terça-feira, 11 de maio de 2010

Escrevo-te com a ternura de uma criança ao nascer
com a mesma intensidade de um tronco a furar a terra

Escrevo-te porque estou de regresso
deixo para trás os silêncios apunhalados
assim como a escrivaninha que era meu leito preferido

Se diluíres as sete luas a guache e carvão
encontrarás meu cadastro em pequenos versos
sem que no poema se note uma mancha de sangue

Escrevo-te com um olho aberto e outro fechado
na esperança de inventar uma raça à prova de tristeza
trabalhando a terra
de onde emergirá a Primavera
tão lúcido quanto a loucura iluminada

Alcançar assim desse jeito uma braçada de estrelas
a aproximação dos nossos corpos esquecidos
que a seu tempo lhes darei o pão e o ensinamento das palavras

Por saber que Grande poema é a noite e o mar que me detém
escrevo-te
Ainda que o meu sangue esteja cego e gasto.

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