Publicamos o início do texto de António Telmo que saiu primeiro nos Cadernos de Filosofia Extravagante e que sairá integralmente no nº2 da Cultura Entre Culturas:
"René Guénon nunca fala dos portugueses, mas, como muitos outros textos seus, este, que recolhi do seu famoso livro O Rei do Mundo, está intimamente ligado connosco. No âmbito do que me propus tratar neste primeiro caderno de filosofia livre, abre caminhos insuspeitados no sentido de determinar a verdadeira identidade de Luís de Camões.
É assim como se segue:
“Na Idade Média havia uma expressão, na qual os dois aspectos medulares da autoridade (régia e sacerdotal) se encontravam reunidos de uma maneira digna de nota. Nessa época falava-se muitas vezes de uma região misteriosa a que se chamava “o Reino do Preste João”. Era no tempo em que o que se poderia designar como a “cobertura exterior” do Centro Supremo era formado numa boa parte pelos Nestorianos (ou o que se convencionou chamar assim com razão ou sem ela) e os Sabeus. E eram estes, precisamente, que davam a si mesmos o nome de “Mendayyeh de Yahia, isto é, “discípulos de João”.”
Em nota ao que vem dizendo, o ilustre francês informa que “se encontraram na Ásia Central e particularmente na região do Turquestão, cruzes nestorianas que, como forma, são exactamente semelhantes às cruzes da cavalaria”
Mais adiante, esclarece o que deixou atrás: “Para que ninguém se admire da expressão “cobertura exterior” que viemos de empregar, deve ter-se em atenção, efectivamente, que a iniciação cavaleiresca era essencialmente uma iniciação de Kshatriyas (Guerreiros), o que explica, entre outras coisas, o papel preponderante que aí representa o simbolismo do amor.”
Começa já a desenhar-se a figura guerreira do poeta de Amor Luís de Camões. Esta relação com o texto não terá nada de surpreendente quando nos lembrarmos que os nestorianos na Ásia eram os cristãos de São Tomé, de São Tomé a quem o poeta dedicou nada menos do que doze estrofes d’Os Lusíadas.
Estas doze estrofes que aparecem como que engastadas no curso do Canto X todo ele em grande parte tratando de geografia, narram a vida, os milagres e a morte do apóstolo na Índia. Ainda mais estranho é o modo como Camões faz a exaltação do Santo ao referi-lo como “o núncio de Cristo “verdadeiro”. Não sabemos, dada a índole da sintaxe portuguesa, se o adjectivo se refere a núncio ou a Cristo. Se a núncio, então distingue-o como verdadeiro entre os outros; se a Cristo, então deve supor-se a existência de falsos Cristos. O último verso das doze estrofes é como uma luz que ilumina todo o relato: “Mas deixemos esta matéria perigosa.”
Perigosa porquê? Por dizer que Tomé era o núncio de Cristo verdadeiro? Por dizer também que são seus os lusitanos?
Temos de perscrutar mais fundo"
quando os padres nos ensinarem as vias tântricas, voltarei a frequentar a missa pois não é o cristianismo a religião do amor?
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