quarta-feira, 20 de outubro de 2010

-gritos-




Derrubei a paisagem inexplicável da mentira,
Derrubei os gestos sem luz e os dias impotentes.
Lancei por terra os propósitos lidos e ouvidos.
Ponho-me a gritar,
Todos falavam demasiado baixo,
falavam e escreviam,
Demasiado baixo

Arrebato à morte essa visão da vida
Que lhe destinava um lugar…

Com um grito,

Tantas coisas desapareceram
Que nunca mais voltará a desaparecer,
Nada do que merece viver

Canta debaixo das portas frias
Sob armaduras opostas,
Ardem no meu coração as estações,
As estações dos homens os seus astros
Trémulos de tão semelhantes serem.

E o meu grito nu sobe um degrau
Da escadaria imensa da alegria.
E esse fogo nu que me pesa
Torna a minha força suave e dura.

Eis aqui o lugar generoso
Onde só dormem os que sonham.

O tempo está bom, gritemos com mais força
Para que os sonhadores durmam melhor
Envoltos em palavras
Que põem o bom tempo nos meus olhos

A felicidade jorra do meu grito
Para a mais alta busca,
Um grito de que o meu seja o eco.


excerto de Grito, Paul Éluard (Eugène Grindel)

4 comentários:

  1. "Eis aqui o lugar generoso
    Onde só dormem os que sonham", "Com um grito"


    Une Image Revient À Qui L'a Mise Au Monde

    "Elle rêve et de qui rêve-t-elle de moi
    Dans le draps de ses yeux qui rêve sinon moi

    Dans ses yeux la durée s'accroche à l'être humain
    Mon règne dans ses yeux s'accorde à tous les règnes

    Le monde est sus la table des métamorphoses."

    Éluard, Paul. 1968. Oevres Complètes - vol.oo. Éditions Gallimard. p.264

    Belíssimo grito suportado por não menos belíssima fotografia. Bons ares que giram-ao-sol! :)

    Abraço fraterno

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  2. às vezes apetece gritar!
    principalmente quando se está sem
    voz...
    Bjs

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