sábado, 3 de julho de 2010


Como és bela, aldeia, na alvorada! Toda a vida parece estar sobre o poder de um grande feiticeiro que lhe lançou um encanto de torpor. Tudo está adormecido neste instante antes do amanhecer. A orquestra de insectos que durante a noite embala o nosso sonho, neste momento sossega também. Então dá-se algo de maravilhoso. O céu começa a clarear, as estrelas ainda brilham, lá no alto, assim como a lua sorridente e lá ao fundo, no nadir, aparecem os primeiros raios de Sol. A bruma dissipa-se e a vida parece regressar com toda a força criadora. Os pássaros soltam os seus maviosos trinados, o galo canta, ouve-se um burburinho vindo de todas as direcções. O homem, que não é diferente dos outros animais desperta também para retomar os seus afazeres. Vida! Vida por todo o lado! As formas vão aparecendo, os objectos vão tomando os seus lugares e tudo está a postos para participar na grande melodia universal.
São horas de ir para os campos, é o tempo do milho e das batatas. Atrelam-se os cavalos às carroças, prepara-se a alfaia. Os cães estão irrequietos, mordem-se e fazem correrias loucas. Está tudo pronto para um dia de colheita, claro, depois dos estômagos reconfortados! O trabalho de um Verão inteiro dá agora os seus frutos, estamos no tempo de recolhe-los. Seguimos, então, o caminho. O sol ainda se esconde atrás dos montes. Apesar de estarmos em Agosto, o ar da manhã é gélido e no vale a bruma ainda não deslizou completamente para o rio. A brisa é fresca e perfumada. Tudo anuncia um óptimo dia de sol!
Chegados à lavoura a alfaia é descarregada, pois o teu trabalho, cavalinho, ainda não terminou. Agora vais lavrar a terra, tirar das suas entranhas as batatinhas. O avô tira a égua da carroça e coloca-lhe a charrua que irá penetrar a terra. É então que se dá o milagre: a terra revira-se e dela saem inúmeras batatas, grandes e roliças! O trabalho vingou, o trabalhador foi compensado. É um regalo! A mão do semeador saiu a semear e agora o fruto vem reclamar.

Ora et labora!

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