segunda-feira, 19 de julho de 2010

-voo-




Fui rocha em tempo e fui no mundo antigo,
tronco ou ramo na incógnita floresta...
Onda espumei,
quebrando-me na aresta do granito,
antiquíssimo inimigo...

Rugi, fera talvez,
buscando abrigo
na caverna que ensombra urze e giesta;
O monstro primitivo,
ergui a testa no limoso paúl,
glauco pascigo...

Hoje sou homem e na sombra enorme
Vejo, a meus pés,
a escada multiforme,
que desce em espirais,
da imensidade...

Interrogo o infinito e às vezes choro...
Mas estendendo as mãos no vácuo,
adoro,

E aspiro unicamente à liberdade.


Antero de Quental, Evolução

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