segunda-feira, 21 de junho de 2010

Poema para Saramago















Os cães de fila do Senhor

ainda uivam

sempre que alguém voa

acima da fé cega

e do amor à dor e ao sacrifício

o Santo Ofício que nunca foi santo

hoje tem blogues e jornais online

já não quebra ossos

nem rompe maxilares

para abrir os impenitentes

à verdade da confissão

para os que andam de pé

a fé é mais que moralismo inclemente

é poder ver sem barreiras

a grandeza dos humanos

para lá das fronteiras

e dos vários enganos com que se impede a vida

de ser perfeita

não precisa de absolvição

quem se recusa servir a Deus

com tanta criança a morrer de fome

quanto vale um cálice de ouro

trocado por leite e pão?

Quantos brocados e barretes doirados

poderiam ser trocados por vacinas

e preservativos?

Que a terra seja cada vez mais de homens e mulheres inteiros

uma terra de compaixão e de respeito por todos os que vivem

uma terra resgatada de prantos

aberta ao futuro

semeada de esperança



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P.S.: De cavaquices não falo no poema, porque mesmo em poesia pequena não cabe a imbecilidade.

3 comentários:

  1. Levantam-se do chão da mensagem as perguntas-folhas implacáveis que cada vez mais se afastam da continuada e impotente vontade que se esconde de uma árvore em cada resposta; visar a solução que sustente um equilíbrio que finde de vez com a infâmia da desigualdade é, por sinal, alcançar um ramo, dirigir a agulha magnética para um estado de criação e daí ver nascer a flor do fruto que todo-o-bem presentifica.

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