - feita também hoje
    :

    foi na cruz que morreu Cristo
    entre dores e agonias
    eu morro desde que existo
    sem sofrer - todos os dias

    fica então, com um beijinho, como prenda de Natal

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  3. Pois é, Platero, gosto que me ofereças quadras pelo Natal, mesmo que sejam da quaresma ou do carnaval.

    Sem sofrer é que a gente se entende!:)

    Vou responder-te à maneira do “Obscuro” (do qual tenho saudades) e do seu irmão, “alma do obscuro” de saudosa memória:

    Foi na Serpente Emplumada
    Entre vozes e trovejos
    Que eu trouxe o céu e a terra
    P´ra te “rebentar” com bêjos.

    (De sotaque alentejano)
    Sorrisos, Platerito!

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